27.8.14

Em seara alheia




11.

neste silêncio em que te rezo. guerreira de um cântico sem tréguas. mendiga da luz.
entrego-te a palavra assim simplesmente. simplesmente a recorrência de um silêncio a que nos entrego. profeta e veneno mel sumptuoso. tudo o que é voraz e ao mesmo tempo quieto. tão quieto
que pode ser dádiva. uma e outra vez. todas em que seremos chão.

Isabel Mendes Ferreira
In: O tempo é renda. Lisboa: Labirinto de Letras, 2014, p. 028

30 comentários:

Graça Pires disse...

Este livro de Isabel Mendes Ferreira “O tempo é renda” contém uma poesia muito intensa onde tudo se conjuga para fascinar os leitores e mostrar a enorme e admirável fonte de palavras que a linguagem nos oferece.
A autora “errante e peregrina de toda a linguagem” (p. 183) tem com a palavra poética uma intimidade corpórea.
Eu, remetida ao indizível socorro-me de um excerto do texto do poeta Casimiro de Brito (p.011), que diz o que eu gostaria de dizer sobre o livro da Isabel:
“Neste livro dança-se com o lume e com as águas nascentes. É o fulgor, a música do prazer e do sofrimento numa “narrativa sem dor” – só canto! O amor, que sempre se levanta em queda! Uma epifania! Um canto-pranto de que jamais nos libertamos. Renda, viagem flutuando entre o pó e as estrelas, entre as estrelas e o mar. […].
Parabéns, Isabel!
Um beijo.

Rita Freitas disse...

Lindo!!

Obrigado por partilhar.

bjs

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

a Isabel tem uma maneira muito peculiar e bela de escrever....

:)

Teresa Durães disse...

Não li, mas por aquilo que agora li, gostei bastante. A Isabel navega num vento diferente

Daniel Costa disse...

Graça Pires

Presumo que o texto é da obra. O linguajar nos prende, prende muito a atenção.

Beijos

Shirley Brunelli disse...

Para ler e pensar...
Gostei!
Graça, um beijo!

Lídia Borges disse...


Obrigada, Graça, pela divulgação.

Ninguém pode sair daqui "intocado". Vou procurar!

Beijinho

Lídia

Unknown disse...

Gracitamiga

Muito obrigado por me dares a conhecer a Isabel Mendes Ferreira. Logo que puder (e tiver ma$$a$) vou comprar O tempo é renda pois abriste-me o apetite...

A arrumação das palavras e das frases não é "desarrumada", longe disso. Mas é para mim (quase) inédita, de acordo com o texto que transcreves.

Qjs

São disse...

Quem escreve assim, não é mendiga da luz...


Abraço para vós, generosa Graça!

Mar Arável disse...

A nossa Isabel

sempre

Ailime disse...

Boa tarde Graça, um poema com muito, muito para reflectir!
Muito obrigada por partilhar!
Beijinhos,
Ailime

Marta Vinhais disse...

E deixa que a palavra fale...
Obrigada pela partilha...
Cara Graça, obrigada pela visita; cheguei hoje de férias.
Beijos e abraços
Marta

vida entre margens disse...

Que bonita homenagem Graça! Grata por nos dar a conhecer.
Agradeço também a leitura e comentário ao meu desabafo no blogue.
Tenho andado afastada por desmotivação e falta de inspiração. Voltarei sempre que puder, a este bonito lugar de partilha, onde a poesia se sente em toda a sua plenitude...

Beijinho de gratidão...:)

LuísM Castanheira disse...



Obrigado pela partilha desta belíssima «oração»

Nada melhor que esta introdução em "seara alheia" para despertar o sentido e a paixão

Vou procurar...e a alma alimentar

Ives disse...

Olá grande poetiza! O chão é silencioso e cheio de firmeza! lindo, abraços

DE-PROPOSITO disse...

neste silêncio em que te rezo.
-----------
No silêncio dizemos muitas coisas. E também podemos fazer as nossas preces.
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Que a felicidade ande por aí.
MANUEL

author casulo-online disse...

Bacana conhecer, adoro essas searas,

beijo!

teresa p. disse...

Um texto fascinante!
Obrigada Graça por o trazeres a esta "seara" e parabéns à Isabel Ferreira Mendes pelo seu novo livro.
Beijo

Cadinho RoCo disse...

Da palavra o sentir inquietado pelo querer.
Cadinho RoCo

helia disse...

Muito bonito !
Obrigada pela partilha .

Agostinho disse...

O que a Graça aqui fez é lindo e cristalino: a passagem de testemunho, numa estafeta que não tem fim: a poesia. Linguagem perfeita a da poeta Isabel Mendes Ferreira; exprime, ela própria, a passagem: “entrego-te a palavra” numa “recorrência de um silêncio a que nos entrego” propiciadora dos estados de contraste absoluto – “profeta e veneno mel” e “voraz e… quieto” - da “dádiva” a quem sabe dar e receber.

Deixou-me desperto e procurarei perceber "O tempo é renda". Obrigado.

José María Souza Costa disse...

Olá, Graça Pires, tudo bem ?
Nesta tarde meio sol, meio cinza, de sábado aqui em Sampa, aproveito para te desejar, um fim de semana agradável. Cada um, dentro do seu proporcional tempo. Mas, não podemos esquecer, que é o Criador, o regente dos nossos sonhos e inspirações. Portanto, nesse caminhar de vontades, o que não aconteceu no dia de hoje, é por que, só realizar-se, em um tempo determinado. E todo tempo é tempo, desde que o Pai Eterno, assim, nos conceda.
Paz e Luz
Abraços.

Pérola disse...

Já disseste tudo.

Uma poesia que se toma dum trago.

Beijo


Benó disse...

Não conheço a obra de Isabel Mendes Ferreira "errante e peregrina de toda a linguagem". Obrigada pela divulgação.

Ana Tapadas disse...

Ah...é tão belo! Excelente recorte, minha amiga.

Beijo

Fê blue bird disse...

Uma poesia fértil de palavras e intenções.
Gostei bastante.
Obrigada pela divulgação.

beijinho

Gaby Lirie disse...

Fiquei com muita vontade de ler!
Belo!

Beijos.

maré disse...

e da boca onde o silêncio é plural enchente e ave. alta ocupante de nuvens onde o tempo se adentra e é tecto e raiz. sombra e milagre. chão . terraço onde a palavra semeia e se dá. profética ao corpo do silêncio.

Beijo querida graça , ti e à Y, múltiplo e intemporal.

Existe Sempre Um Lugar disse...

Bom dia, uma vez lio "palavra é a morte do pensamento," nunca confirmei se esta frase corresponde à realidade da vida, confirmo sim, que o ar que respiramos é silencioso, por vezes causa-nos enorme revolta.
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

maria maria disse...

Cheio de sabedoria oculta, é um livro de magia privada. Reservo-me. Inicia na pág 023, não na pág 23, ocupando 77 páginas, (0)99 nomes de Deus e (0)99 dias já depois de se fechar a noite porque agora, desde o início da obra, é apenas dia, só tempo, até que na pág 100 (ou 1, é o mesmo) nos lega o inferno e termina na pág 230 - subtraindo no início ao tempo 23 dias, (matemática sagrada) 5 dias, de onde resulta, entre o divino contraído para si, a entrega, por subtil tratamento de símbolos, dum tu apostrofado à má roda do tempo e a uma expiação. Mas sabemos os dois sobrinhos de Moisés morreram eloctrocutados, os poetas fazem trocadilhos sobre enganos, não se enganam com eles – o fogo divino de que os poetas falam é o das palavras, não é a eletricidade. A pureza, em que inicia a obra, sustentadora de toda a luz das suas palavras, estaria portanto por provar. Compreendo o uso simbólico do fogo como Deus onde há uma denúncia de um rosto queimado (outra persona) no anúncio da pureza de quem viu a face de Deus e que, ao contrário daquela, sobreviveu, se por avaliar está se é digna da luz das palavras que entrega, se for, resistiria ao desvio de si da luz como ser da luz?

(deixo o livro)

(Excurso) A palavra é explosão de luz, isto é, pensamento iluminado por uma razão sonâmbula ou lógica, intuitiva ou intelectual mas palavra e luz não são a mesma coisa posto que uma delas deriva da outra. Ando em trevas sempre que a minha luz é impedida. O que é a Luz? Pensamento iluminado, uma verdade atingida e a verdade nunca deixa fora de si nenhum ângulo da verdade. Sempre que minhas palavras explosão de luz, meus pensamentos que iluminaram meu espírito e que são a verdade dele e o tempo dele, foram impedidos de mim, de mim que os gerei, eu fui dada às trevas, sim, mas às trevas do outro, do que tentou apagar a luz, e chumbar (no sentido alquímico) a minha iluminação. Quem encheria o mundo de becos sem luz para entornando da lâmpada do outro o azeite acender a sua para dizer que é ele quem ilumina o mundo? Lúcifer fez o mesmo: moveu a luz. Nunca será o Criador. Ele apenas impediu o plano de criação original do Criador. Umas colheradas de luz que a tantos sabem como mel, cardos em vez de figos e de uvas, sente-se adorado. Quem desataria às pauladas aos olhos do outro, dizendo-lhe que quem tem o direito de ver o que esse vê não pode ser esse que vê mas quem lhe arranca os olhos porque com eles vê melhor que aquele que torna cego da sua luz? Quem usaria de ácido para causticar as visões iluminadas dum outro, nascidas dum esforço de sinceridade de ligação a Deus e à humanidade, dum esforço nu de sinceridade e portanto, sim, de amor? Quem impediria a alquimia deste, do que a si mesmo se vai transformando, melhorando o seu ser na sua própria luz através do que lê e do estudo de si e da sua expressão em que a si mesmo chega? Quem humilharia este processo íntimo, revelador de si mesmo, este autoconhecimento e conhecimento, esta forma de autoconhecimento e de conhecimento? Estou a falar sempre da escrita, do pensamento materializado na escrita. Pois apenas alquimizaria um outro quem por despeito da luz deste necessitasse de impedir a alquimia deste. Se minha luz tiver sido transformada em trevas na boca de outro ao menos serviu uma nova luz, minha luz provavelmente era sombra todavia o mundo ficou sem conhecer o processo onde a luz do outro ou um grau menos de sombra, se deu. Perde-se parte da história e um ângulo da eternidade, o tempo apenas reflexo dela.

A texto profundamente meditado, a texto interior, a luz aprendida, apreendida e assimilada tanta consciência nos deu e seria treva a alma sobre que se meditou? As palavras explosões de luz, pensamentos iluminados, consciência chegada em nós por via intuitiva ou outra, não nos queimam a face nem a alma: os reflexos que da luz nos chegam do Alto são demasiado débeis e refractados, nós somos demasiado imperfeitos. Mas são o nosso lume, o lume íntimo onde nosso ser se conjuga em ligação com o divino, calor. Ser separado disso e lutar por permanecer luz: eis um drama poético.

Maria João