13.7.07

Como um enigma

Édouard Boubat
Rasgo, dentro de mim,
imagens desfocadas
com que encenei obsessões.
Uma linha de luz subverte
a penumbra do olhar,
como um enigma,
ou um remorso sem retorno:
um feitiço quebrado reinventando culpas,
caixa de pandora dispersando sombras.
Exponho-me no disfarce transparente
da linguagem, para que a intimidade
se insinue nos meus dedos.
Apodero-me da malícia das sílabas
a entreter a língua.


Graça Pires
De Não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos, 2007

3 comentários:

Maria Carvalhosa disse...

Sabes usar as palavras com uma mestria apaixonante. Dessa forma, como quem faz algo tão natural e necessário como comer ou dormir, escreves textos únicos, inesquecíveis, originais: os inconfundíveis poemas da Graça.

Um beijo.

Anónimo disse...

"malícia das sílabas"... "Como um enigma"... "pandora". O poema não se deixa apanhar por leituras fáceis. Mergulhemos então na sombra das palavras à procura de um sentido.
Um abraço
L.
(Laura)

Graça Pires disse...

Muito obrigada Maria e Laura pela vossa visita e pelas vossas amáveis palavras. Um beijo.