22.6.11

Em seara alheia


DOEM BRINQUEDOS NAS VEIAS

Por trás da idade nasce a infância,
os brinquedos enferrujados nas veias doem.
As aves que levantam do coração,
adivinham o tempo escasso.
Trazem nos bicos delírios
que pousam no lodo corporal.

Correm crianças no estuário das mãos.
Mergulham nos dedos
e quando o crepúsculo chega
secam-se às impressões digitais.
Levam nas pálpebras castelos de areia.
Só mais tarde,
quando a idade lhes crava a lua na boca
conhecem a calvície dos dias.

Desarrumados na insónia
sentam-se a espiar a infância.
Sonham uma candura nómada
que lhes adormeça a velhice.

Alberto Pereia

In: Amanhecem nas rugas precípicios. S. Mamede de Infesta: Edium, 2011

27 comentários:

Licínia Quitério disse...

Belo poema deste poeta que já tive o prazer de conhecer. Merece o destaque aqui na Seara. Sempre atenta e amiga, Graça.

hfm disse...

Que beleza! Que imagens! Que poética!

Luis Eme disse...

e como é bom espiar a infância.

boa escolha, Graça.

beijinho

Pena disse...

Olhe, Brilhante e Estimada Poetiza Amiga:
É mesmo uma "insónia" profunda perante este poema de sonho e beleza.
Parabéns sinceros, transforma a "insónia" fatal e inapelável numa aventura maravilhosa e cândida do seu existir perfeito como poetiza deslumbrante.
Notável.
Abraço amigo de respeito ao seu encanto poético admirável e gigante.
Com admiração constante.

pena

Adorei.
Bem-Haja, pela magia que só VOCÊ consegue versejar.
É um espanto!

Desnuda disse...

Querida amiga,

Creio que não conhecia o excelente poeta. Lindo poema que depreendi sensíveis reflexões. Obrigada.

Beijos com carinho, Graça.

Adriana Riess Karnal disse...

voce sempre generosa com a poesia.
belo poema.

Alberto Pereira disse...

Fico muito feliz por ver um poema meu publicado "Em seara alheia".
Obrigado Graça, por esta oportunidade de aparecer num espaço que eleva a poesia.

Alberto Pereira

AFRICA EM POESIA disse...

GRAÇA

Lino poema



encontro _me a caminho da Hungria para umas férias curtas mas que vou tentar aproveitar.

Um beijo

Marta Vinhais disse...

E na velhice, é ternura que se dá e se deve receber....
Lindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

acho que velhice e ternura estão de mãos dadas.
uma boa escolha de um poeta que sinceramente nao conhecia. mas vou pesquisar.
um beij

manuela baptista disse...

podem doer

mas às vezes
também se espantam com quem ainda lhes acorda os dias


desarrumada na insónia, digo

que gosto deste poema!

um abraço à Graça e a Alberto Pereira

manuela

teresa p. disse...

A nostalgia da infância...
Gostei muito deste poema de Alberto Pereira, que não conhecia.
Parabéns ao autor e também a ti que nos dás a conhecer bons poetas.
Beijo.

Sentado no Fim de uma Âncora disse...

Gosto deste despertar


das mãos de infância

corre neste estuário

o repouso da ânsia

um tempo de ser rio.


abraço.

Paula Raposo disse...

Um belo poema! Gostei muito. Obrigada pela partilha, Graça.
Beijos.

d'Angelo Rodrigues disse...

Cruel e contundente a beleza de "As aves que levantam do coração, adivinham o tempo escasso".

De Amor e de Terra disse...

Obrigada Graça pela partilha deste belo poema, dum comum editado, já que ambos somos dados à estampa pela Edium e que eu desconhecia.Belíssimo o poema; só pode falar de idades deste modo, quem já caminha depois do meio.
Bjs. Amiga
M.M.

Jaime A. disse...

Esta dicotomia infância-velhice tão sentida...
Talvez haja uma memória maior dos tempos idos, da meninice, na velhice.
Gostei muito.

José Ángel García Caballero disse...

Por trás da idade nasce a infância,
os brinquedos enferrujados nas veias doem.

Este começo é belísimo, gostei muito do poema,

um beijo

Álvaro Lins disse...

Enquanto se lê a poesia (excelente), esquecem-se as agruras da vida1
Abraço

henrique doria disse...

A Graça tem poesia nas veias

José Leite disse...

Excelente poema de alguém que não conhecia...

Maria Carvalhosa disse...

Muito bom, o poema do Alberto. Como todo o seu último livro, em minha opinião. Gosto de o ver aqui, na tua criteriosa selecção de "Em seara alheia". Beijo amigo, Graça.

Nilson Barcelli disse...

Gostei da tua escolha.
É um bom poema.
Um beijo, querida amiga Graça.

Anónimo disse...

"Demore na dúvida ...
E descubra a sabedoria que insiste em se esconder
Na ausência das palavras!"

(Pe. Fabio de Melo)

Beijos e meu carinho...M@ria

Parapeito disse...

Obrigada doce Graça por esta partilha tao bonita.
Brisas doces para si***

Carlos Leite disse...

Não conhecia este poeta, mas está um belo poema ! :)
O maior desgosto de toda a minha vida foi deixar a infància...


Atenciosamente,
Carlos Leite, http://opintordesonhos.blogspot.com

ángel disse...

Muy bello y plástico. Gracias.

Un gusto haber llegado hasta aquí.


Saludos...