28.1.19

Mulher com gola branca


Amedeo Modogiliani

Há quem prefira desenhar flores,
ou jogar às damas,
ou tomar chá de laranja doce.
Eu gasto o meu tempo entre aqueles
para quem os dias são apenas
uma irremediável espera.

Não ignoro o impulso das lágrimas
no choro dos meninos cercados de orfandade.
Conheço o desespero agitado do suicida.
Sei de cor o trejeito de mágoa que o pesar,
sem aviso, deixa em lábios
 sufocados de desânimo.

É difícil, sim, este ofício de partilhar
os sobressaltos da vida.
Ou da morte. Ou da solidão.

Mas reparto, em dádiva,
uma alegria quase clandestina.

Graça Pires
De Fui quase todas as mulheres de Modigliani, 2017, p. 23

52 comentários:

Olinda Melo disse...


É isso mesmo, querida Graça.

Embora tudo faça parte da vida, há quem
se preocupe mais com o que se passa ao
nosso redor. E é tão verdade a orfandade e
o desespero de quem já se considera no fim
da linha sem vislumbrar alternativa, que
o encontrá-lo aqui escrito, nesta toada
poética me comoveu imenso.

Boa semana, minha amiga.

Beijinhos

Olinda

Marta Vinhais disse...

A partilha do tempo, do afecto, do sorriso...
Lindo...
Beijos e abraços
Marta

carlos perrotti disse...

Sentida e inspirada missão do poeta ver a vida passar...

Muito obrigado, Graça. Parabens.

Luis Eme disse...

Quando se ganha tempo (e beleza), com o tempo perdido...

abraço Graça

Jovem Jornalista disse...

Belo texto!
Boa semana!

Jovem Jornalista
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O blog está em HIATUS DE VERÃO até o dia 23 de fevereiro, mas tem post novo. Comentarei nos blogs amigos nesse período.

Até mais, Emerson Garcia

Cidália Ferreira disse...

Poema excelente! AMEI! :)


Quando olho o horizonte e te imagino.
Beijos e uma excelente semana!

Marco Luijken disse...

Hello,
Very nice words. A nice gift that you can do this so well.

Sweet greetings,
Marco

María disse...

Y es que la desesperación se puede escribir entre lágrimas y truenos.

Precioso tu poema.

Un beso enorme.

José Carlos Sant Anna disse...

Enquanto não aprendo a "repartir, em dádiva", enredo-me na leitura dos seus poemas para aprendê-lo, apreendendo-o. Porque é você uma poeta reflexiva, penetrante. Há tanto humanismo neste poema que parece nos dizer que a vida vale a pena, quando nos abstraímos do nosso umbigo. Também gosto muito de a ler, Graça. Admirável poema!
Um beijo,

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde, estimada amiga Graca!
Sua ternura perpassa para seu poema que invade nosso 💙 com carinho e ternura delicada.
Felicidade e bênçãos para você!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
😘😘😘

Cléo Gomes disse...

Quanta solidariedade em poucas palavras!
Parabéns pelo poema!

Boa semana.

Proseando num dia

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Um poema muito belo e profundo.
«Eu gasto o meu tempo entre aqueles para quem os dias são apenas uma irremediável espera».
E são tantos... os que aguardam apenas por uma palavra, um sorriso, um pequeno gesto de amor.
Muito obrigada, Amiga Poeta, pela sua nobreza de carácter que este poema tão bem evidencia.
Beijinhos e uma boa semana.
Ailime

teresa dias disse...

Querida amiga Graça, li e reli o poema e vi-te inteira na delicadeza da escrita e na magnífica sensibilidade poética
“É difícil, sim, este ofício de partilhar
Os sobressaltos da vida.”
Magnífico!!!
Beijo e boa semana.

Luísa Fernandes disse...

https://poemasdaminhalma.blogspot.com/
Olá Graça!
Magnífico e belo poema, que reparte,
os bons e maus momentos da vida.
Excelente inspiração, gostei.
Beijinho
Luisa

A Paixão da Isa disse...

Linda foto que ao olhar no fa viajar com o teu texto mt bonito gostei mt bjs

Pedro Luso de Carvalho disse...


Olá, minha amiga Graça! Gostei muito deste teu poema, com suas belas imagens poéticas e belos versos:

É difícil, sim, este ofício de partilhar
os sobressaltos da vida.
Ou da morte. Ou da solidão.


Desejo que tenhas uma ótima semana, com muita paz.
Beijo.
Pedro

fatimawines disse...

Olá Graça!
Que mulher é essa?
Um poema escrito com tinta de alma.
Eu, homem identifico-me com essa mulher.
bj.
Adriano

LuísM Castanheira disse...

Boa noite, Graça:

Li, reli, entranhei na pele, senti como se nunca tivesse havido,
como se fosse a primeira vez, e foi (desta forma e nesta hora) e,
e' maravilhoso este teu Poema.

Esta "alegria, quase clandestina" que expões, brilhantemente,
como se dádiva fosse, não e' mais do que a compreensão da vida - e dos seus sobressaltos -, daquela que so' os grandes Poetas vivem, sentem e traduzem em palavras.

Que mais eu poderei dizer, minha Amiga...? nada!

Fico so' reflectido e mudo e de bem com tudo.

Uma boa semana para ti e família
Um beijo
....
para eu pensar:

"[...]Eu gasto o meu tempo entre aqueles para quem os dias são apenas uma irremediável espera.[...]"
.....

Larissa Santos disse...

Um poema belo e intenso. Adorei :))

O nosso amigo Gil António, diz:- Palavras de amor, que " queimam" ... as palavras

Bjos
Votos de uma óptima noite.

Nal Pontes disse...

Linda expressão de afeto em poesia. Bom ser solidário com os mais carentes e marginalizados pela sociedade. Bjs querida

Isa Sá disse...

Bonito poema!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Excelente e belo poema minha amiga de que gostei, aproveito para desejar uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Majo Dutra disse...

Mulheres com gola branca poderão ser as enfermeiras, ou voluntárias,
de qualquer modo, cumprimento a criatividade e sensibilidade.
Há realmente espíritos fortes capazes de lidarem uma vida com o lado
menos positivo da humanidade e sentirem felicidade por ajudar.
Gostei muito deste seu tocante e perfeito registo poético.
Beijinhos, querida Poeta.
~~~~~

Lua Azul disse...

Poema de uma grande solidariedade e humanismo ao acercar-se dos desafortunados. É desta solidariedade e compaixão que o mundo precisa. Saibamos nós agir assim.
Que seja excelente a semana que decorre.

Lucinalva disse...

Olá Graça
Lindo poema, bjs querida.

tulipa disse...


Ando muito sensível, chorona mesmo
Janeiro e 2019 não começaram da melhor maneira
só estive 5 dias bem, depois disso tem sido médicos, exames, consultas, farmácias
e culminou sábado passado com uma ida à Urgência
Acredite, estou "cansada" de estar doente.
E domingo o meu neto parte um pé, ontem foi operado
pergunto: que mais falta acontecer?
....
Desanimada com tudo!

Desculpe o desabafo
Agradeço as suas visitas e palavras de conforto nos meus posts

Poema comovente!
Parabéns.

Que Fevereiro comece com o pé direito e tenha mais sorte e saúde
peço para mim e para quem também precisar

Boa semana, minha amiga.

Beijinhos

Ulisses de Carvalho disse...

Interessante que Modigliani te influencie a ponto de o citares até em um título de um livro. Gosto especialmente dos versos finais:

"É difícil, sim, este ofício de partilhar
os sobressaltos da vida.
Ou da morte. Ou da solidão.

Mas reparto, em dádiva,
uma alegria quase clandestina."

Um beijo, Graça!

Franziska disse...

El poema de hoy desarrolla una reflexión muy interesante y es todo él sincero y entusiasta. De un modo muy especial destacaría el final que, a mi juicio se concluye de forma magistral

difícil, sim, este ofício de partilhar
os sobressaltos da vida.
Ou da morte. Ou da solidão.

Mas reparto, em dádiva,
uma alegria quase clandestina.ral:

Ha sido un placer, un abrazo hasta la próxima vez.

ManuelFL disse...

Eu gosto muito, mesmo muito, deste poema.
O ofício de viver como partilha, dádiva, fonte de «uma alegria quase clandestina».
Hoje, amanhã, todos os dias. Sempre.
Beijo.

Existe Sempre Um Lugar disse...

Bom dia, lindo poema, "Não ignoro o impulso das lágrimas" é difícil não ignorar e partilhar.
AG

Anete disse...

Poema belo, realista e extravasante da alma...
Abç

Manuel Veiga disse...

Em minha modesta opinião, m dos teus mais belos livros, Graça!
cada uma das tuas "Mulheres de Modiglian" em seu universo pessoalíssimo ...
e, no entanto, todas elas tão dóceis, delicadas e ... sábias!

beijo, minha amiga

teresa p. disse...

Magnífico poema que fala da solidariedade com tanto sentimento e emoção.
Na minha acção de voluntariado estou de alma e coração de acordo com a realidade que a Graça tão bem descreve:
"É difícil, sim, este ofício de partilhar os sobressaltos da vida. Ou da morte. Ou da solidão.
Mas reparto, em dádiva, uma alegria quase clandestina."
Gostei demais!
Beijo.

Humberto Maranduva disse...

No centro do Ser, eu diria, coloca-se a poetisa a dotar a humanidade, espoliada de si própria, de algum calor que a agasalhe nesta desfigurada caminhada, onde o espaço e o tempo são representações fantasmáticas de um vazio dinâmico feito de ilusões atabalhoadamente tecidas... Mas o importante é a partilha genuína dos afectos. Bem haja, amiga Graça, pela poesia com que nos brinda.
Um abraço

Sinval Santos da Silveira disse...

Querida Mestra, Graça Pires !
A isto, chamo de " sabedoria ", valorizar
o bem, dividindo-o com o aflito.
PARABÉNS, com o meu afetuoso abraço, aqui
do Brasil.
Sinval.

Quase Cinderela disse...

Adorei o poema.
Tão intenso, tão sensível...
Muito bonito, muito humano.
Obrigada
Beijinho

Jaime Portela disse...

E é sempre preferir partilhar alegrias do que sobressaltos...
Excelente poema, como sempre.
Graça, continuação de boa semana.
Beijo.

Teresa Almeida disse...

Gostei desta mulher que se preocupa e se machuca, mas ... possui "uma alegria quase clandestina".
Que maravilha, querida Graça! É que continuamos vivos apesar de ...

Beijos, amiga!

Agostinho disse...

Um quadro pintado a duas mãos, em tempos diferidos?
Poderia acontecer o poema prenunciar a pintura. A poética de Graça Pires faz uma interpretação perfeita do pincel de Modigliani.

O vórtice para o fim dos dias
tem uma razão fundada aprofundada
Há nela a abstração das leis da gravidade:
as lágrimas que escavaram
irremediável precipício
Esgotadas queimam-lhe o tempo
agora anuncia-se mulher
com gola branca
sem mácula que a condene

Beijo, cara Amiga Graça.

São disse...

Se Agostinho me permite, faço meu o seu comentário

Beijinhos a ambos

ANNA disse...

Querida amiga precioso poema o realidad.
Gracias por tu visita.

Besos

Unknown disse...

Adorei o poema.
Muito lindo.
bjão. Boa noite.

https://blogdaadilene.blogspot.com/

Zilani Célia disse...

OI GRAÇA!
UM ENCANTO TEU POEMA. EXPONDO A ALMA DE QUEM SABE JUNTAR AS LETRAS E EMOCIONAR-NOS.
ABRÇS
https://zilanicelia.blogspot.com/

Marli Terezinha Andrucho Boldori disse...

Boa noite, Graça,
interessante o seu poema, pois nos relata um pouco da rica história de Modigliani,
quantas das suas modelos, "suas mulheres" não nos representam?
Vale aqui a reflexão. Gostei muito. Abraço!

manuela baptista disse...

luminosa é essa mulher que reparte

e a gola, dá-lhe sorte


um beijo, Graça

Victor Barão disse...

Este poema a meu ver e sentir é fantástico, diria mesmo que luminoso ou iluminado, desde logo no que à mulher respeita, pois que resumindo tudo mais no poema: ..."É difícil, sim, este oficio de partilhar
os sobressalto da vida.
Ou da morte. Ou da solidão.

Mas reparto, em dádiva,
uma alegria quase clandestina."

É algo grandiosamente humano e mas acima de tudo feminino por si só _ digo eu.

Adorei

VB

silvioafonso disse...

Eu não perdi 80 quilos, meu anjo. Perdi
o que estava além dos 80 ou seja, os 3
famigerados.
Um beijo, boa noite e muito obrigado pe-
lo carinho da visita e do comentário.


.

Agostinho disse...

Com muito gosto, obrigado, São.

Ana Freire disse...

Um verdadeiro hino... à solidariedade, ao humanismo e ao altruísmo...
Adorei cada palavra, deste extraordinário poema, Graça!
Beijinho! Feliz e inspirada semana!
Ana

Fá menor disse...

... E que bom é repartir alegria, ainda que quase clandestina. Não nos furtemos a isso!

Beijinho.

ANNA disse...

Gracias amiga como siempre por tu dedicacion y por compartir.
Gracias por el paso de mi blob.
Besos

Sandi disse...

significado profundo, mas grande tristeza.