5.10.20

Não frequentou a escola

Adriano Miranda

Não frequentou a escola 
no tempo de criança que lhe coube. 
O trabalho instalou-se, desde sempre, 
na orfandade de suas mãos. 
Queimava alecrim para incensar 
a cal das paredes por onde gotejava 
a secura dos olhos. 
Um cansaço antigo a transformou 
em filha de si própria. 

Graça Pires 
De A solidão é como o vento, 2020, p. 25

61 comentários:

Olinda Melo disse...


"Um cansaço antigo a transformou
em filha de si própria"

Não haverá solidão maior, saber
que o nosso mundo é apenas o nosso
mundo interior. Somos animais
gregários, gostamos de nos
reunir, conversar, amar.

Neste Poema, querida Graça, lemos
a tragédia de tanta gente. E que
que no-la mostra.

Beijinhos
Olinda

Agostinho disse...

Que magnífico ser talhado
na mestria do verso transparente
Não frequentou a escola, mas
no âmago transportava a
energia da origem dos tempos,
que levedou no ventre, com que alargou paredes no olhar tolhido
dos dias pequenos e, quando preciso,
lavou noites tormentosas
com o seu próprio sal

Um beijo, muito amigo, Graça Pires.

chica disse...

Um espetáculo de poesia...Nem sempre o tempo de criança pode ser vivido plenamente,como merecido.Pena! beijos, linda semana! chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Vidas difíceis e sofridas.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

N A S S A H disse...


muito imaginativo.. gosto muito

Maria Emilia B. Teixeira disse...

Que escrita maravilhosa!
Uma semana abençoada para você. Bjs.

María disse...

Tristes vidas que laten desde el sufrimiento.

Preciosa entrada y la imagen.

Un placer estar en tu blog.

Besos enormes.

A.S. disse...

" A solidão é como o vento". O absurdo tempo que em nós fica doendo...
Tão verdade!

Uma boa semana, com muita saúde minha Amiga.
Um beijo.

Cidália Ferreira disse...

Muito bom!! :))
-
O silêncio que deslumbra pensamentos
-
Beijos e uma excelente semana!

Ailime disse...

Boa tarde Graça,
Um poema doído e belo que fala de quanto era injusta e triste a não frequência da escola substituída precocemente pelo trabalho árduo na infância não vivida, antes sofrida.
É bom que não nos esqueçamos, hoje, que estes problemas existiram e, se existiram.
Um beijinho, minha Amiga, e Enorme Poeta.
Boa semana com muita saúde.
Ailime

Teresa Durães disse...

Tantos portugueses passaram por isso, de pequenos a trabalhar para ajudar os pais, no campo, nas fábricas, até a vender jornais. A pobreza, o analfabetismo, uma realidade que em breve vai ser esquecida.
Dizia a minha avó quando via um dos ex alunos a queixarem-se da vida:
- Já não te lembras quando eras criança e ias descalço no inverno para a escola.

A pobreza continua, muitas vezes escondida.
Um grande poema!

Fica segura, é o melhor que podemos fazer porque, por mim, estou cansada de máscaras, de falta de um beijo na face, do distanciamento social, da desconfiança, este país que se tornou assim. E visitam-se os pais e os avós à distância ou nem isso.

" R y k @ r d o " disse...

Uma grande maioria das crianças, no tempo dos meus avós, não iam à escola. Iam trabalhar com criadas para os mais ricos. Eram abusadas e/ou abusadas sem crise alguma. Tristes aqueles que delas abusavam, principalmente as raparigas.
.
Início de semana feliz
Cumprimentos

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Graça

vidas dificeis.
um poema dorido que nos comove até â alma
bem escrito como sempre, mas muito forte.
a imagem escolhida faz um bom suporte ao poema.
boa semana com muita saúde e paz.
beijinhos
:)

A Paixão da Isa disse...

confeço que me estou a ver aqui pois eu tambem nao fiz muito tempo a escola pois fui trabalhar muito criança adorei bjs saude

carlos perrotti disse...

Versos que me lembram meus avós, meus pais, versos adaptáveis ​​também a outras histórias dessa época... mais uma prova de que é eterno o ontem.

Abraço mais que grande Poeta. Cuide-se bem.

brancas nuvens negras disse...

Um pequeno retrato de muitas, diria milhares, de situações idênticas. Um poema para chamar a atenção.
Obrigado.

Sinval Santos da Silveira disse...

Mestra / Poetisa, Graça Pires !
Em cada frase, de essência poeticamente
perfumada, se pode resumir uma história
de vida...
Conheço muitas. Porém, nenhuma tão bem
explicitando emoções.
Parabéns, uma ótima semana e um fraternal
abraço, aqui do Brasil !
Sinval.

neyborba disse...

Que imagem linda, numa composição perfeita com a poesia. Adorei!
Uma feliz semana para ti. Abraço.

JUAN FUENTES disse...

El saber siempre se encuentra en los libros

Luiz Gomes disse...

Boa noite Graça. Parabéns pelos belíssimos versos. Uma excelente segunda-feira.

Fá menor disse...

E há tanto quem tenha de proteger-se a si próprio, ainda que possa ter frequentado a escola, póis se o não fizer, quem o fará?...

Belo!
Beijinhos e boa semana!

solfirmino disse...

Amiga, tão triste, tão verdadeiro. Em cada esquina tem várias pessoas assim.
Uma boa semana.
Beijo

Juvenal Nunes disse...

As disparidades sociais levaram ao trabalho infantil e ao descurar da escolaridade obrigatória. Uma situação bem triste, mas real.
Abraço poético.
Juvenal Nunes

Isa Sá disse...

Mais um bonito poema.

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

ManuelFL disse...

Este poema da Graça fala-nos da solidão, da orfandade de todas as mulheres que foram privadas em criança de frequentar a escola.
Tiveram que reinventar-se, filhas de si próprias, numa biografia da imaginação.

A mulher na fotografia de Adriano Miranda ilustra isso mesmo, inconformismo e rebeldia.

Beijo.

Marco Luijken disse...

Hello Graça,
What a nice words!! It's very special to read these romantic words.
And a nice image.

Big hug, Marco

Maria João Brito de Sousa disse...

Um grande poema, Graça.

Parabéns!

Majo Dutra disse...

H vidas assim: por de mais orfãs, por de mais tristes...

Dias agradáveis de uma boa semana.

Beijinho, Poeta amiga.
~~~~~

Marta Vinhais disse...

Solidão, tristeza... uma vida dura....
Gostei muito...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

LuísM Castanheira disse...

Na carne as marcas que nao têm de ser
obrigatoriamente o estigma dos filhos.
Felizmente os tempos são outros, mas
fica neste belíssimo poema um passado
vivido por muitos de nós.

" nós éramos assim...
as crianças adiadas
quase sempre infelizes e
quase sempre cansadas..."

Um beijo, minha amiga Graça.



Daniela Silva disse...

Eram tempos dificeis...bjinho

São disse...

Infâncias perdidas na dureza da Vida.


Te abraço com voto de bom resto de semana, minha Amiga.

CÉU disse...

É assim, ou foi assim, querida amiga. Muita gente não aprendeu a ler, porque começar a trabalhar era prioritário. Os tempos eram difíceis, em todos os aspetos e havia bocas para alimentar e corpos para vestir.
A imagem que colocou a encimar o seu excelente poema ainda se vê nos nossos dias, infelizmente.
Beijos e boa semana.

bea disse...

Tão dignas e com direito à nossa modesta admiração. Porque a infância e os prazeres da escrita e da leitura lhes foram sonegados e a vida delas foi pobre além da pobreza.

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Es un retrato minival de la vida de una mujer, que fue siempre trabajo para ser. Un abrazo. Carlos

Alécio Souza disse...

Um triste relato de uma infância não vivida pelas dificuldades da vida! Melancólico, mas muito real esse poema!
Beijos!

vieira calado disse...

Simples, mas bonito, caríssima poetisa!

Saudações poéticas!

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, amiga Graça,
gostei imensamente deste teu belo e sentido poema, com a abordagem de um tema que é bastante conhecido tanto no Brasil como na América Latina (a extraordinária cantora argentina Mercedes Sosa dentre sua obra deixou um canto que fala de situação semelhante a do teu poema, qual seja "menino en la calle"). Parabéns!
Um beijo, uma boa semana. Cuide-se com o vírus.

Ulisses de Carvalho disse...

gostei especialmente do final, e que imagem bonita e ao mesmo tempo tão cheia de força! um beijo, Graça.

Ana Freire disse...

Uma notável e comovente inspiração, Graça! E uma leitura tão perfeita, de tantas vidas assim... que ainda vamos encontrando, apesar de tudo... e às vezes, numa versão mais recente... tendo frequentado a escola... pois, circunstâncias e oportunidades... às vezes andam de costas voltadas...
Um beijinho! Votos de continuação de uma excelente e inspirada semana!
Ana

Manuel Veiga disse...

belo, grande, dorido Poema, querida Poeta
não te escondo (porque a compreendes) uma inesperada emoção...

beijo, Amiga

Emília Pinto disse...

Conheci crianças que não puderam " ser meninos "; o seu destino era " ir servir " ( termo usado nesse tempo " para familias mais afortunadas e trabalhavam só pelo prato de comida e uns trapitos que lhes cobrisse o corpo franzino; mesmo assim, era uma grande ajuda para os pais; menos uma boca a comer, menos um corpo a vestir, mais um pouco de tempo para cuidar dos que, abaixo daquele, gemiam de fome e de frio; eram muitos os filhos e não podiam dar-se ao luxo de mandá-los à escola. Tristes os tempos de outrora, tempos em que não havia qualquer tipo de auxilio e os mais pobres socorriam-se de um ou outro vizinho, mais afortunado, sempre pronto a repaRtir com eles a sopa e o pão de milho por eles feito e que tinha de durar, pelo menos uma semana. Sabes, Graça, lembro de um dia, ao passar em minha casa, uma senhora grávida e já com muitos filhos, dizer para minha ( não me lembro a que propósito...), " o que importa é que venha com saúde, pois mais uma malguinha de caldo arranjaz-se sempre". Vivia com muitas dificuldades, essa familia e conheci bem os filhos: foram crecendo e lutando por uma vida melhor, mas nunca conseguiram " ser meninos" Ainda bem, que, neste aspecto a vida está melhor e a todos é dada a opotunidade de frequentarem a escola. Como sempre, um tema pertinente, retratado em belos versos. Um beijinho e, muitos cuidados, querida Amiga.
Emília

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de paz, querida amiga Graça!
Cuidar de si mesma quando a vida nos deixa abandonada de gente...
Pior se faz ainda quando até às Letras se afastaram de nós.
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno

Teresa Almeida disse...

Em cada verso um arrepio e no poema uma mensagem, uma dor antiga, um grito de humanidade.

Beijo, Graça.

silvioafonso disse...

Não gosto de comparar ninguém
com pessoa nenhuma, mas como
você, Graça querida, me lembra
Cora Coralina que depois de 70
anos publicou seu primeiro
trabalho. (e que trabalho...).
Amo a intenção de sua escrita,
Graça, e os porquês do seu coração
gritar tão alto.
Um beijo minha poeta preferida.

Jaime Portela disse...

"Filha de si própria"
Uma imagem poética que traduz uma realidade que por vezes existe mesmo.
Um poema soberbo, os meus aplausos.
Bom fim de semana, querida amiga Graça.
Beijo.

Vanessa Casais disse...

A Garça tem uma escrita que nos envolve e nos transporta. Adorei este poema.
A fotografia está qualquer coisa.

Beijinhos e bom fim-de-semana!
Vanessa Casais
https://primeirolimao.blogspot.com/

© Fanny Costa disse...

A melhor sabedoria não está nos livros, mas na alma de quem a sabe descodificar, mesmo sem saber ler.
Um beijinho e bom fim de semana

teresa dias disse...

Tristes tempos esses, que tu magnificamente descreves em poucos versos.
Querida Graça, sabes que adoro ler versos teus, não sabes?
Beijo, protege-te, os números sobrem...

teresa dias disse...

Esqueci de dizer: a foto de Adriano Miranda é simplesmente FABULOSA!!
Bjs.

Agostinho disse...

Voltei.
Por tudo e porque sim...
Pelo excelente poema e para ver de perto a fotografia.
O Adriano Miranda fixa e revela, como só ele sabe, a expressividade dramatica que enforma os rostos de gente. Uma foto intensa.
Beijinho, Amiga Graça Pires.

manuela barroso disse...

Uma tristeza amarga , esta de ser filha de si própria!
Um solidão intensa na orfandade de suas mãos .
E tu, com uma mestria só e tão tua, nos contas uma história tão maravilhosamente real , triste , bela .
A minha admiração, sempre , Graça
Para ti , um grande beijo 🌷

lanochedemedianoche disse...

Un poema atrapante y especial, gracias.
Abrazo

Nal Pontes disse...

Passando AQUI para te dar um abraço e te desejar um bom final de semana. E que vejo uma realidade que seja menos real para o nosso presente. Pois lugar de criança na infância é.na escola e aproveitando tudo de brincadeiras e ensinamentos. Bjs querida

Anete disse...

Bom domingo, Graça! Um lindo e denso poema. Agora que estou com uma hortinha e tenho Alecrim plantado, quando vejo referência a ele acho profundo e perfumado.
O meu abraço e carinho

Toninho disse...

O que fazer com esta solidão que dilacera Graça?
Tem certas tristezas, que superam nossas forças.
O poema mergulha e extrai uma solidão dolorida amiga.
Um bom domingo com paz e alegria.
Beijo de paz.

Maria Rodrigues disse...

Uma vida de trabalho e solidão, retratada num poema sublime.
Bom domingo e uma excelente semana
Beijinhos

Minhas Pinturas disse...

Querida Amiga Graça: Foi como ler um livro, onde toda uma historia se revelou. A pobreza, não ter infância, solidão.
Lindo poema Graça, onde toda a sua sensibilidade veio a tona.
Beijinhos, muita saúde e paz.

Victor Barão disse...

Vénia, vénia, vénia... extensível a todo este, inspiradoramente, Poético espaço virtual
Bjo

manuela baptista disse...

E tantas meninas ainda, filhas de si próprias, que não frequentam a escola e resistem com fome de aprender.

Beijinhos, Graça.

José Carlos Sant Anna disse...

Que inquietante mensagem, que delicado poema. E a beleza lúcida e comovente com "as filhas de si próprias".
Um beijo, minha amiga Graça!