24.1.07

De tanto chamamento

Alfredo Cunha


Caminho de encontro ao entardecer,
com a língua salgada de incendiar
a paisagem de quantos verões
me couberam na boca.
A curva do meu riso indicia o sul da mágoa.
Tenho um barco tatuado nos ossos
e os braços, quase enfermos,
de tanto chamamento.
No próximo verão, hei-de vestir-me de branco,
para que os veleiros avistem a solidão do meu olhar.


Graça Pires
De Uma certa forma de errância, 2003

1 comentário:

Alexandre Bonafim disse...

Graça, de Deus! Que texto é esse?! Êh mulher, você é danadinha. Lindo demais. A fragilidade do branco ante o infinito do mar, a pureza da solidão como marca de nossa fragilidade humana, arrebatam nosso coração. Como sempre, obrigado. Beijão.
Ah, e o seu marido acertou na escolha da foto. Linda, linda. Parabéns.