18.8.10

Adormecemos com sede



As águas baixaram.
Amainada a maré vieram as gaivotas
poisar-nos na janela.
O brilho inesperado dos barcos
e das dunas doía no olhar.
De olhos fechados, ainda assim,
nos perturbava a clareira de bruma
que alastrava do mar.
As gaivotas, essas, traziam nas pupilas
um rebentar de ondas que nos ensurdecia.
Ao anoitecer jantámos em silêncio
e adormecemos com sede.


Graça Pires
De O silêncio: lugar habitado, 2009

39 comentários:

hfm disse...

Quando a sede deixa aberta todas as portas. Belíssimo.

Braulio Pereira disse...

sede das sedes.

amo o silencio...



beijos!!

Ana Oliveira disse...

Um rebentar de ondas que me matou a sede, a mim, que não as vejo nos olhos das gaivotas.

Obrigada

Bjs

Paula Raposo disse...

Todas as palavras no lugar certo...beijos.

AC disse...

Poesia inquieta, mas plena de beleza.

Beijo :)

Ana Lucia Franco disse...

Graça, de olhos fechados as brumas de nossos mares internos se alastram. Teu poema é para ser lido, relido e reverenciado. É muito belo.

bj

☆Fanny☆ disse...

Lindo este teu voo de palavras. A tua escrita é enigmática :-)

Beijinho*

Pena disse...

Sublime Poetiza Amiga:
O mar. As gaivotas. As ondas.
Um poema de causar delícia e pureza bela.
Parabéns.
Tem uma sensibilidade poética fabulosa que já é do conhecimento de todos.
É excelente!
Beijinhos amigos de encanto pelo que significa na imensa Blogosfera. Um valor precioso de ouro dos seus fabulosos versos.
Sempre a admirá-la

pena

Um poema divinal saído da sua ternura. Perfeito.
Bem-Haja, notável poetiza.
Adorei.

João Norte disse...

Muito bonito este texto meio prosa meio poesia. Ou talvez prosa poética.

Daniel Hiver disse...

Graça... quando minhas águas baixam, me aparecem gaivotas em tão grande número que quase acredito que o dia vai ser lindo... Mas passam as horas. Cessa o brilho das velas brancas dos barcos; o olhar cansa e se fecha automaticamente. Aí descubro que a alegria se diluiu e que, no meu caso, não é só jantar em silêncio; mas sim ter de ir dormir vazio e com sede e muita fome.

Marta Vinhais disse...

Também gosto de gaivotas..
E quando me sinto sozinho, procuro companhia no mar...
Obrigada...
Beijos e abraços
Marta

Úrsula Avner disse...

Oi Graça,

é sempre revigorante ler o que você escreve pois aqui se encontra a poesia. Bj com carinho.

manuela baptista disse...

dá-me assim um frio

de gaivota poisada na janela
à espera da palavra que não chega

ao jantar

e bebemos tanta
a água do mar!

e este poema

é uma maré-baixa tão cheia de maré

que jantar em silêncio
é uma benção

para o ler em cada molécula e inventar 7 pratos e 5 sobremesas...


gostei muito, Graça!

um beijo

Manuela

AFRICA EM POESIA disse...

GRAÇA PIRES


Um sorriso e um beijo

Volta sempre

avlisjota disse...

Olá Graça

Lindo este poema, nele vejo uma aguarela de palavras, repleta de luz e cor.
Gosto destes dias, destes crepúsculos...

Bjs

José

livia soares disse...

Pois você está sempre a deixar-nos com sede... de mais e mais poesia, especialmente a sua própria.
Um abraço.

Fernando Campanella disse...

Uma narração poética, onde a tônica são os sentimentos que ensurdecemos, as perdas, a falta... pensamos nos bastar o dia, mas dormimos com sede.
Belo poema, minha querida amiga. Bjos de teu amigo do Brasil.

Anónimo disse...

Nem imagino como é saber ler as meninas dos olhos das aves.

Beijos de admiração!

segredo disse...

O silencio acalma, medita, conforta... As gaivotas um simbolo da liberdade!

Beijinho de lua*.*

~*Rebeca*~ disse...

Sede de ler mais poesia nessa maré de sensibilidade.

Beijo imenso, menina linda.

Rebeca

-

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

a sede de tantas coisas.

um poema muito belo, assim como a foto escolhida.

bom final de semana!

beij

vieira calado disse...

Um poema sóbrio

enxuto,

do quotidiano...

Beijocas

Luis Eme disse...

bonito e salgado...

abraço Graça

Licínia Quitério disse...

Sedes de quietude, de paisagens amenas, de silêncios inteiros. Lindo e inquietante poema, Graça. Obrigada.

José Leite disse...

As gaivotas e o mar sempre no topo da inspiração!

Simples mas uma belíssima gota de orvalho poético!!!

De Amor e de Terra disse...

...e de quanta sede se fala, tanta vez, ainda que se adormeça junto,e
mesmo quando as gaivotas não trazem ondas nos olhos!...

Bj.
Maria Mamede

teresa p. disse...

Há silêncios que nos inquietam e deixam uma enorme sede...
Lindo o poema e também a foto!
Beijo.

José Manuel Vilhena disse...

um haiku apenas um pouco maior do que o habitual...e belo!
:)

Vivian disse...

...aqui,
neste teu canto poético,
matam-se todas as sedes
de belas poesias.

bjs do Brasil

Saozita disse...

Graça, lindo poema, lindo o que escreves! O dia por si só, não se basta, não chega para saciar nossa sede!

Tem uma bela semana.
Bjs

Sãozita

Mofina disse...

E que sede de gaivotas e de mar!
Tanta, tanta, tanta...

Manuel Veiga disse...

sede de saciar as bocas...

belíssimo.

beijos

Anónimo disse...

Me encanta a simplicidade dos teus versos, a beleza acometida da singeleza, assim são teus poemas, semelhantes as gaivotas! Beijo!

cristinasiqueira disse...

Belo olhar que diz o que se vai na alma.
A sede...

Com admiração,

Cris


Postei SONHOS www.cristinasiqueira.blogspot.com

Menina Marota disse...

Um livro Mágico que li de um fôlego!

Muito grata pelo privilégio de me dar a ler toda a sua sensibilidade, Graça!

Um grande Abraço cheio de carinho

Unknown disse...

Poema melancolicamente belo. Com solidão e cumplicidade das gaivotas no beiral da janela. Sede de quê?, não se consegue saber, por causa do barulho do mar. E não se vê, por causa da bruma e do fechamento do olhar. Um beijo, Graça.

Nilson Barcelli disse...

Quando vou embora também fico com sede das tuas palavras.
Excelente, como é teu hábito...
Beijos, querida amiga.

Parapeito disse...

:) Como escreveu Torga ...é " matar a sede...com água salgada"
Lindo Graça
Brisas frescas para si****

tb disse...

Belíssimo!
abraços de água corrente