17.9.07

Próximo de Setembro



Próximo do rosto, partilhamos
o sopro e as sílabas de setembro,
quando as cores monótonas
atingem o delírio da mudança
como uma febre alucinante.
Nos nossos lábios,
o naufrágio da voz,
onde cabe inteiro
o soluçar de um corpo
grávido de ausência.
Nenhum regaço se quebra
no abraço ilícito das sementes,
se o tempo das vindimas se aproxima
e, em todos os recantos,
interiorizamos a revolta
como um húmus imprevisto.

Graça Pires
De Poemas, 1990

15 comentários:

© Maria Manuel disse...

que belo nos chega o Outono pelo teu olhar, pelas tuas mãos, Graça!

hfm disse...

"Nos nossos lábios,
o naufrágio da voz,
onde cabe inteiro
o soluçar de um corpo
grávido de ausência."

Repeti-lo à exaustão.

Teresa Durães disse...

O Outono e as suas cores suaves; porém é o tempo da recolham resguardo.

um beijo

Vladimir disse...

é o outono que se aproxima a todo o vapor. há que explorar o que podemos tirar desta estação que não pode ser conhecida apenas pela queda das folhas, mas também pelas belas cores que a paisagem apresenta e que dão fotografias tão belas como aquela que está na tua postagem

Espaços abertos.. disse...

O Outono avança transformando um novo quadro com cores de sonho.
bjs Zita

Anónimo disse...

Não é um poema de Outono sereno. Alguma coisa germina, inquieta, sob as folhas de Setembro, um silêncio, uma falta, um íntima revolta...
Gostei deste poema, das belas imagens, da inquietude. Porque nem todos os frutos do outono são doces.
Um beijo

Luis Eme disse...

Linda fotografia, para um não menos lindo poema...

Anónimo disse...

Vem , vem voar nas " Asas De Fogo " ...

Um delicado beijo .

Isamar disse...

As cores indiciam mudança. Agora monótonas para depois irromper a alegria da Primavera.
Beijinhos

Alexandre Bonafim disse...

Lindo poema, Graça. Beijão.

Graça Pires disse...

Porque quero agradecer a todas as amigas e a todos os amigos que me deixaram,aqui,palavras tão bonitas,
digo:
"As andorinhas debandam cada vez mais para sul e já ninguém se lembra do sangue acentuado das papoilas. Só o sopro dos frutos, repleto de sementes, nos fala do trigo e das uvas e do cantar das cotovias, como uma trança de rimas nos cabelos das ceifeiras".
Um beijo a todos.

Anónimo disse...

Graça, só por essa resposta poética e esse olhar de vindima, vale a pena vir à esta caixa de comentários e dizer olá à dona da caixa :)

Graça Pires disse...

Soledade, sabe que me comovo com o que diz? Obrigada e um beijo.

Manuel Veiga disse...

como é bela essa revolta feita húmus. e as cores com que pintas o poema.

Maria Carvalhosa disse...

Sublime, Graça. Não comento (comentar o quê, como?). Delicio-me a ler e reler as tuas comoventes palavras de Outono com cenário a condizer.

Beijos.