18.9.23

Em seara alheia




20200416 - Num bairro moderno 

Hoje fui passear o cão 
Da melancolia. Saí. Não 
Aguentava já o surdo 
Latir do vírus, o vagir 
Da morte lenta nos ecrãs 
Das reportagens repetidas 
Do sofrimento que sempre vem 
Da natureza sempre cruel 
Digam lá o que disserem 
Os cantares da passarada 
Precipitando a primavera 
Nos líricos beirais. Hoje 
Fui de cão. Não há outro 
A que dar trela. 

Jorge Fazenda Lourenço 
In: Fim de boca e mais poemas (1981-2023). Lages do Pico: Companhia das Ilhas, 2023, 
p. 273

40 comentários:

brancas nuvens negras disse...

A sociedade do cansaço.
Um abraço.

chica disse...

Trouxesate um lindo poesa ,bem escolhido! E passear e conversar com o cão, por vezes bem melhor do que com estranhos,rs...

Ótima semana!

beijos praianos, chica

Fá menor disse...

Muito bom. Os cães são os amigos mais fiéis. E os cantares da passarada, dos melhores cantares.

Beijinhos e boa semana!

Anónimo disse...

Dizem os ecrãs
Escrevem os jornais
Que sem dramas nas manhãs
Se a rádio emitir ais
A vida pára
Não há trela
Nem latir
e a Primavera
tarda a vir

Sorte a minha
tenho uma gata
que me acalma
e me dá boa sina

Anónimo disse...

Esse anónimo sou eu
Rogério V. Pereira

Jaime Portela disse...

Belo poema, gostei de ler.
Obrigado pela partilha.
Noa semana.
Um beijo.

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de paz, querida amiga Graça!
É preciso libertar o cão que há em nós...
"Os cantares da passarada
Precipitando a primavera".
Tão lindo termos em quem nos inspirarmos!
Seja de primavera nosso estado emocional interior.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos

" R y k @ r d o " disse...

Quando saio de casa nunca levo a trela... porque não tenho cão, 😁😁😁
.
Saudações poéticas. Feliz semana.
.
Poema: “ O Amor tem os olhos fechados “
.

Marta Vinhais disse...

Para nos sentirmos vivos....em contacto com a natureza....
Gostei muito
Beijos e abraços
Marta

Maria João Brito de Sousa disse...

Obrigada por me dar a conhecer este autor, que não conhecia ainda, Graça.

Estes são tempos de cansaço, algum medo e muito, muito desencanto... Só a minha gata Mistral desconhece a melancolia, bem como qualquer trela e eu, doente, moro num Passeio mas já não passeio. Caminho, dorida, os cinquenta metros que me separam da pastelaria da esquina e desabo por lá, na primeira cadeira que encontrar.

Um beijo!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Lucinalva disse...

Bom dia, Graça
Os cães são ótimos companheiros, possuem leveza e amor, dias melhores virão, poema reflexivo, abraços.

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Tiene la mirada de un fresco, para delatar las cosas que pasan en la vida, sin ser vistas. Un abrazo. Carlos

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Un recorrido duro por las ocurrencias de la vida, más cuando se va atado. Un abrazo. carlos

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça,
Muito interessante este poema que aqui partilha.
Muito adaptado aos tempos que correm.
Gostei muito.
Votos de uma excelente semana, com muita saúde e paz.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

São disse...

Gostei de conhecer o poema.


Minha Amiga, beijinho de boa semana e saúde

Luís Palma Gomes disse...

Um belíssimo poema que retrata bem o estado anímico de muitos de nós durante a pandemia. Gosto dos poemas que usam imagens e situações quotidianas para abordar outros mais universais. Neste caso, um passeio com o cão expõe o leitor ao tédio, à crueldade da natureza e à solidão. Quanto ao autor, fui durante muitos anos leitor da sua edição dos poemas de Fernando Pessoa pela da Europa-América (Ulisseia?). O seu prefácio dessa edição foi sempre para mim um documento de estudo e de trabalho importante. Mais tarde, foi professor de várias cadeiras do meu filho Pedro na UCP-Lic. Comunicação Social. Bem-haja a Graça por divulgar este poema tão ritmado, consistente e eficaz. Cumprimentos ao professor JFL e do meu filho que sei tinha uma boa relação com ele.

Toninho disse...

Uma bela colheita na Seara Graça com este olhar sobre um momento complexo da humanidade.
Uma grata generosidade apresentar com um belo poema Graça.
Aplausos ao Jorge Lourenço.
Bjs amiga e paz na semana.

Betonicou disse...

Nada melhor que um cão para assistir nosso teatro da vida! Gostei imenso do poema, Graça. Obrigado por compartilhar mais um poeta que não conheço. Gratidão pelo retorno ao meu blog. A vida, vez ou outra, requer pausa....Um grande beijo.

J.P. Alexander disse...

Profundo y triste poema. Me gusto mucho. Te mando un besol.

solfirmino disse...

Amiga, como sempre, ótima escolha. Muito bom poema sobre a visão introspectiva durante a pandemia. O poema lida com temas como melancolia, isolamento, saturação de informações e a natureza implacável da vida. As imagens utilizadas criam uma atmosfera poderosa que nos convida a refletir sobre as complexidades emocionais desse período.
Ótima semana e beijos.

Olinda Melo disse...


Dias aflitivos aqueles, quase de fim do mundo.
O autor data o dia em que escreve o poema,
outros viriam, em que as pessoas perdidas no
meio do nevoeiro da dúvida soçobravam, quase.

É bom não nos esquecermos desse mal que nos atacou
fazendo-nos sentir que estávamos no mesmo
barco. E a nossa fragilidade à tona.

Obrigada ao autor e a si, minha amiga Graça,
por no-lo trazer.

Beijinhos
Olinda

ManuelFL disse...

Este poema evoca, com grande sensibilidade, tempos sombrios, partilhados por todos nós.
As notícias foram um sufoco.
Só um poeta iria procurar os cantares da passarada.

Um grande abraço, Jorge,

partilha de silêncios disse...

Gostei imenso do poema. obrigada pela partilha.
Continuação de boa semana.
bjs

Juvenal Nunes disse...

Por alguma razão se diz que o cão é o melhor amigo do homem.
Continuação de boa semana.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

Luiz Gomes disse...

Boa tarde de quarta-feira. Obrigado pelo maravilhoso texto, minha querida amiga Graça.

Duarte disse...

Boa escolha, pela força da palavra e na sensibilidade que emprega para com o seu companheiro de passeios.
Abraço de vida e um bom fim-de-semana

Klaudia Zuberska disse...

Hello!
Great post. As always, you surprise with wonderful poetry that is full of so many emotions!
Greetings from Poland :)

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

GRaça

uma escolha de um poema muito bom do Professor Jorge Fazenda Lourenço.
a sensibilidade do Poeta e as palavras certas para tão ilustre poema.
Boa semana.
Um beijo
:)

A.S. disse...

Excelente poema. Gostei muito minha Amiga Graça.
Sempre um prazer quando te visito!

Tudo de bom.
Um grande abraço com muita saúde.

lis disse...

Escolha perfeita,Graça
O poeta Jorge Fazenda Lourenço disse tudo...
vamos mesmo de caõzinho e passarada.
Forte abraço, amiga

Os olhares da Gracinha! disse...

Por vezes...passear para espairecer, afastar o olhar do que nos perturba, sentir e fazer a diferença... SABE mesmo bem!
Bom fim-de-semana 😘

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça,
Passando por aqui, relendo este lindo poema que muito gostei, e desejar um Feliz fim de semana, com muita saúde e paz.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Tais Luso de Carvalho disse...

Gostei muito de ler esse belo poema, querida Graça,
e agradeço a partilha, o que me levou a conhecer o poeta.
Um feliz fim de semana, amiga, muita saúde e paz.
Beijinho.

bea disse...

Poema triste esse de ir de cão por não haver outro a que dar trela. Mas eu diria ao poeta que há muito quem nem o cão possua, nunca compre trela e, no duplo sentido do termo, não tenha alma a quem dar trela. Ele tem cão. Pode fazer como no conto de autor russo, contar ao cão (já que outros não tem), dizia eu que desabafar com o cão sobre o que o apoquenta. Que os cães não falam mas têm um olhar de entendimento votivo como nenhum outro outro animal.

Ana Freire disse...

Um poema nostálgico e introspectivo... mas um retrato tão fiel da mais pura realidade, nestes tempos de agora, em que somos bombardeados com uma chuva recorrente de más notícias, e é esperado que fielmente as aceitemos... pois não vemos a ponta por onde comecemos a pôr este tão desorientado mundo um pouco mais em ordem... mas podemos encarar o nosso próprio mundo de uma forma mais ordenada... procuremos a nossa trela... que nos conduz a momentos mais serenos e harmoniosos... seja ela qual for...
Grata por mais uma partilha de excelência, Graça!
Um beijinho grande! Feliz fim de semana!
Ana

teresa p. disse...

A realidade atual, tão triste e cruel, cria um desânimo tal que dá vontade de fugir, ou, como diz o poeta, "passear o cão da nostalgia..." ouvir o cantar dos pássaros para afastar as nuvens negras que nos cercam. Gostei muito do poema. Parabéns ao autor.

Ana Tapadas disse...

Que bela seara alheia, esta!
Beijinho

tulipa disse...


Hoje fui passear o cão
Da melancolia.
morte lenta nos ecrãs
Das reportagens repetidas

OLÁ GRAÇA
EM TÃO POUCAS PALAVRAS
RESUME-SE TUDO O QUE ESTAMOS A ATRAVESSAR...
um retrato tão fiel da nossa realidade

Grata por esta partilha de grande qualidade
Parabéns ao autor.

Quando quiser visitar-me, há artigos novos aqui:
http://momentos-perfeitos.blogspot.com/
http://orientevsocidente.blogspot.com/
http://meusmomentosimples.blogspot.com/
Boa semana, beijinho

José Ramón disse...

Encantador verso Saludos