7.6.15

Em seara alheia



XV


Este silêncio que à noite se infiltra como presença 
há muito esperada. Este silêncio que a brisa 
aconchega e pelos claustros sobrevoa o negrume 
da vida. É um bater de asas nas copas das árvores, 
uma doçura a escorrer pelas cornijas 
tão pelo tempo esbeiçadas 
e é também o reflexo da minha sede. 
Uma sede sem limites nem fim e onde uma ânsia 
de Amor me antecipa visões e êxtases. 
Este é o silêncio que sempre quis, 
aquele que à noite atravessa 
corredores e celas desenhando nas lajes 
as minhas Moradas - caminhos que nunca cedo, 
como se num antiquíssimo sonho uma nítida mão 
a mim me salvasse.
                                          
Victor Oliveira Mateus
In: Negro Marfim. Fafe: Labirinto, 2014, p. 29

33 comentários:

Graça Pires disse...

“O silêncio dentro de mim” (p. 23) podia ser o mote de Negro Marfim de Victor Oliveira Mateus. É ele, a sua inquietação e o seu fundo sem fundo, que fazem ressaltar a visão “negra” mas brilhante, resplandecente, do texto do autor, um texto impiedoso e desumano, próprio de uma época que substitui o silêncio e o desassossego da existência pelo ruído superficial e pela claridade estonteante do dia-a-dia. […] Palavras de Miguel Real no prefácio do livro.
Parabéns Victor!

Mirtes Stolze. disse...

Bom dia Graça.
Um lindo texto amiga, o silencio é algo que nós traz muita paz. Uma feliz semana.
Beijos.

Cidália Ferreira disse...

Texto maravilhoso!!!
Beijo, bom domingo

http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

Shirley Brunelli disse...

Amo o silêncio,
cúmplice de nossos pensamentos
e sincero ao sussurrar em nossa alma...
Lindo!
Beijos!

Sinval Santos da Silveira disse...

Querida amiga, Graça Pires !
Que bela busca fizeste, dando-me a conhecer
as entranhas de um primoroso texto de intensa
paixão. Muito agradecido.
Um carinhoso abraço, aqui do Brasil.
Sinval.

Verânia Aguiar disse...

Muito obrigada pela visita, sera smp bem vinda beijinho

Daniel Costa disse...

Graça Pires, dá vontade de dizer: quando for grande, quero escrever bem, como Victor Oliveira Mateus. No trecho que serves, o escritor mostra uma apreciável mística estética.
Reportando-me, o restaurante Maré Alta, sem ser restaurante do alto, tem bom ambiente e o binómio, qualidade - preço, é bem convidativo.
Beijos

Mar Arável disse...

Tantos são os silêncios

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

a escrita bela e inconfundível de Victor Oliveira Mateus.

uma boa escolha!

bom domingo

beijo

:)

Marta Vinhais disse...

Um silêncio que fala...Mesmo que seja só em nós....
Uma boa escolha.... Obrigada pela partilha...
Beijos e abraços
Marta

Agostinho disse...

A Graça vem servir-nos ao domingo, o primeiro dos dias, o evangelho perfeito.

O silêncio saturado de sons
vem desinquietar-nos a noite:
um espanejar de penas
rumoreja as horas
impiedosamente
nas ramadas da memória

Bj

Teté M. Jorge disse...

Silêncio que faz falta no tumulto constante da vida...

Beijo.

Fê blue bird disse...

Um poema intenso que nos transporta para um mundo ímpar.
Desconhecia este Poeta e já fui pesquisar o seu blogue e as suas poesias.

Um beijinho e boa semana amiga Graça

MARIPA disse...


Um poema que inquieta e nos faz pensar. Conhecemos o silêncio. Não temos medo dele.
Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que muitas palavras.

Bem haja por me ter dado a conhecer este poeta, fico-lhe grata.

Beijinho, amiga Graça

MARILENE disse...

Não se trata de um silêncio qualquer, daqueles que por vezes habitamos. O silêncio do autor tem raízes específicas e foi brilhantemente descrito. Bjs.

Isa Sá disse...

Bonito poema.

Tenha uma ótima semana!

Isabel Sá
https://brilhos-da-moda.blogspot.pt

Ives disse...

É um grandioso voo poético! Lindo! abração

Anónimo disse...

Obrigado, Graça. Sempre solidária! Achei interessantes alguns dos comentários: Daniel Costa fala de mística estética, Agostinho fala de Evangelho perfeito, etc. Boa intuição poética! Quase adivinharam, porque este texto foi escrito para uma obra que saiu em Espanha, para comemorar os 500 anos de Teresa de Ávila. Nesse país acabou por ser traduzido pelo Prof. Alfredo Perez Alencart da Univ. de Salamanca e por lá saiu em Castelhano, só depois é que achei por bem integrá-lo neste meu livro. Portanto, minha amiga, tens aqui bons leitores de poesia no teu blogue. Parabéns! Agradeço-te também a inclusão deste poema neste teu espaço de tão grande qualidade literária. Um abraço grande e amigo, Victor Oliveira Mateus.

Delfim Peixoto disse...

O Amor é isto que escreve e descreve. Muito bom ler. Bj.

Ani Braga disse...

Oi Graça querida


Lindo poema...
Como sempre você agracia com coisas lindas.

Beijos
Ani

ManuelFL disse...

Escrevo estas palavras depois de ter lido o comentário do autor.
Procurei fugir da angústia da influência partilhando a minha sedução pela escrita do Victor, onde se infiltra uma procura do absoluto pelos caminhos do silêncio, da sede, do sonho.
Sede de Absoluto que é ânsia de Amor.

teresa p. disse...

"Este silêncio...reflexo da minha sede. Uma sede sem limites..."
Lindíssimo este texto, sobre um slêncio desejado, místico e profundo.
Gostei muito. Parabéns ao Victor pelo seu novo livro.
Beijo

Lourdinha Vilela disse...

Belo!!
Silenciar muitas vezes diz mais que milhões de palavras. Eu prefiro sempre o silêncio que me inspira.
Um grande abraço.

Pérola disse...

Silêncios infiltrados por poesias grávidas de palavras por nascer.

Beijinhos

Manuel Veiga disse...

motivo de alegria - a descoberta de mais um poeta

grato

beijo

Ailime disse...

Boa noite Graça, belíssimo poema.
Os silêncios que vão tomando conta de nós
neste mundo conturbado.
Um beijinho.
Ailime

São disse...

Mais uma vez parabéns pela tua generosidade.

>Beijinhos amigos, linda

Maria Rodrigues disse...

Excelente escolha, lindo poema.
Beijinhos
Maria

vieira calado disse...

Aí está mais um poeta que não conhecia.
Portugal é mesmo, um país de poetas!

Beijinho para si!

Anónimo disse...

Por este silêncio escorrem as palavras do Poeta como se fossem água. Um silêncio como se fosse ao mesmo tempo prece e grito, dádiva e entrega.
Parabéns ao Victor Oliveira Mateus.
Beijos.

Unknown disse...

O silencio que se procura e deseja é srmpre uma nascente de boa Poesia.

Existe Sempre Um Lugar disse...

Boa tarde, excelente poema e divulgação de mais um poeta.
AG

Odete Ferreira disse...

Não pude deixar de ler os comentários e quase é superfluo o que vou escrever. Em todo o caso, antes de os ler, senti a beleza do conteúdo perpassando-me que o silêncio é um leitmotiv na poética de quem escreve, sendo ora o momento do recolhimento e da interioridade, ora o grito da angústia existencial, podendo ambos coexistir e serem libertados no verso.
Gosto do silêncio e dos silêncios que crio para escrever...
Obg por poder ler. Parabéns ao autor.
Bjo, amiga :)