24.8.11

Um espesso pó nos aguarda

Walker Evans

Um espesso pó nos aguarda.
Por isso transformamos a ombreira
da porta num braço de mar.
O soalho de madeira faz da casa um navio
onde as ondas iludem a errância do casco
e a geometria das tábuas repete
a simétrica dimensão dos mastros.
Um remo parado significa uma espera
ou a irremediável secura do olhar.
É então que percorremos a casa
e trancamos as portas para que o vento
não seque os olhos alagados
com que regamos o jardim.

Graça Pires
De A incidência da luz, 2011

34 comentários:

Amélia disse...

Gosto, como sempre gosto, dos seus poemas. Abraço

hfm disse...

Da primeva pureza!

Desnuda disse...

Querida Graça,


"...
Um remo parado significa uma espera
ou a irremediável secura do olhar.
É então que percorremos a casa
e trancamos as portas para que o vento
não seque os olhos alagados
com que regamos o jardim."


Maravilhoso amiga. A fotografia é ótima.


Beijos com carinho e ótimo dia!

De Amor e de Terra disse...

...às vezes, porém, o barco é apenas o nosso coração, casco lambido pelas ondas-lágrimas e batido pelos soluços-ventos, onde os sonhos desfeitos são velas rasgadas.
Obrigada minha querida Graça, por mais um momento de muita beleza e nostalgia.
Bj.
M.M.

Braulio Pereira disse...

alma divina..

fonte de agua cristalina...

bebo tua essencia


beijo amiga!!

Menina Marota disse...

"...
Por isso transformamos a ombreira
da porta num braço de mar."

Lindo!

Como sempre a sensibilidade de uma alma que se quer recolhida no sentimento das palavras, no amor e na dor.

Beijos

Pena disse...

Prodigiosa Poetiza Amiga:
"...Um remo parado significa uma espera
ou a irremediável secura do olhar.
É então que percorremos a casa
e trancamos as portas para que o vento
não seque os olhos alagados
com que regamos o jardim..."

É linda e pura no que concebe de ternura, pureza e encanto nos seus sensíveis e extraordinários versos de amor.
Parabéns pelo seu talento e pela forma mágica e terna como os concebe.
Adorei, preciosa poetiza.
Abraço amigo de respeito, estima e consideração por si e pelo que é.
Os seus versos fascinam, amiga.
Com admiração sempre e de forma constante.

pena

Bem-Haja, pela honra da sua amizade preciosa.
É uma pérola preciosa muito valiosa e maravilhosa.
Adorei.

São disse...

Continuo a apreciar a tua poesia.

Bem hajas!

José Manuel Vilhena disse...

...um abraço de mar...
:)

Luis Eme disse...

muito bom, o mar levou toda e qualquer poeira...

beijinho Graça

Rosinha disse...

Gosto :) Bjs

partilha de silêncios disse...

Lindo poema à solidão.
É assim, na solidão da casa vazia, quando as cadeiras antes ocupadas, agora ganham pó. Restam as memórias, para alimentar os dias.

beijinhos

Marta Vinhais disse...

Mas o mar varre tudo....
Quando furioso.....
Lindo....
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

Mar Arável disse...

Lavar os olhos com águas do mar

Excelente amiga

AFRICA EM POESIA disse...

A foto faz poesia imediatamente.

ADOREI

Ando muito empolgada com o novo livro. espero tê-lo esta semana Vamos ver se consigo...

BEIJOS

Manuel Veiga disse...

"casa onde caibas, Mar quanto vejas!"...

admiravel poema.

beijo

Fátima disse...

Realmente, Graça,
"percorremos a casa
e trancamos as portas para que o vento não seque os nossos olhos alagados com que regamos o jardim."
Senão, como crescerão as flores?
Beijos
Com carinho
da
Fátima

Paula Raposo disse...

Belo, como sempre, Graça. Um beijo.

Evanir disse...

Chorar é como lavar a alma, pode ocorrer por vários motivos,
quando se é do coração é pura e verdadeira.
É bom quando algo ou alguém nos prende a atenção por segundos como a lua,
é um ser que encanta.
Gostei, o amor é: "Amor é carinho, é ternura, é ação...
É sentimento que vira canção."
Deus é a mais pura essência do amor,
cabe a nós aprender com Ele a amar de verdade.
Bjs, abençoado dia,,muita paz na sua vida.
A mensagem de hoje é de um amigo que deixou no meu blog.
Por ser linda e verdadeira
sem poder digitar por muito tempo.
Razão da minha cola só não sei é viver sem você.
Com carinho,Evanir.
Poesia e imagem que encanta minha alma.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

e uma casa a ver o mar (sempre)

muito belo.

beij

Jaime A. disse...

As portas estendem-se pelo espaço e a espera não termina. A busca... sempre a busca...

José Ángel García Caballero disse...

um remo parado significa uma espera... que sempre tem essa cor castanha de quem procura refúgio...

Muito, belo, Graça!
Um beijo

MENSAGENS AO VENTO disse...

_______________________________

...que lindo! Nem a tristeza dos versos embaça o brilho da sua poesia...


Beijos de luz e o meu carinho!!!


Zélia(Mundo Azul)

___________________________

Benó disse...

...os olhos alagados com que regamos o jardim.

Uma partida, uma espera, uma paragem. Por mais que se tranquem portas e janelas, os sentimentos, esses, é nos olhos que encontram saída.

manuela baptista disse...

num braço de mar, um farol

destranco esta porta, num regresso à casa das suas palavras

onde é bom ficar

ainda

um espesso pó nos aguarda


um beijo, Graça

manuela

teresa p. disse...

"Um remo parado significa uma espera..."
É uma metáfora sublime e profunda, assim como todas as que o poema contém.
A foto é lindíssima e ajustada às palavras.
Beijo.

tecas disse...

«Um remo parado significa uma espera
ou a irremediável secura do olhar. » A ligação da vida de cada um num maravilhoso poema.
Bjito amigo, querida Graça.

Anónimo disse...

Todas as casas são navios, nem todas têm um timoneiro para os conduzir, mas todas têm o pó dos dias. que nos guarda.
Um abraço sem pó.

Parapeito disse...

Doce Graça...sempre que aqui chego...fico com a alma regada.
adorei
brisas doces para si*

Licínia Quitério disse...

Nossa casa, nossa nave, nós.

Como tu sabes dizer, Graça.

Um abraço, Poetisa.

Nilson Barcelli disse...

Mais um fabuloso poema.
Leio e releio o que publicas, porque as tuas palavras deliciam-me sempre.
Beijos, querida amiga Graça.

lupuscanissignatus disse...

o casco

dos

navios


[são a morada
de muitas
correntes]


*****

um beijo,
Graça

Fernando Campanella disse...

É então que trancamos nossos sonhos mais caros a sete chaves, defendemos, alheios ao golpe sece, duro, da vida. A poesia é um sagrado reduto.
Maravilhoso o poema, Graça, como é bom te ler, minha querida amiga.
Beijos.

AC disse...

O nosso olhar está condenado a procurar (e proteger) resquícios de vida...

Beijo :)