9.10.23

Para me sagrar de silêncio

Ana Pires Livramento


Na linha de qualquer rio passaram águas 
que deixaram mais sedentos 
os lábios e a garganta. 
Cada detalhe de versos 
sem horizontes líquidos 
risca-me na pele o fracasso da voz 
desarticulando a paisagem. 
Rojo-me sobre os nomes que não esqueço, 
na imensa possibilidade de os tornar legítimos 
na precária imortalidade dos dias. 
Invento horas extras para me sagrar de silêncio. 

Graça Pires 
De Antígona passou por aqui, 2021, p. 55

47 comentários:

brancas nuvens negras disse...

Não esquecemos os nomes, mesmo que nos mantenhamos em silêncio.
Um abraço.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Gostei deste belo poema.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Ana Freire disse...

E o mundo anda mesmo cada vez mais agitado, parecendo cada vez mais querendo evitar o silêncio... que nos obriga tantas vezes a pensar... e a repensar... mas cujo hábito se perdeu... no culto dos estímulos imediatos, a propósito de tudo e de nada...
Maravilhoso poema... que já nos deixa a sede do próximo...
Um beijinho, estimando que se encontre de saúde... este tempo estranho acaba com as nossas energias. Este Verão ininterrupto desde Abril, já me começa a deixar impaciente, e exaurida!
Tudo de bom! Cuide-se bem, Graça... e assim que der... vacinas da época em ordem!
Ana

Ana Freire disse...

Feliz semana!!! Já não fui a tempo... :-))
Beijinhos
Ana

Marta Vinhais disse...

Ás vezes, ficar em silêncio é ficar em paz...apesar dos tumultos que despedaçam o Mundo....
Lindo como sempre...
Beijos e abraços
Marta

CÉU disse...

Cada vez mais há menos silêncio, daí que os poetas, sobretudo, tenham de inventar horas extras.
Beijinho e boa semana.

chica disse...

Muito lindo o poema e a foto também adorei!

beijos praianos, chica

Maria João Brito de Sousa disse...

Esplêndido poema, Graça!

E eu que não sei inventar horas extra, eu que tanto me esqueço de nomes e datas, cada vez me sinto mais silenciada...

Um beijo

Ana Tapadas disse...

Tão belo, na surdina da sua íntima voz!

Um beijo, minha amiga

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde de paz, querida amiga Graça!
O silêncio é a alma dos poetas que sagram a inspiração.
Cada vez melhores seus poemas tão intrínsecos e belos.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos com carinho fraterno

Luís Palma Gomes disse...

Olá, Graça Tenho comentado os seus poemas de uma forma analítica e fundamentalmente racional. Mas existe um sujeito poético pré-linguagem, onde os signos valem por si só: o som, o ritmo, a melodia, o grafismo, como se as palavras fossem coisas sem potencial simbólico. Os simbolistas franceses, Marllarmé ou Verlaine, são bons exemplos disso, mas também temos o nosso Pessanha, o brilhante Pessanha. Tudo isto, para lhe dizer que a sua poesia também funciona neste referencial quando os significantes, não são ainda significados. Por exemplo, o verso: "Rojo-me sobre os nomes que não esqueço," onde a vogal "O" é presente, criando uma melodiosa aliteração. Mas em todos os versos, isso acontece.

O conflito existencial expresso no poema é forte: "Na linha de qualquer rio passaram águas/ que deixaram mais sedentos/ os lábios e a garganta."e termina em tom confessional, para além dos limites, nas horas extras, para além do audível, naquilo que apenas é interior" e quando chega a sair da poeta, acontece sangrando. Mais uma vez, a dificuldade em transpor a fronteira que medeia o interior e o exterior sem sofrimento: "Invento horas extras para me sagrar de silêncio".

Boa semana. Espero que esteja a passar melhor dessa maldita tosse. Quando o amor aos livros e ao prazer de dá-los a ler aos outros se transformam em algum sofrimento, trata-se de paixão. E eis como a paixão e o drama se manifestam quase sempre como causa e efeito.

Fá menor disse...

Muito belo, como sempre são os seus poemas.
Por vezes também quero inventar horas extra para o silêncio, o que nem sempre se torna muito fácil :)

Beijinhos e tudo de bom!

alberto bertow marabello disse...

L'acqua forse disseta il corpo, ma è la poesia che disseta l'anima, Amiga Poetisa.
Sempre lieto di leggerti.
Um beijo

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

El dolor por los muertos que no han caducado en la memoria. UN abrazo. Carlos

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Um poema e foto magníficos!
As correntes dos rios transportam nas suas águas memórias que temos dificuldade em verbalizar e que jamais esqueceremos.
Gostei muito.
Um beijinho minha Amiga e Enorme Poeta.
Boa semana.
Ailime

partilha de silêncios disse...

Maravilhoso poema.
O silêncio oferecido pela natureza ajuda-nos a ver com maior profundidade e a mergulhar num ambiente de paz e serenidade.
Uma semana feliz
Bjs

teresadias disse...


Belíssimo, poderoso poema, querida Graça.
E mais não digo, por que não encontro as palavras certas.
Que se cale tudo, mas nunca os teu versos, minha amiga.
Beijo, saúde, boa semana.

JUAN FUENTES disse...

Tu que amas a la naturaleza y a las letras

São disse...

Tão belo o poema como a foto....


Amiga, saúde e tudo de bonito na tua vida.

Beijinhos .

Mário Margaride disse...

Um poema sublime. Onde o sentir transposto nas palavras, nos faz pensar, no quão são intensas são as nossas emoções.
Gostei muito, amiga Graça.
Votos de uma excelente semana, com muita saúde e paz.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

pensandoemfamilia disse...

Lindo poema com palavras fortes que nos transmitem as dificuldades do falar. A foto já traz potência. Amei. bjsss

J.P. Alexander disse...

Bello poema. La naturaleza siempre inspira. . Te mando un beso.

solfirmino disse...

É o resumo de uma vida esse poema, minha amiga.
A referência às águas que passaram por um rio e deixaram os lábios e a garganta mais sedentos são a metáfora da busca contínua por significado: "eu vivi, mas ainda tenho sede".

A menção aos "nomes que não esquece" e a tentativa de torná-los "legítimos na precária imortalidade dos dias" indica a importância da memória e da criação literária como uma forma de preservar a identidade.

O que faz é inventar horas extras para se sagrar de silêncio... Lembrei do brasileiro Manuel Bandeira, no final do poema "Pneumotórax": '— A única coisa a fazer é tocar um tango argentino'.

* Gostei da fotografia da Ana.

Um beijinho e boa semana

ManuelFL disse...

Que a poeta me perdoe, mas começo por elogiar a magnífica fotografia da Ana Pires Livramento.

A Graça inventa horas extras para se sagrar de silêncio, fonte de novos poemas.

Beijo

Lucinalva disse...

Bom dia, Graça
Lindo poema, silenciar é preciso, um forte abraço.

Jovem Jornalista disse...

Lugar sensacional!

Boa semana!

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Jovem Jornalista
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Até mais, Emerson Garcia

Luiz Gomes disse...

Boa Noite de terça-feira. Obrigado pelo carinho e comentário. Maravilhoso poema, minha querida amiga Graça.

Betonicou disse...

Oi, Graça! Seu poema expressa uma busca por significado e autenticidade em meio à efemeridade da vida. Gostei imenso. Grande beijo.

Tais Luso de Carvalho disse...

Olá, amiga Graça,
belíssimo poema, forte, verdades...
muitas vezes é preferível ficarmos em silêncio, palavras
não alcançam o significado do silêncio, e esse guarda para
si, palavras que não devem ser ditas.
Uma ótima semana, querida,
muita saúde e paz!
beijinhos.

Juvenal Nunes disse...

Quando a voz fracassa, o silêncio pode reforçar a reflexão para um retorno mais consistente.
Continuação de boa semana.
Abraço de amizade.
Juvenal Nunes

A Paixão da Isa disse...

tao bonita a foto assim como este lindo poema bjs feliz semana saude

Olinda Melo disse...

Um manancial poético esse seu livro, "Antígona passou por aqui".
A cada passo encontramos referências válidas e profundas que dizem
da vida que corre, que segue caminhos líquidos ou sequiosos...
Que as horas que inventarmos sejam extraordinárias no sentido de
serem fora de série. Só assim trarão algum sentido à nossa
existência.

Tudo de bom, amiga Graça.
Beijinhos
Olinda

baili disse...

few words having vast ocean of meaning once again dear Grace

water is a happy thing still having it close as passer by deliver thirst and sorrow to some heart
silence is a still ocean of words the surface so calm but the storm in the bottom ,wave rest and come back good strategy of Nature indeed

hugs and blessings

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Mesmo que calados em nossa memória, não esquecemos os nomes.
Alguns!
Jamais!
Foto e poema muito belos.
Boa semana.
Um beijo
:)

Anónimo disse...

Oi Graça
O silêncio é muito importante
Hoje em dia há muito barulho
Deus está no grande silêncio...
É na quietude e na reflexão que nascem as mais belas poesias como essa.
Abraços e bom fds.

Maria Rodrigues disse...

No silêncio do nossa memória, perduram sempre o que foi importante para nós.
Um poema sublime e uma bela foto.
Beijinhos

Duarte disse...

Versos que destilam um profundo sentir, que o silêncio ajuda a cultivar.
Gosto, e muito
Abraço de vida

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

Na linha do rio corrente teu pensamento correu
E nos teus versos, o meu pensar passa e sente
Que a minha alma contente se encantou com a poesia
Que no teu poema havia, Graça Pires, é um sonho
Tu poema que suponho ser a tua alma o teu guia.

Parabéns, querida amiga. Lindo poema. Abraço fraterno. Laerte.

Pedro Luso de Carvalho disse...

"Invento horas extras para me sagrar de silêncio."
Olá, amiga Graça,
com a sua licença transcrevi o último verso deste
seu belíssimo poema, que tive a oportunidade de
fazer a sua releitura.
Parabéns, poeta!
Uma ótima semana, com saúde e felicidade.
Um beijo, amiga.

lis disse...

Que venham horas extras onde o silêncio possa ser um regenerador
de esperanças, Graça. Está difícil.
Um forte abraço., que a Paz seja restabelecida no mundo.

Os olhares da Gracinha! disse...

Também ando numa de "inventar horas extras"... 👏👏👏😘

Alécio Souza disse...

Querida Graça,
Muitas vezes o que precisamos é apenas de silêncio, da paz que o sossego possa nos trazer e de respirar aliviado o momento raro de reflexão.
Um beijo!

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça,
passando por aqui, relendo este belo poema que muito gostei, e desejar um feliz fim de semana.
Beijinhos!

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Jose Ramon Santana Vazquez disse...

encantador poema Graca
donde saltarinas aguas
echan sus cortinas al
agitado sufrimiento y
anegan de luz esperanza
las llamas del corazón
cuando ve la lluvia arder
sin más esqueje que queja
deje el poema revueltas
luces por apagar antes
verdes cristlinos azulinos
vayan de nuevo escapar
antes de soñar...felicidades
Graca por tu ilustración rio
abajo rie chispas sean color
o el calor del alma en calma.
feliz semana , un fuerte abrazo.
estimada poetisa ,tu amigo ,jr.

orvalhos poesia disse...

Bom é ler quando se retira prazer, admiro muito a escrita da amiga, nem sempre me é fácil dizer-lhe o que sinto, mas como calcula adoro Poesia, então vir aqui é desfrutar de boa Poesia.

Bom fim de semana
beijinho, saúde.

A.S. disse...

O Poema e a foto formam um conjunto magnífico!
Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio
sobre as coisas que verdadeiramente importam.

Uma semana feliz minha Amiga Graça com muita saúde.
Um beijo.

Jaime Portela disse...

Excelente poema, para ler e reler.
Gostei imenso.
Um beijo e boa semana.