13.11.23

Bebo a própria sede

Michael Bilotta


Volto às palavras resguardadas no útero dos sonhos. 
Uma caligrafia exasperada quer ofuscar o brilho 
em meus olhos, exaustos de procurar 
a estrela d’alva no infinito do amanhecer. 
Dobro-me sobre as páginas em que me escrevo. 
Como se fora uma serpente, rastejo as letras 
com sílabas átonas para não desfocar a minha voz, 
quase ilícita, quando me refugio na paisagem 
para habitar as múltiplas geografias das sedes eternas. 
Bebo a tragos longos a própria sede e choro a tristeza 
extenuada de qualquer melancolia distante. 

Graça Pires 
De Antígona passou por aqui, 2021, p. 55

39 comentários:

Luis Eme disse...

"Amo" os teus poemas, Graça...

Jaime Portela disse...

Um poema fantástico.
Gostei imenso, os meus aplausos.
Boa semana.
Beijo.

Rogério V. Pereira disse...

Que belo
e triste

Foi um prazer
conhecer pessoalmente
quem assim
tão bem escreve

Beijo

Ailime disse...

Bom dia Graça,
Um poema muito belo em que a sede, não mitigada, faz sofrer a alma da Poeta.
Lembra o mundo atual em que há uma sede de paz, uma sede que não é saciada e que nos dói.
Beijinhos, minha Amiga e Enorme Poeta.
Tenha uma boa semana.
Ailime

Fá menor disse...

Belíssimo!
Também bebo estas palavras como sede e alimento.

Beijinhos

Marta Vinhais disse...

A sede de uma Paz que tarda...
Lindo...
Beijos e abraços
Marta

São disse...

Há sedes que jamais se extinguem....

Minha Amiga, caloroso abraço e serena semana

brancas nuvens negras disse...

Um poema com a qualidade literária superior de sempre.
Boa semana.
Um abraço.

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde de paz, querida amiga Graça!
Beber da própria sede é tragar mesmo sem querer toda dor do mundo que, com toda razão de sentir, abala nosso ânimo e vigor.
Um poema como lhe é peculiar na sensibilidade e profundidade.
Tenha novos dias abençoados!
Beijinhos com carinho fraterno

Regina Graça disse...

Voz nada desfocada, pelo contrário, irradia muita muita muita Luz!

beijinhos

bea disse...

Um poema que concorda com os tempos. Não sei como se resolve a tristeza do mundo; sei que não posso parar nela, um caminheiro tem de andar, abalar de si mesmo, sendo possível. É seu destino peregrinar.

partilha de silêncios disse...

Muito belo.
Uma semana feliz.
bjs

A Paixão da Isa disse...

um poema lindo a ler adorei parabens bjs feliz semana saude

Mário Margaride disse...

Poema forte e profundo, onde a dor do mundo, vagueia intensamente em cada verso.
Gostei muito, amiga Graça.
Votos de uma feliz semana, com muita saúde e paz.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

carlos perrotti disse...

Qué placer leerte, amiga Graça, lo cual no es nuevo... Sinceramente me saco el sombrero que no llevo. Maestría hay en tus versos, Poeta!!

Abrazo admirado!!

Marina Filgueira disse...

Un poema bello y profundo, amiga, refleja el inmenso dolor del alma por tanta incomprensión en la humanidad guerreante, destructora.

Un placer leerte, gracias por tus letras de aliento en mi rincón.

Un abrazo y se muy, muy feliz.

J.P. Alexander disse...

Melancólico poema. Hay veces que la tristeza nos llena ael alma. Te mando un beso.

Olinda Melo disse...


"Bebo a própria sede."
Em qualquer dos seus livros encontramos
essa sua intimidade com as palavras e todas
todas interpretam o que sentimos no fundo
das nossas almas. Beber a própria sede é
algo que nos traz toda essa carência física
e moral que lemos em cada acto, em cada
gesto do muito que se tem sofrido e do
sofrimento que há-de vir.

Sempre a admirá-la, querida Graça.
Beijinhos
Olinda

ManuelFL disse...

Emocionado, não encontro forma de comentar este poema.
Só apetece reter no peito todas as palavras, aguardando a estrela de alva no infinito do amanhecer.
E beber a traços longos a própria sede.

Adorei a fotografia de Michael Bilotta

Bem hajas, Graça.

Lucinalva disse...

Olá, Graça
Poema profundo. Muito triste o que está ocorrendo no mundo, somente Deus para confortar os corações, um forte abraço.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Muito profundo e emocionante.
Estrofes muito bem construídas a partir da própria sede.
E a sede pode ser saciada de várias maneiras.
Porque a sede também pode ter muitas vertentes.
Um belo poema, que me deixa emocionada.
Boa semana.
Um beijo
:)

teresadias disse...

Um poema poderoso feito de 11 versos brilhantes.
Grande aplauso, minha querida amiga Graça.
Como disse o Papa Francisco «o mundo tem sede paz».
Beijo, boa semana.



alberto bertow marabello disse...

Assetati, abbagliati, chinati, continuiamo la nostra ricerca. Poesia molto bella, molto forte come sempre. Grazie dei tuo versi, amica Poetisa.
Ti auguro ogni bene
Un beijo

Manuela Barroso disse...


Antes que os ocasos tragam sombras que me embarguem o olhar , resguardo- me no silêncio para te ouvir. E é como se fosse um abismo onde não chego para matar ainda mais a sede das tuas palavras , querida Graça.
Belo, profundo , comovente .
Adorávelmente comovente!
Um grande beijinho, Poeta !

Luiz Gomes disse...

Bom dia e uma excelente quarta-feira minha querida amiga Graça. Obrigado pelo texto maravilhoso, dividido conosco.

Isa Sá disse...

Parabéns pela sua escrita.
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Maria Rodrigues disse...

Nostálgico, profundo e belo poema.
Beijinhos

Klaudia Zuberska disse...

I haven't eaten such a dish, but I must say that it looks amazing and I'm sure it's delicious :) I don't know the book, but it has an interesting title :)
Greetings from Poland!

Klaudia Zuberska disse...

I accidentally wrote the wrong comment. That's because I translate everything in Google Translator :D
The correct comment is this one:
A beautiful poem, but also very sad. Deep words that reach into the heart. Each of us has a desire that we have to fight every day.
Greetings from Poland!

Mário Margaride disse...

Olá, amiga Graça,
Passando por aqui, relendo este belo poema que muito gostei, e desejar um bom fim de semana, com muita saúde e paz.
Beijinhos, com carinho e amizade.

Mário Margaride

http://poesiaaquiesta.blogspot.com

Vicky Cahyagi disse...

Great article and artistic pic. Success for your blog ok

.dealer disse...

Um dos textos mais belos que já li Bem haja Abraço

A.S. disse...

Belissimo poema!
Beber a própria sede é ser ao mesmo tempo a fonte e a nascente
e em si própria saciar todas as sedes!

Uma boa semana minha Amiga Graça, com muita saúde.
Um beijo.

RÔ - MEU DIÁRIO disse...

Muito bom ler aqui. Seus versos encantam. Bju

Elvira Carvalho disse...

Um belíssimo poema que gostei de reler.
Abraço e saúde

Tais Luso de Carvalho disse...

Maravilhoso e profundas suas palavras,
amiga Graça!
Leio, releio e só há, em mim, admiração por suas
construções poéticas!
Deixo votos de uma feliz semana, querida amiga.
Beijinho.

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Me encanta ese oxímoron, "bebo en mi ropia sed" que deja tantos interrogantes sobre la existencia. Un abrazo. Carlos

solfirmino disse...

O poema é triste de chorar, parece que o sujeito lírico exausto conecta-se na busca por um significado na vida. Talvez as metáforas da serpente que rasteja as letras e o ato de beber a própria sede sugiram uma jornada de autoconhecimento.

É isso mesmo, as sílabas átonas são melhores. As sílabas tônicas nos deixam afônicos. Eu já passei pela experiência.

O caminho do meio é sempre melhor, embora a estrela d'alva esteja lá no infinito...

Um beijo, amiga.
E bom final de semana.

Ana Freire disse...

Sede de nós... na inevitabilidade do tempo...
Mais uma verdadeira pérola poética, para ler e reler... Muito belo e tocante, este poema, Graça!
Um beijinho grande! bom fim de semana!
Ana