11.11.19

O navio não voltou

Jean Dieuzaide


O navio não voltou – gritaram as mulheres.
O arpão dos gemidos sangrando suas bocas.
Foi o vento – disseram os homens
e desenharam na areia o madeiro e a vela.
Foi o escuro – falaram os meninos.
Tinham sonhado toda a noite com piratas.
E o velho sábio, antigo como as tempestades,
que sabia de cor a braveza dos marinheiros,
há muito que avisara: ninguém se salva
de um naufrágio com a bagagem às costas.(1)

Graça Pires
De Uma claridade que cega, 2015, p. 24

(1) Séneca - Cartas a Lúcio

55 comentários:

chica disse...

Deu porá sentir bem o momento! Linda e forte poesia e mensagem nela! beijos, chica ótima semana!

Larissa Santos disse...

Belo, porém muito triste:))
Hoje-:-Somos a base que nos eleva, somos emoção

Bjos
Votos de uma óptima Segunda - Feira.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um excelente poema, gostei e aproveito para desejar e uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Sandi disse...

Haunting...

Marta Vinhais disse...

Foi o Mar....quando a tempestade se fechou em si...
Lindo...
Beijos e abraços
Marta

Daniel Costa disse...

Graça Pires, poema que mesmo retratando a tragédia dos homens do mar, não deixa de traçar boa imagem, dessa mesma tragédia.
Bjs

Ives disse...

É uma alegoria com uma mensagem profunda por trás! Sábio. beijos

Cidália Ferreira disse...

Como sempre, surpreendente! Amei!
Adorei a imagem.

-
Uma lenda das adegas
Beijo e uma excelente semana!

Anónimo disse...

E o velho sábio, antigo como as tempestades sabe de cor o peso da bagagem que carregamos.
Beijinho
Carmo Baião

Roselia Bezerra disse...

Boa tarde de paz, querida amiga Graca!
Bagagens nos fazem ficar com a alma pesada...
Nao nos deixam concentrarmos no foco do que desejamos conquistar.
Ha tantas possibilidades do nao retorno do mar com vida.
Voce deixa um toque especial nos poemas que constroi. Muito bom passar aqui... Saio contemplada.
Tenha dias abencoados e felizes!
Bjm carinhoso e fraterno de pazbe bem
Bjm

Marco Luijken disse...

Hello Graça,
Impressive words of these lost human.

Big hug, Marco

carlos perrotti disse...

Poema profundo, Graça. Eu li como uma homenagem a tantas vidas naufragadas, a tantos heróis anônimos do mar... Sua poesia sempre emociona, amiga.

Abraço muito grande.

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Quizás deba para lograr sortear la tormenta, ser ligero el equipaje como en la canción, de Nino Bravo. Un placer leerte. Un abrazo. Carlos

Mar Arável disse...

Contigo a poesia ganha incomensuráveis dimensões
Bj sempre

José Carlos Sant Anna disse...

Tão metafórico o poema quanto intensa a angústia de um náufrago com bagagem às costas.
Gosto do modo de dialogar com Sêneca e deste "zumbido" sobre o futuro do homem, não apenas sobre o mar! E como gosto da asa leve do seu canto!
Um beijo, minha amiga Graça!

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
"O navio não voltou" e os corpos abandonados na praia, exaustos, na esperança do regresso.
Um poema muito belo, profundo, que emociona.
Um beijinho, minha Amiga e Enorme Poeta.
Desejo-lhe uma boa semana.
Ailime

A Paixão da Isa disse...

bonito mas triste ao mesmo tempo parabens por mais um poema com alma bjs

saudade disse...

Quantos ficam na areia e o navio nao voltou. Excelente.
Boa semana

Majo Dutra disse...

A frase de Séneca muito bem aplicada num poema
expressivo e metafórico.
Foi um prazer lê-lo e apreciá-lo.
Uma semana ótima, minha Amiga.
Abraço
~~~

" R y k @ r d o " disse...

Lindo, lindo, magistral poema sobre o Mar, barcos que naufragam, marinheiros que vão e não voltam
.
Votos de uma semana feliz.
Cumprimentos poéticos.

bea disse...

E eu digo mesmo mais, seja ou não marinheiro, ninguém se salva com a bagagem às costas. Toda a salvação - seja isso o que for - requer despojamento.

Maria Emilia B. Teixeira disse...

Um poema que chora e faz chorar.
Boa semana.Bjs

Toninho disse...

Este me emocionou ao ler o livro Graça.
Uma inspiração que imagino a dor no momento de cada verso, de cada expressão.
Só os grandes poetas conseguem colocar tanta dor numa esperança vã.
A beleza do triste só a poesia.
Beijo amiga e feliz semana.
Bom ter suas obras em mãos e assim reler e sentir sua força.

fatimawines disse...

Olá Graça!

Um poema vestido de filosofia.
Quantas e quantas vezes, sinto necessidade de pegar na "trouxa" e levar só o que me faz falta.
Antes, muito antes de reciclar o lixo, importa aliviar a carga que trazemos dentro de nós.
Gostei do poema e da metáfora.
bj.

Isa Sá disse...

Há tantos navios que não voltam....infelizmente.

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Micaela Santos disse...

Escreve com tanta criatividade e sensibilidade!
Parabéns
Beijinho

ManuelFL disse...

A braveza dos marinheiros não ignora as palavras avisadas do velho sábio, muito menos o grito das mulheres e o sonho dos meninos. Apesar do vento e das tempestades continuarão a desenhar na areia o madeiro e a vela. Porque é essa a sua condição.

lanochedemedianoche disse...

Tristeza de mar con penas de sus criaturas.
Abrazo

Manuel Veiga disse...

velhos assim que vêm das entranhas do tempo!
e que ocupam toda a paisagem...

belíssimo, querida Poeta

beijo, minha Amiga

mz disse...

Muitos são os navios que não regressam, afundam-se com todas as dores que trazemos no peito e fica o corpo sem a alma, fica o corpo sem vontade da vida.

Um poema numa forma muito bela de nos trazer um retrato sofrido.

Um beijo.

Agostinho disse...

Foi o vento, foi
Foi o escuro, foi
Foi a bagagem, foi
A Poeta a sentir o sentido da nortada
A Poeta a ver na escuridão do escuro
A Poeta a saber do peso da bagagem
A Poeta a dar-nos as emoções que sentiu no dorso do verso do horizonte à praia de gente sem horizonte

Muito grato, cara Amiga.
Um beijo.

teresa dias disse...

Li, reli, e fiquei sem palavras! (Aqui me acontece vezes sem conta...)
Ao juntares palavras tuas às de Séneca o efeito foi brilhante e emocionante por demais.
Teimamos em não despegar da bagagem que trazemos às costas... e do mar revolto, na escuridão da noite, o navio não volta!
Beijo, querida amiga!

Anete disse...

Densamente forte e reflexivo. A dor da esperança perdida...
Um abraço grande nesta quarta-feira...

Olinda Melo disse...


Nos naufrágios da vida ou em momentos-chave, em que se decidem
coisas importantes não nos falta o peso da bagagem, coisas supérfluas
que nos impedem de devassar a escuridão e enfrentar as tempestades.

Belo poema, minha amiga. Fico presa às suas palavras que me
levam sempre numa proveitosa viagem ao interior de mim.

Beijinhos

Olinda

Olinda Melo disse...


...não nos faz falta...
:)

Maria Rodrigues disse...

Palavras sentidas e intensas num poema sublime.
Beijinhos
Maria

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Intenso e profundo.
E a sabedoria do velho vale tudo.
Que belo!

Beijinhos

:)

Manuscritos Da Alma disse...

Fantástico, confesso que, "viajei", aqui com a minha imaginação,
lendo esse gostoso texto, muito obrigado por posta-lo!...
Beijinhos com carinho!!!

Tais Luso de Carvalho disse...

Querida Graça, que triste essa foto e o poema, mas ambos belos! Retratam perfeitamente as dores do mundo, penso que é o que mais existe. Nos 'intervalos' o mundo sorri...
Beijo, boa semana!

baili disse...

horrifying reality dear Grace !

you painted the pain and fear so powerfully

i wonder when people with power will care about their common man and will stop using them for their selfish aims
i agree we don't need it

Vanessa Casais disse...

Isto toca tanto. E remete-me para um texto recente que tanto me comoveu e que partilho consigo
https://www.publico.pt/2019/10/30/p3/cronica/carta-1891941.

Beijinhos,
Vanessa Casais
https://primeirolimao.blogspot.com/

Jaime Portela disse...

Os receios dos naufrágios atormentam as famílias dos pescadores. É um pesadelo bem real. E, com o mau tempo que se instalou hoje, o perigo é ainda maior.
Mas o seu poema é magnífico, gostei imenso.
Graça, continuação de boa semana.
Beijo.

teresa p. disse...

"O navio não voltou". Um drama real, onde a esperança e o desespero se entrelaçam. É O choro e os gritos das mulheres, a tristeza das crianças e visão conformada dos que olham para a situação como um destino natural de quem anda no mar.
O velho sábio, "que conhecia a braveza dos marinheiros há muito que avisara: Ninguém se salva de um naufrágio com a bagagem às costas..."
Um poema intenso e emocionante. Maravilhoso, tal como a foto, que impressiona muito.
Beijo.

Fá menor disse...

Belíssimo! Dores da vida que matam.
Por vezes temos de despojar-nos do que nos carrega, para que o mar e as tormentas da vida não nos subjuguem, como um naufrágio.

Beijinhos, amiga Graça.

Ana Freire disse...

Um poema muito belo e profundo, que valoriza com imensa sensibilidade, as vidas perdidas, dos que têm no mar, a sua forma de subsistência!...
Absolutamente tocante, Graça! Gostei imenso!!!
Finalmente de volta, a este inspirador espaço, do qual já tinha imensas saudades, depois de um longo interregno meu, deste universo que é a Net...
Sempre um prazer imenso, Graça, apreciar os seus notáveis poemas!
Beijinhos! Desejando-lhe a continuação de uma feliz e inspirada semana...
Ana

Pedro Luso de Carvalho disse...

Gostei muito deste seu poema, Graça (“O navio não voltou”),
que é um dos poemas que compõem o seu livro
“De Uma claridade que cega”, 2015.Parabéns
Bom final de semana, Graça.
Um beijo.

Anónimo disse...

Seus poemas despertam pensam e sensações tão diversas que parecem inconciliáveis.

ruma disse...

Piratas tirando uma soneca. Adorável.

Seu sentimento artístico é requintado.
Elogio aos sentidos.
Eu amo sua fotografia.

O melhor elogio.

Do Japão, ruma ❃

LuísM Castanheira disse...

Tragédia que do fim dos tempos povoa os olhares do destino.
Só o "velho sábio" conhece o verdadeiro sentido do despojo; da alma na leveza da passagem.
Belo poema, minha querida amiga, construido como se a fatalidade fosse
Mistério.
Um bom fim-de-semana, Graça
Um beijo.

manuela barroso disse...


Num mar, nem sempre azul, quantas vezes sucumbimos com o peso que carregamos no fardo que por vezes é o barco da vida!
Esperemos a bonança na praia ainda quente e macia.
De ti, querida amiga Graça e sem mais palavras...
Aquele abraço!

Mayur sharma disse...

Nice idea!! Thank you so much for such information. I’ve been waiting patiently for your next blog.
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Sinval Santos da Silveira disse...

Querida Mestra / Poetisa, Graça Pires !
Diante do cenário, descrito com tanta fidelidade,
somente um "Sábio" poderia explicar a dor e o
resultado da brutalidade...
Parabéns, Amiga. Belíssimo texto!
Um carinhoso abraço. aqui do Brasil.
Sinval.

solfirmino disse...

Assim como o Velho do Restelo, de Camões, esse velho sábio entende de naufrágios e marinheiros. E eu sempre fico triste lendo poemas sobre naufrágios. Mas você sempre faz magistralmente.
Beijinhos, minha amiga.

Sandra May disse...

Deixemos para trás os fardos que possam impedir a nossa salvação...recomecemos sempre!
Todo o meu respeito à sua obra, Graça.
Um forte abraço.

manuela baptista disse...

pois não!

No princípio e no fim, somos apenas nós.


beijinhos Graça