4.6.18

Mulher com xaile vermelho

Amedeo Modigliani



Uma brisa fria vem roçar-me a cara
nesta primavera desabrigada,
onde os pássaros rodopiam
uma valsa estremecida,
como se temessem o vento. 

Falo pouco nestes dias,
em que me cobre
uma luz lívida e muda. 

Cubro os pulsos com os folhos da blusa
para jurar silêncio, quando a mancha
do luar atingir o peitoril da janela. 

Na borda da cadeira em que me sento
poiso, ao de leve, as minhas mãos
frias, quase de pedra. 

Tenho a cingir-me o peito
um xaile de merino para abafar
as batidas desoladas do coração.

Graça Pires
De Fui quase todas as mulheres de Modigliani, 2017, p. 43

47 comentários:

Larissa Santos disse...

Bom dia. Muitos parabéns, excelente poema. :))

Hoje:- Não nego, que o meu coração se apaixonou.

Bjos
Votos de uma óptima Segunda-Feira

chica disse...

Poema intenso e cheio de sentimento! LINDO! bjs, ótima semana,chica

Luis Eme disse...

Adoro estas tuas mulheres (sim, mais tuas que de Modigliani)

abraço

teresa dias disse...

Neste blogue repito-me, repito-me, repito-me...
Graça, gostei MUITO deste poema. É tão ternurento, tão sentimental, tão teu!
Obrigada por o partilhares.
Que passe logo esta “primavera desabrigada”.
(É linda a mulher com xaile vermelho.)
Beijo, poeta!

Cidália Ferreira disse...

Poema lindo demais!! Parabéns. Amei! :)

Beijos e uma excelente semana!

Marta Vinhais disse...

Em que o frio deixa a alma nua, só...
Lindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

A Paixão da Isa disse...

mt bonito gostei mt bjs

María disse...

Bellos versos, un placer disfrutar de tu entrada.

Que tengas una feliz tarde.

Un beso.

Daniel Costa disse...

Graça Pires
Mais um do teus poemas que tanto me prendem. Confesso que sou fã!..-
Beijos

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Um poema muito belo e tão ajustado à primavera que se faz sentir… nestes dias em que o silêncio quase nos verga e o frio gelado que se infiltra no nosso ser quase nos paralisa.
Um beijinho, minha Amiga, e uma boa semana.
Ailime

Emília Pinto disse...

E " desse tempo " em que as crianças brincavam na rua, em que as cancelas ficavam abertas, revejo mulheres de" xaile vermelho " aconchegando-o o mais possivel ao peito para não deixar entrar o frio, pois gelada já estava, muitas vezes a alma; procuravam as casas onde, por felicidade, houvesse um poço e lá iam elas buscar a água num cantaro de barro, equilibrado na cabeça e em cima de uma rodilha. Eram duros aqueles tempos e depois da magra " ceia" sentavam ao pé do lume refletindo na dureza dos dias e no frio da noite escura, durante tanto tempo iluminada por candeias de petróleo ou velas de cera. Aconchegavam ainda mais o xaile que, raramente era de cor vermelha e acariciavam as mãos frias e ásperas de tanto trabalho. Conheci de perto estas mulheres, pois vinham a minha casa buscar o cântaro da água e também lavar as roupas no tanque que a minha mãe enchia para elas; o frio eram muito, a água gelava as mãos, mas elas lá continuavam firmes na sua árdua tarefa. Pior que o frio da água era o gelo da alma e por isso, a maioria das vezes o xaile era negro; o vermelho de merino estava guardado na caixa de madeira para ser usado na festa da aldeia, altura em que se permitiam a uns dias de maior alegria. Fizeste-me voltar à minha aldeia, Graça e recordar todas as mulheres que aqui tens homenageado e também as crianças que, felizes, comigo brincavam, indo de casa em casa em plena liberdade e sem medos. Obrigada, querida amiga! Muito, muito belos, os teus poemas. Um beijo
Emilia

PAULO TAMBURRO. disse...


GRAÇA PIRES,

o recolhimento enseja melhor diálogo com o nosso umbigo, acalma as pressões indevidas e inapropriadas de um mundo lá de fora que não nos dá descanso e sobretudo ao voltarmos para nós mesmos respiramos o ar que naquele momento não compartilhamos com ninguém.
E não serrá por egoismo, mas sim por absoluta necessidade de sobrevivência.
Um abração carioca e excelente semana, Graça.

CÉU disse...

Olá, minha querida amiga!

Não me esperava, pois não? Mas, eu não sendo imprevisível, por vezes, não resisto a coisas boas, ao belo e este seu poema, baseado na imagem, na mulher de xaile encarnado, fez-me escrever, aliás, ato que nunca me apetece, diga-se -rs.

precisamos todos de calor e de ternura, venha ela do tempo atmosférico ou de qualquer outro lugar ou de pessoa, mas desejamos aconchego, luz, sossego quente e mente ensolarada.

Foi bem ler, mto bom ler as suas palavras e estar um bocadinho com a Graça.

Um beijinho nessa face, que quero quentinha.

Roselia Bezerra disse...

Boa noite, querida amiga Graca!
Um xale para encobrir um coração desolado... que linda imagem poética... o frio toma conta de nós... na falta de amor, ainda mais...
Seja muito feliz e abençoada junto aos seus amados!
Bjm fraterno de paz e bem
marazul.blogspot.com/2018/06/no-embalo-do-amor.html?m=1

Marco Luijken disse...

Hello Graça,
Wonderful words with a nice image of that woman.
So nice all these poetic words.

Big hug, Marco

Daniela disse...

Uma riqueza de poema!
=)

Bjinhos

Manuel Veiga disse...

Há frios assim, que apenas o calor de outras mãos aquece
(um um xaile de merino, claro)

um dos meus poemas predilectos, deste teu belo livro

(gostei muito de ver-te com o Manuel, e agradeço muito o vosso abraço)

beijo, minha amiga.
grato.

Anete disse...


Dias frios trazem calores poéticos... Gostei muito da referência ao "Xaile Vermelho", minha cor predileta...
Mensagem profunda, Graça, neste lindo poema... Precisamos de amor e vida "calientes"...

Beijinho

Mariazita disse...

Parece que o Inverno veio passar a Primavera a Portugal...
Mas enquanto foi permitindo que sejam escritos poemas tão belos como este... pois que se deixe estar.
Aconchegada no xaile vermelho as nãos conservarão o calor necessário para que a Graça possa continuar a brindar-nos com os seus excelentes versos.

PS : Permita-me que lhe recordo que amanhã (às 0 horas do dia 6) haverá nova postagem na minha "CASA". Terei todo o prazer em vê-la por lá…

Feliz Terça-feira e uma boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

Agostinho disse...

As mãos frias arrimadas na madeira dissimulam a fome de gestos. Prolonga o inverno, apesar do vermelho ainda marcado por fora e dentro no peito.

Bj. grato, GP.

Minhas Pinturas disse...

Querida Poeta, lendo teu poema uma tela se descortinou diante de mim, não a do Modigliani, mas uma tão linda e perfeita como a que pintaste com tão belas palavras. Amei
Beijinhos, Léah

Alfredo Rangel disse...

Graça, as batidas desoladas do coração, em momentos de brisa fria, exigem este xaile de merino e a postura de uma deusa paramentada. Lindo.

ManuelFL disse...

Há como que um enigma – uma revelação? – nesta pintura de Modigliani. O xaile vermelho – de uma cor forte, primária, associada à paixão – é uma evocação, a nostalgia de algo que parece perdido, longínquo, um desencontro.

O poema da Graça é assim uma elegia, um lamento, e um hino ao amor, no que ele tem de entrega sem limites e, talvez por isso, de vulnerável:

«Na borda da cadeira […] as minhas mãos
frias, quase de pedra. Tenho a cingir-me o peito
um xaile de merino para abafar
as batidas desoladas do coração.»


Beijo.






fatimawines disse...

Olá Graça!

Mais uma poema temperado com ingredientes de primeira qualidade.
pouco importa se o xaile é feito com pura lã ou não. Se o frio nos chama devemos, pois, dar resposta com um aconchego, seja ele um xaile ou um sorriso.
bj.

Fá menor disse...

Gosto muito.

As batidas do coração esperam o Verão que tarda em chegar. Também as batidas do meu...


Beijinhos.

silvioafonso disse...

Mais que lindo, criança!
Desculpe, mas não me controlo
quando te leio, oh, poeta e
mulher!

Beijos.


.

Bell disse...

Lindo e profundo!!

bjokas =)

Teresa Durães disse...

Uma primavera silenciosa onde a mulher com o seu xaile vai esperando novas madrugadas.

Ana Freire disse...

Haverá alturas, em que parecemos carregar um Inverno por dentro... por força das circunstâncias da vida... talvez uma Primavera... nos devolva também a vida por dentro... conforme nos vamos inspirando, em tudo o que se renova, à nossa volta...
Mais um trabalho, de leitura maravilhosa, que nos toca fundo...
Beijinho! Desejando-lhe a continuação de uma excelente semana...
Ana

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, mais um poema lindo que partilha, a vida é continuidade por momentos, nem todos são com a bela primavera, mas são superados.
Continuação de feliz semana,
AG

Jaime Portela disse...

Excelente poema, parabéns pela inspiração.
Bom fim de semana, amiga Graça.
Beijo.

Graça Alves disse...

Bem desabrigada esta primavera, Graça
Lindo
beijinho

teresa p. disse...


O frio custa mais a suportar quando vem num tempo que já deveria ser ameno. É como o sentimento da esperança por algo que se anseia e que tarda em chegar deixando o coração em sobressalto com "batidas desoladas".
Maravilhoso!
Beijo.

Majo Dutra disse...

É, de facto, profundamente triste esta
dama de Modigliani...
Transparece, sim, uma desolação atroz e
impressionante.
O Poema «desta primavera desabrida» está
lúcido, denota grande sensibilidade e
literariamente excelente.
Terno abraço, Poeta Amiga
~~~

LuísM Castanheira disse...

há uma tristeza sem fim
na espera do olhar, onde
nem todas as flores fazem primaveras.

e tudo é um deslizar do tempo,
no silêncio das mãos.

um poema muito intenso, minha Amiga, com todos os segredos a querem espreitar.
e a nostalgia a nos inundar.

belo.
(que mais posso dizer, além dos
muito bons comentários, que retive?)

um beijo, querida Amiga Graça.

Toninho disse...

As batidas desoladas do coração, profundo amiga
e há beleza neste clima desabrigada por um verão.
Um show de inspiração na elegância Graça Pires,
que fico admirando e aplaudindo de pé.

Carinhoso abraço de toda paz amiga.
Beijo

Lu Dantas disse...

Que bonito, Graça!

Bom fim de semana! ;)

beijos!

https://ludantasmusica.blogspot.com

ANNA disse...

Gracias por tu paso por mi blog te lo agradezco ya que hay un tipo que me pueta discupa la palabra pero es asi.

Besos

Sinval Santos da Silveira disse...

Oi, querida Poetisa, Graça Pires !
Que lindo texto descritivo, Mestra !
Senti, até, o frio instalado nas mãos
da modelo, descansando no braço da
cadeira.
Parabéns, Amiga de tão longe...
Um carinhoso abraço, aqui do Brasil.
Sinval.

manuela baptista disse...

um xaile vermelho deveria aquecer as mãos e o coração


talvez o sangue a chorar com ele e a mulher sozinha na cadeira onde se senta


muito bonito, Graça!

Maria Rodrigues disse...

Belo, sentido e nostálgico poema.
Bom domingo e uma excelente semana.
Beijinhos
Maria
Divagar Sobre Tudo um Pouco

Ana Tapadas disse...

Muito belo, Graça!

Beijo

Teresa Almeida disse...

O xaile de merino anda pelas arcas antigas como se nelas se abafassem "as batidas desoladas do coração". E essa "valsa estremecida dos pássaros" ateia ventos poéticos.
Tão bonito, Graça!

Beijinho.

Victor Barão disse...

Uma desolada Primavera, diria eu, aqui expressa de forma poeticamente elevada.
Mais uma vez muitos parabéns, com votos de excelente semana
Beijos
VB

ruma disse...

as batidas desoladas do coração.
Passe a estação fria e vá para um morno lá.

Admiração ao seu lindo mundo.

Desejo a todos o melhor.
Saudação e abraço.

Do Japão,ruma ❃

solfirmino disse...

Querida, gosto muito dessa ideia de recolhimento. Tenho vários poemas e textos sobre o tema. Acho que o principal é:

Poema para o inverno

O vento do outono
abraça a nova estação,
que chega com sua
ordem de recolhimento.

Como em um rito,
novos rumos se fazem
no casulo dos dias
à espera dos ciclos
das estações.

No rastro das névoas,
os sonhos não nascidos
escondem-se.
A vida lateja no
cortejo de idéias submersas.

Palavras extremas
aguardam o movimento
de fuga no vento,
ninho das idéias.

Há um poema intacto
no caminho do tempo
que aguarda o inverno,
mas só renascerei
na primavera.

Solange Firmino

Meu beijo

Parapeito disse...

Tão lindo e tão nostálgico.
Dá para sentir as batidas do coração.
Adorei
Brisas doces**