1.1.07

Em seara alheia



Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.

Devagar...
Sim, devagar...
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar...

Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão dos momentos seja muito próxima...

Talvez isso tudo...
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o universo...
A verdade manda Deus que se diga.
Mas ouviu alguém isso a Deus?

Álvaro de Campos

4 comentários:

Anónimo disse...

"…Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. Nestas coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos.) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, carácter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida-real. Esta tendência, que me vem desde que me lembro de ser um eu, tem me acompanhado sempre, mudando um pouco o tipo de música com que me encanta, mas não alterando nunca a sua maneira de encantar." Fernando Pessoa

Eu amigo da sua filha!!!
lmdpessoa@hotmail.com

Graça Pires disse...

Gosto de saber que a minha filha tem um amigo que admira Fernando Pessoa e que com certeza ama a poesia. Que bom. Obrigada pelo comentário. Volte quando lhe apetecer.

Graça Pires disse...

LP: verifiquei que em cada poema da rubrica "em seara alheia" deixou um outro poema do mesmo autor, o que agradeço. A sua biblioteca de poesia está bem apetrechada. Os leitores de poesia podem ser poucos mas são bons.

Anónimo disse...

Boas tardes, como o tempo passa.
Um abraço.
LP