11.8.07

Orfeu Rebelde

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE MIGUEL TORGA
12.08.1907-12.08.2007


Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade no meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.
Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legitima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.


Miguel Torga
In Orfeu Rebelde, Coimbra, 1970

5 comentários:

Anónimo disse...

Muito incentivante este poema

hfm disse...

Sempre.

José Manuel Dias disse...

Uma homenagem merecidíssima...Abraço

Graça Pires disse...

Obrigada dom guisen, Helena e José Manuel Dias pelas vossas palavras. Um abraço.

Poesia Portuguesa disse...

Uma homenagem que jamais perderá o seu sentido.

Grata por o partilhar.

Um abraço carinhoso ;)