13.5.10

O silêncio pressentido

Vincenzo Balocchi

O vento da tarde entra pelas casas sem convite
e enreda nos vidros o excessivo horizonte do mundo.
Em paredes ásperas deixamos escorregar
o silêncio pressentido no clamor do olhar
quando o verão se anuncia com suas farpas de fogo.
Ao redor de tudo, as casas permanecem
encerradas à insistência do sol.
Dentro delas podemos imaginar as mulheres
curvadas sobre os filhos abrindo as blusas
para que o leite e o sangue afugentem
a morte rente às bocas.


Graça Pires
De O silêncio: lugar habitado, 2009

52 comentários:

Paula Raposo disse...

Gosto muito deste poema! A foto está genial.
Obrigada pela partilha. Beijos.

~*Rebeca*~ disse...

Lendo seu poema fiquei emocionada. Lembrei do meu filho pequeno e de como é mágico poder amamentar.

Leite é sangue e sangue é vida.

Que lindo, menina linda.

Beijo imenso.

Rebeca

-

São disse...

O poema é espantoso e a foto uma beleza.

Obrigada por este momento agradável no dia em que o Governo nos amargurou ainda mais a vida!

Bem hajas!

José Manuel Vilhena disse...

:)
obrigado.

Gisela Rosa disse...

"o vento da tarde" pode (trans)formar-se no vento da manhã....


Lindo poema Graça, de silêncios e cumplicidades um beijinho enorme Gisela

Tania Anjos disse...

Graça Pires,
que lindo e forte poema...

Fez-me lembrar a seca cruel dos sertões nordestinos, aqui no Brasil:

"...o silêncio pressentido no clamor do olhar
quando o verão se anuncia com suas farpas de fogo."

Bravo!

Um beijo!

sonho disse...

E quando se amamenta...é se feliz...
Beijo d'anjo

Maria Clarinda disse...

Não tenho andado por aqui...hoje voltei para te visitar, tinha saudades de te ler...
Lindo o poema...linda a foto.
Jhs de carinho mtos

Luis Eme disse...

é sempre bom imaginar...

e tu és boa a imaginar e a fabricar situações poéticas...

abraço Graça

Aníbal Duarte Raposo disse...

Olá Graça,

Estou retribuindo a visita ao meu blog.

Agradeço-te por partilhares este belo poema.

Beijos

Marta Vinhais disse...

O vento....não é fácil lidar com ele....
Atreve-se a tantas coisas.....mas fica perturbado pelo silêncio pesado....
Bonito poema...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

segredo disse...

O teu poema leva nos a ver tipo rx o k tao bem descreves!
Beijinho de lua*.*

Anónimo disse...

é um dos que mais gosto do seu livro, graça. um beijinho grande*

manuela baptista disse...

eu também entro sem convite
como o vento...

este é um poema pressentido
como o silêncio

e belo!

um beijo, Graça

Manuela

Anónimo disse...

Tardes de invernos
parecem feitas de saudades
Um sol avermelhado
Quase frio...
Um brilho distante,
Um arrepio.
Um canto
Misterioso
Quase sem assovio
Onde os raios se perdem
em nuvens azuis
até no horizonte
sumirem.

(Sirlei L. Passolongo)

Uma noite de amor e paz.......Beijos!!

Gabriela Rocha Martins disse...

excelente este teu ser poema.....





.
um beijo

dade amorim disse...

Um poema que vai além do olhar e abrange o mundo.

Beijo, Graça.

Fernando Campanella disse...

Em silêncio e recolhimento, o universo trama o mais absoluto florescimento. Linda a imagem da mãe eterna nutrindo a vida.
Grande abraço, minha querida amiga.

CamilaSB disse...

Gostei muito da fotografia...do aconchego que se adivinha na delicadeza das flores, que suaviza a dureza das pedras...
Parabéns pelo belo poema, de grande sensibilidade! BJS!

NAMIBIANO FERREIRA disse...

Obrigado pelas palavras que deixou na minha Ondjira.
Kandandu

Anónimo disse...

São silêncios cheios de vida... com este grau de imagem poética que o poema têm a foto potencia e desvia-nos para outras leituras... uma forma de enriquecer o poema.

Gostei imenso.

Bjs.

Benó disse...

Bonito poema que nos mostra uma realidade ainda presente.
Um abraço, Graça.

Braulio Pereira disse...

lindo poema

esse vento..

dá-me vida

poesia.

querida..

doce sinfonia..


beijos...

Úrsula Avner disse...

Oi Graça, quanta beleza e sensibilidade em seus versos... Aprecio muito sua escrrita poética. Bj com carinho.

isabel mendes ferreira disse...

nunca silêncio em quem assim se eleva rente ao maior!



aquele abraço.

Mofina disse...

Tanta ternura!...

Beijo

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

o vento da tarde
entra nas casas
feitas de pedra
a pedra guarda o vento
e
de manhã o sol
aquece as casas
e
as almas!

belo poema Graça e a foto lindissima!

beij

Adriana Riess Karnal disse...

e ainda assim, o vento entra pela casa...denso,Graça.

Unknown disse...

No dorso deste vento que as casas da minha memória abocanham me refugio do sol de agosto e criança mamando vejo os desenhos de sombra nas paredes da casa mágica de pedra testemunha dos silêncios ...
-----------------
Abraço.

partilha de silêncios disse...

Gostei muito deste poema que nos transporta para o interior, mesmo olhando de fora. A foto é muito forte !

um beijo

teresa p. disse...

"...o silêncio pressentido no clamor do olhar..."
Um poema com uma forte carga de humanidade e ternura!
A foto é linda, transmite luz e silêncio...
Beijo.

~*Rebeca*~ disse...

Coisas assim me deixam leve...

Singela inspiração:

http://www.flickr.com/photos/chuazinha/sets/72157622436693602/show/with/3946811028/

Que seu começo de semana seja de luz, menina linda.

Rebeca

-

maré disse...

não é possível desabitar o corpo das mães.
neles, está o excessivo clamor do mundo que lhes navega o leite.
curvadas, sobre o futuro dos filhos, como quem abre a ternura, contra a insistência do vento.


_____

lentamente tudo voltará ao normal.
um grande e saudoso beijo querida Graça

Parapeito disse...

adorei ler este Milagre...
Dias cheios de brisas doces *********

maría nefeli disse...

O silêncio sempre é pressentido...
muito belo o poema...como o livro todo..
um beijo

luis lourenço disse...

Belo e de alta qualidade como é seu timbre.

beijinho,

Véu de Maya.

Licínia Quitério disse...

Um poema de violência e, contudo, de inocência: o leite e o sangue. Magnífico!

Um beijo, Graça.

Daniel Hiver disse...

Graça, a vinda hoje aqui em tua casa é com intuito de te agradecer por sua recente visita ao meu blog. Todo comentário seu, todo elogio, e até as "confissões" vindas de ti, são um verdadeiro motivo de orgulho. Obrigado!

Quanto a tua constatação de que o vento da tarde sempre entra pelas casas sem convite e enreda nos vidros limpos o excessivo horizonte do mundo, o que posso dizer? Que essa é a mais pura verdade.
As vezes temos dentro de nós farpas de fogo que anunciam uma próxima estação... e nos enveredamos, e escorregamos e escorremos por lisas e frias paredes de vidro clamando por amor.
Pode não ter sido esse o sentido original das tuas palavras... mas elas me desencadearam muitas outras coisas e sensações diferentes. E por isso é bom ler. Ler sempre.
Uma boa semana!

dona tela disse...

O TEMPO PASSA, NÃO É?

Virgínia do Carmo disse...

Comovente silêncio a verter significados dolorosos...

Abraço

Jaime A. disse...

"O vento da tarde entra pelas casas sem convite
e enreda nos vidros o excessivo horizonte do mundo."
Sim, o vento traz-nos o mundo e tanto mais! Gostava que este silêncio pressentido me abalroasse em gestos trémulos, incidentes...

Manuel Veiga disse...

Mulheres de Atenas. ardendo em "farpas de fogo"...

... e a eterna dávida. de leite e sangue.

belíssimo.

beijo

Isabel disse...

e "aterrei" mesmo agora no "LUGAR HABITADO"______________
vou beber toda esta caligrafia. vou.
vou comer este galope. vou.


rendo-me.


(obrigada. muito. )

beijo com abraço.
_____________________

GRAçAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa....



(imf)

ausenda hilário disse...

O silêncio que mata a fome, que nos mata a fome do poema e nos dá colo!


Abraço

Anónimo disse...

" Um amigo é alguém que sabe a
canção que toca no teu coração,
e que pode cantá-la quando tiveres
esquecido a letra "


Beijos de coração prá coração!

Jamour disse...

Muito escrito. PARABENS

Maria Clarinda disse...

Um beijo de carinho e ternura.

Nilson Barcelli disse...

Adoro a forma como fazes os teus poemas, para além dos conteúdos, sempre muito bem escolhidos.
Leio-os vezes sem conta e aprendo sempre contigo. Espero que não te importes...
Neste teu excelente poema estão todos os ingredientes que me fascinam...
Querida amiga, bom resto de semana.
Beijo.

Beta disse...

Muito belo!

© Maria Manuel disse...

belo e realista, esta incursão no quotidiano das mulheres que matam a fome de seus filhos e os protegem dentro de casa da intensidade do calor.
sempre atenta à vida, um beijo grande.

tb disse...

Belísssimo!

Jaime A. disse...

Nem preciso fechar os olhos para "ver" este cenário, esta montagem dramática. Magnífico!