11.6.18

Quando o espelho me devolvia a frieza

Duane Michals

A página vazia era um golpe
oculto a ferir-me o peito.
Todos os dias eu amanhecia
sem palavras com a opressão
do susto sobre os ombros.
O princípio e o fim dos tempos
confundiam-se, numa escrita ausente,
em tropeço com a vontade.
Com mãos indecisas eu tacteava
a nostalgia de meus olhos
quando o espelho me devolvia
uma frieza dispersa pelo rosto,
a devorar-me a boca,
a transformar-se num abismo
que engolia as lágrimas, o riso, os sonhos.
Graça Pires
In: As vozes de Isaque: derivações poéticas a partir da obra “O último poeta”, de Paulo M. Morais. Braga: Poética, 2016, p. 17

50 comentários:

© Fanny Costa disse...

Que poema sublime! Adorei a forma como entrelaça as emoções e brinca com o sentido das palavras!

Beijinho*
Fanny Costa

Luis Eme disse...

Mas felizmente há o depois, Graça... sem gelo.

abraço

Cidália Ferreira disse...

Bom dia!
Maravilhoso poema!! Amei! Obrigada

Beijo e uma excelente semana

chica disse...

Incrível tua capacidade de tão bem escrever! Lindo ,profundo! ADOREI! bjs, ótima semana,chica

teresa dias disse...

Olá, Graça!
Mais um belo poema, mais uma foto linda e bem escolhida.
Que "a opressão do susto sobre os ombros" continue a deixar a poeta fazer da sensibilidade poesia.
Excelente, minha amiga.
Beijo.

Marta Vinhais disse...

O peso...a dor.... mas depois... tudo começa a fazer sentido e as palavras deixam de se sentir oprimidas...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Daniela disse...

Poema e foto, muito poderosa!

=)

Abra o coração e deixe a beleza entrar...

Bjinhos

Marco Luijken disse...

Hello Graça,
Nice to read all these poetic words. Wonderful.
Nice picture above of this post.

Greetings and a big kiss,
Marco

Dan André disse...

Bom dia amiga Graça!

Todos os escritores tem uma forma intima e pessoal de tocar as pessoas que estão lendo. Encontrei em cada linha, um pouco de mim: a angustiante solidão, ou de dores reprimidas que originaram essa maravilhosa escrita.

Parabéns viu?

Abraços
Otima semana!
Dan
https://gagopoetico.blogspot.com

Patrícia Pinna disse...

Boa tarde, Graça. Uma dor atroz essa agonia.
Um peso de alma carregado no peito tira-nos totalmente a paz.
Parabéns.
Beijos na alma.

A Paixão da Isa disse...

poi o espelho pode nos contar muita coisa pode ser triste pode ser alegre mas conta sempre algo adorei este poema e a foto tambem muito bonito parabens bjs

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde, querida amiga Graça!
A frieza é um dos piores sentimentos a dar e a receber...
Oxalá nosso espelho nos devolva paz e alegria de verdade!
Belíssima verdade postada com sabedoria!
Seja muito feliz e abençoada junto aos seus amados!
Bjm fraterno e carinhoso de paz e bem
😚😍💟

Mar Arável disse...

Os melhores espelhos
são os que nos revelam
de olhos fechados
Bjs minha amiga

Luísa Fernandes disse...


https://poemasdaminhalma.blogspot.com/
Boa noite Graça!
Realmente a frieza é um dos piores sentimentos, que assombra e entristece a alma.
Oxalá esse espelho, nos transmita paz e alegria.
Beijinho e continuação de boa semana.
Luisa

Gracita disse...

O espelho é bastante eloquente e nos traz revelações surpreendes
Beijinhos minha linda amiga

silvioafonso disse...

A poesia vaza seus poros afora.
Sua criatividade é invejável,
poeta. O amor é uma passarela
que liga a alma ao coração do
poeta mulher.

Um beijo, meu anjo.


.

Toninho disse...

E temos Graça, que sejamos todos nós um grande abismo,
onde moram/morrem todas estas emoções.
Um belo trabalho amiga Graça.
Beijos.

Larissa Santos disse...

Bom dia.
Excelente poema. Obrigada pela partilha:))


Hoje: -Careço das tuas palavras de conforto .

Bjos
Votos de uma óptima Terça-Feira

Anete disse...

Poetizou profundamente. O espelho é revelador e, tantas vezes, traz verdades fortíssimas...
Bj e abç

Célia disse...

Expressões reveladas no espelho da nossa alma são as que calam mais profundamente! Belo e instigante poema!
Abraço.

LuísM Castanheira disse...

quando o espelho é uma página em branco. papel que olha na espera. da mão que lhe há-de dar emoção.
e, por mais frias as manhãs, a linguagem encontra as palavras. e os sentimentos. a preencherem vazios.

muito interessante estas dirivações
poéticas. e o espelho que lhe dá a distorção, sem adivinhar a razão.

gostei deveras, Graça.

um beijo, minha Amiga.

LuísM Castanheira disse...

*"...derivações..."

Teresa Almeida disse...

Um olhar nostálgico, mas perscrutador.
Conseguiste verter a frieza, a nostalgia e a indecisão numa página de primorosa ortografia.

Beijos, Graça.

Majo Dutra disse...

Já passei por uma situação semelhante...
Uma dor atroz... porém, o ser humano
tem capacidade de reagir e superar.
É um poema arrepiante na perfeição da
construção da mensagem a transmitir.
Muito bom, como o nível da sua obra.
Beijinhos, querida Amiga.
~~~~

Zilani Célia disse...

OI GRAÇA!
QUANDO OLHAMOS O ESPELHO COM OS OLHOS D'ALMA, ELE NOS DEVOLVE A VERDADEIRA IMAGEM DO QUE SOMOS.
SHOW AMIGA, LINDO DEMAIS.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Tais Luso de Carvalho disse...

O princípio e o fim dos tempos
confundiam-se, numa escrita ausente,
em tropeço com a vontade.


O espelho reflete nosso humor, nossos desejos, nossas tristezas... um poder absoluto sobre nosso ser. Revelador. Por isso as vezes ficamos ausentes de tudo, visualizando praticamente nada. A solução é aguardar...não há outra.

Beijo, querida Graça, mergulhou fundo, amiga, e conseguiu um belo poema.

ManuelFL disse...

A imagem distorcida, cruel, enganadora, do espelho, angústia do poeta perante a página vazia, «escrita ausente, em tropeço com a vontade.» Magnífico, Graça.
Beijo

Fá menor disse...

Se o espelho for firme só devolve o que lhe mostramos... e tantas vezes nos faz ver que a nossa imagem anda, na verdade, ensombrecida.

Beijinhos

Olinda Melo disse...

Olá, querida Graça

A imagem é eloquente a fazer jus às palavras fortes e desgarradoras, que nos arrancam as raízes, dispersando-nos por recantos ínvios do nosso próprio eu.

Bj

Olinda

Teresa Durães disse...

Onde se esconde uma alma ferida.

teresa p. disse...

A angústia do poeta perante a falta de inspiração "A escrita ausente".
O espelho , por vezes, é frio e cruel, mas apenas reflecte o estado de alma do momento.
O poema é profundo e muito forte e a imagem magnífica.
Beijo.

Jaime Portela disse...

Mais um poema de excelência.
Parabéns pelo talento poético, uma constante da sua poesia.
Continuação de boa semana, amiga Graça.
Beijo.

Smareis disse...

Boa noite Graça! Um poema tão belo, a imagem casou perfeitamente.
Continuação de boa semana!
Um beijo!
Escrevinhados da Vida

Ana Freire disse...

Quando as páginas de um poema, são o espelho da alma do seu autor...
Mais um trabalho que revela um profundo e admirável sentir... e que é sempre um prazer, descobrir e apreciar...
Magnífico trabalho, Graça!
Um beijinho grande! Continuação de uma excelente e inspirada semana!
Ana

Nequéren Reis disse...

Poema maravilhoso amei, obrigado pela visita.
Blog: https://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com/
Canal: https://www.youtube.com/watch?v=DmO8csZDARM

Manuel Veiga disse...

tempos de maturação, nem sempre solares.
terrífico esse medo, Graça

... e, no entanto, belo teu poema.

beijo. minha amiga


Ana Tapadas disse...

Belo...fulminando os dias de desassossego.

Beijo amigo.

manuela barroso disse...

Há momentos de tal opressão que ficamos ausentes de nós próprios . Acorda- se para a realidade e ou o espelho nos devolve a nossa imagem interior ou nos devora .
A tua poesia é sempre tão bela , querida amiga Graça!
Um beijooo! 🎀

mz disse...

Momentos em que nos olhamos e não nos reconhecemos.
O pânico de esquecer tudo o que fomos e do que fizemos tão espontaneamente,livres e fluídos.
Beijinho

São disse...

Por vezes não nos reconhecemos....

Beijinhos, linda, bom fim de semana

A Nossa Travessa disse...

Minha querida Gracinhamiga II

INFORMAÇÃO

Como deixei escrito no final do quarto texto da saga É DIFÍCIL VIVER COM UM IRMÃO MONGÓLICO fiquei seriamente a pensar em terminar a sua publicação. Isto porque o primeiro episódio teve uma boa aceitação (52 comentários e correspondentes respostas), o segundo ficou-se pelos 20 e o terceiro ainda menos, 18…
O apelo para uma boa polémica só teve uma resposta. A da Nonamamiga.
Escuso de matutar mais no problema: fico-me por este último texto. Continuarei a escrever a saga mas para outra finalidade. Obrigado a todos os que me acompanharam e também a quem o não fez


Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, Graça!
Belíssimo poema, querida amiga, sensível e profundo, como se vê por estes belos versos:

O princípio e o fim dos tempos
confundiam-se, numa escrita ausente,
em tropeço com a vontade.


Um ótimo final de semana.
Um beijo.
Pedro

Mariazita disse...

Um excelente poema, retratando as várias emoções com que por vezes nos debatemos, em momentos em que quase não nos reconhecemos...
Perdão pela minha ausência, mas tenho andado adoentada.


Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

por vezes o espelho pode ser cruel

mas pode também

nos devolver a inspiração


beijinhos


:)

Agostinho disse...

A Poeta traça linhas, esquiços, memórias...e confronta-se incrédula no que vê. Por isso confere-se pelo tacto.

Vim a este espelho mirar-me, outra vez. Vi-me, misteriosamente, face a face separado de mim.

Beijo, cara Amiga.

Sinval Santos da Silveira disse...

Querida Mestra Poetisa, Graça Pires !
Que bela descrição poética !
Somente uma grande Poetisa, frente a um
espelho, seria capaz de compõr tamanha
peça literária !
Parabéns e um carinhoso abraço, aqui do
Brasil.
Sinval.

José Carlos Sant Anna disse...

Este espelho a revelar um estado de alma e a fuga para o imaginário, em que se resgata o "tom de verdade humana", pela sugestiva delicadeza do que é revelado e pela criação de uma atmosfera que nos envolve. Outro belo poema para gáudio dos seus leitores.
Um beijo, minha amiga Graça!

ANNA disse...

Maravilloso poema.
Gracias por tu paso por el blog.
Besos

Parapeito disse...

Tão sensível tão cheio de tanto, este espelho
Sempre belas as suas palavras doce Graça
Abraço*

Gracimar Martins disse...

Olá Graça! Os espelhos são verdadeiros reflectores do que vai na alma. Até podemos perguntar. Espelho, espelho meu, porque não me devolves o sorriso que um dia se perdeu.
Lindo texto.
Abraço.