11.8.08

Memórias de Dulcineia V

Alvarez Bravo


Ponho nestas memórias
a íntima clandestinidade
dos amantes.
Hei-de dizer o nome
de quantas aves se perderam
por roçarem o vazio da noite
em vagaroso voo.
Hei-de ocultar a cara
próximo de uma fonte,
para colar a boca
ao trilho das chuvas.
Hei-de cercar com águas
nocturnas o lume dos seios.
Depois, sei que vou estremecer de aflição,
quando o ranger das portas se confundir
com o chamamento da tristeza.


Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008

23 comentários:

Unknown disse...

Lindo poema.
Preferia no entanto que a intimidade das águas desaguasse na
luminosa e apoteótica festa do mar.
Com barcos buzinando.
Beijos.
Eduardo

Alexandre Bonafim disse...

Querida Graça, como sempre, sua palavra, repleta de lirismo, nos arrebata, nos ensina a viver com mais plenitude. Beijão, minha amiga e até.

hfm disse...

A clandestinidade das memórias anda rente ao chamamento da tristeza. Que poema!

Teresa Durães disse...

a realidade que nos acorda

dade amorim disse...

Belíssimo, Graça.
Beijo.

Marinha de Allegue disse...

Fermoso poema intimista!!!.
Sempre son un agasaio as túas palabras Graça.

Beijinhossssss desde Compostela.
:)

Ricardo Pulido Valente disse...

lindo poema este.

Victor Oliveira Mateus disse...

Hoje não me apetece falar deste poema... citarei apenas dois grandes nomes da nossa literatura
actual: diz Urbano Tavares Rodrigues que esta poesia combina
a riqueza de toda uma imagética com
os principais temas ligados ao hu-
mano, João Rui de Sousa afirma, que
estamos perante uma poesia só aparentemente simples, pois manifesta uma maestria na tecitura
das imagens e na forma como a estrutura do poema se vai fazendo...
Também Henrique Fialho e Maria Augusta Silva, poetas e críticos que muito admiro, tomaram posição relativamente a esta escrita. Tudo isto está publicado..Existem igual
mente longos ENSAIOS sobre esta
poesia, que não tendo (ainda) aparecido em livro foram apresenta-
dos na net (o do poeta Alexandre
Bonafim) e/ou foram lidos ante assembleias, como o de uma pessoa que eu não digo. É qualquer coisa, não é?

Anónimo disse...

Próximo de uma fonte a sede é sempre mais intensa...
Muito belo e intimista este poema.
Beijo.

JPD disse...

Glosando a Inês Pedrosa, a tristeza e a melancolia também integram a instrução dos amantes, esse perene ofíco de entender.
Belíssimo poema, Graça

isabel mendes ferreira disse...

como eu amo este re.encontro!!!!



beijo. Graça.

De Amor e de Terra disse...

Olá Graça, boa tarde.
É minha menina, muita vez se confunde o ranger das portas com outras coisas, que assim nos deixam, tristes, tristes...
Belo poema.
Perdoa só agora vir agradecer o teu comentário, mas tenho andado por aí, por vezes, com portas e janelas rangendo nos gonzos...

Voltarei sempre que possível.
Beijos
Maria Mamede

Luis Eme disse...

lindo...

quanta beleza e sensualidade...

abraço Graça

maré disse...

e hei-de semear o espanto das palavras,
nas colinas da tua pele
e
desatar todos os afluentes que me levem à tua boca.

belíssimo, Graça.

obrigado

maré

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Cada linha que você desenha faz o meu coração estremecer de poesia, sempre.
Beijo de além-mar.

Parapeito disse...

Lindo :) Melancólico , intimista, que nos fica a bailar na retina...

Dias de brisas mansas :)**

mundo azul disse...

...bonito!!! Gosto do seu jeito de escrever...

Beijos de luz e o meu carinho!!!

http://cinzasdecarvalho.zip.net disse...

Querida Graça,
li ontem essa maravilha por várias vezes - à tarde (no café) - li novamente por várias vezes - à noite (na hora da reflexão sobre o dia que se passou).
Voltei agora (20:35h aqui no Brasil), li por outras várias vezes e novamente perdi o fôlego...
Não há o que comentar: lindo! intimista! apaixonado! apaixonante! nada do que for dito retratará fielmente a sutileza com que cada palavra fora posta, no seu devido e único lugar, dando a sua única e possível mensagem.
Voltarei quando voltar o ar aos meus pulmões!
Beijo carinhoso.
Bárbara Carvalho.

Bandida disse...

bravíssima!!!!!!!!!

Ailime disse...

Poema belo, que reflecte um estado de alma nostálgico!
Que a esperança ajude as aves a reencontrarem seu rumo e, que jamais, "o ranger das portas" se confunda com o chamamento da tristeza!
Beijinhos de luz!

Menina Marota disse...

E a doce Dulcineia...nas suas memórias vivas de saudade, ternura e alento...

Grata por ela.

Maria Carvalhosa disse...

Mais uma pérola...
AMO a tua poesia, amiga (mas tu sabes disso, eu é que sinto necessidade de o repetir até à exaustão, por ser tão intenso o que sinto ao lê-los!)
Beijos, beijos.

Nilson Barcelli disse...

Tenho o teu link, mas não me lembro de vir aqui.
E devia lembrar, já que a poesia que li é do melhor que vi nos blogues. Parabéns por tanta qualidade junta (pelo menos desta página...).