Gertrude Kasebier
Há momentos
em que uma orfandade,
esquiva e indefesa,
se me cola ao sangue,
como se me habituasse
às sombras.
A meia-luz que envolve
meus ombros percorre,
longamente, os gestos
das mulheres, intrusas de si próprias,
filho a filho se doendo.
Sobre o meu corpo paira
um insensato rumor que torna
vertical a minha sombra.
Graça Pires
em que uma orfandade,
esquiva e indefesa,
se me cola ao sangue,
como se me habituasse
às sombras.
A meia-luz que envolve
meus ombros percorre,
longamente, os gestos
das mulheres, intrusas de si próprias,
filho a filho se doendo.
Sobre o meu corpo paira
um insensato rumor que torna
vertical a minha sombra.
Graça Pires
De Não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos, 2007
12 comentários:
perdi as palavras.
pela beleza do texto.
e pela magnifica ft.
a meia luz que aqui nos envolve...
____________________.
bom fim de semana G.
como é belo o rumor que percorre a tua Palavra poética e (insensato, sem dúvida!) se recolhe na vibração dos sentidos.
gostei muito.
«como se me habituasse
às sombras»...
como se restasse apenas um vazio...
e o vazio é penoso, mas o texto que o sugere é muito bonito, Graça!
(Graça,
"postei" o teu poema.
muito obrigada!)
:)
Há momentos lindos... em que a sombra se coloca na vertical e faz uma vénia à poetisa...
(...)torna
vertical a minha(...) dor!.
(que se escreve, transparente, entre os silêncios). Gostei!
Abraço.
Obrigada Isabel. Magníficas são sempre as tuas palavras. Um beijo.
Herético, obrigada. Tens sempre um modo sensível de analisar o que eu escrevo. Um abraço.
Sim, Maria, o vazio é sempre triste. As sombras fazem parte da nossa procura de luz. Um beijo e mais uma vez obrigada por tudo.
Luis, foi encantador o que escreveste. Um abraço e obrigada.
Obrigada Tinta Permanente pelas palavras. As sombras e a dor confundem-se, é certo...Um abraço.
eu já tinha lido este poema. sabe-se lá porque não comentei...
(talvez por os meus filhos estarem a sair do ninho...)
na realidade não sei se prefiro assim. Ainda não sairam na totalidade: apenas estão a ter as suas vidas próprias
beijos
Caramba, Graça! Tu és mesmo uma poeta de mão cheia!
Beijos**
Não tem estritamente a ver, mas ao ler o poema lembrei-me de uma carta de Ramon Sampedro em que ele escreve: «As mães deviam fazer sempre de deuses, porque seriam sempre justas. Agiriam sempre com amor.»
Fico com os olhos nessa "sombra vertical" - imagem de silenciosa solidão materna. É um poema tocante, queixume, mas a aceitação...
Um beijo
Olá Teresa. Custa quando os filhos começam a ganhar asas. Mas são sempre nossos e nós nunca mais os largamos, não é? Obrigada e um beijo.
Obrigada Maria, tu é que és muito generosa comigo... Um beijo.
Soledade, concordo com Ramon Sampedro. Assim seria mais fácil ser mãe. Sem medos. Sem sombras.
Obrigada e um beijo.
Filho a filho se doendo
corpo na vertical
sem sombras.
Belo
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