1.4.08

A melancolia deste instante

Edouard Boubat


Sinto, poro a poro, a alucinação
vegetal da terra, tecendo os seixos
cativos do orvalho, ou lambendo os mastros
por onde passa o vento norte.
Sei que, as mãos férteis das nascentes,
derramam, entre as pedras, um mel diluído,
na secreta explosão da haste dos salgueiros.
Deixem-me dizer palavras sem sentido,
até esquecer o nome,
pelo qual regressei ao tempo das seduções.
Nenhum culto me absolve do detalhe
em que comecei a preparar
a melancolia deste instante?

Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

22 comentários:

Isamar disse...

A melancolia, instalada na alma, dói mas a poesia que dela emana é seiva que nos alimenta.

Beijinhossss

vieira calado disse...

Todos estes poemas são de 1ª.
Parabéns.

Anónimo disse...

apetece-me apropriar-me das palavras de herberto para assim dizer da ardente melancolia deste instante, querida graça. poro a poro. um grande beijinho.

Pena disse...

Simpática Amiga:
Um melancolia doce de um instante num detalhe puro de um culto que a absorve deliciosa e maravilhosamente.
Um poema alucinante de si e da beleza que partilha.
Gostei muito. Mesmo muito!
É rica em detalhes que sensibilizam e cativam.
O poema vive de palavras complexas num poema complexo, mas terno e belo.
Parabéns sinceros.
Bj amigos de estima que respeitam

pena

hora tardia disse...

nunca. nunca irei esquecer o teu nome.,


pelo que dás.
pelo que és.
pelo que escreves. pelo que transportas.


Graça....muito e muito obrigada.

hora tardia disse...

nunca. nunca irei esquecer o teu nome.,


pelo que dás.
pelo que és.
pelo que escreves. pelo que transportas.


Graça....muito e muito obrigada.

Anónimo disse...

melancolia, como eu a conheço. De vez em quando isntala-se em mim, tipo um parasita e tenho que fazer um esforço sobre humano para a mandar embora.
Contrariada lá vai; mas sempre com aquele sorriso cínico que me diz: descuida-te e eu volto...

CNS disse...

"Deixem-me dizer palavras sem sentido, até esquecer o nome".
Muito tocante.

Maria Clarinda disse...

Simplesmente divinal...assim se faz a poesia...da melancolia.
Jinhos mil

inominável disse...

e para que queres os cultos? deixa-os suspensos, nos salgueiros ou nos álamos, tanto faz...

hfm disse...

Um instante tão eterno. Tão belo. Tão forte de imagens e seduções de palavras. Um abraço.

Regina Graça disse...

Todas as palavras sem sentido têm uma doce sedução...

Gostei. Posso voltar?

Anónimo disse...

"...as mãos férteis das nascentes..."
Excelente metáfora! poderosa...

O poema é profundo e a fotografia belíssima.
Beijos
Teresa P.

Manuel Veiga disse...

vibrante como húmus na espera da semente... em secreta explosão!

beijo

ContorNUS disse...

gosto desta lucidez vegetal...plena intensa que brota da terra e nas palavras atinge maior vigor!

Luis Eme disse...

Nuca dizes palavras sem sentido...

abraço Graça

Encontros de Almas disse...

Tão calada,
mergulhada em seu segredos ocultos
que por vezes, no brilho de seu olhar se revelam...
Ou então,
quando sua respiração se faz mais forte, mais profunda...
Sei que é o seu amor,
o seu verdadeiro e sincero amor.

Teresa Durães disse...

a alucinação vegetal da terra não é uma alucinação mas a vontade da natureza incluir-nos dela, nós que estamos sempre tão distantes.

De Amor e de Terra disse...

Por mais tempo que passe, nunca se consegue esquecer o(s)tempo(s)das seduções, nem o(s)seu(s)objecto(s).... e ainda bem!

Beijo e obgd. pela visita.

Maria Mamede

Benó disse...

Quando se ama e se é feliz, proferimos muitas palavras sem sentido mas que podem encher a nossa alma de SENTIDO.

Continue no tempo de sedução e

Seja Feliz!

Pena disse...

Sensacional Amiga:
Hoje, não venho comentar o seu terno, mágico de beleza e talentoso Post.
Venho lhe expressar um maravilhoso fim-de-semana excelente com tudo de maravilhoso que amplamente merece.
Bejinhos amigos de muita estima

pena

Graça Pires disse...

Palavras que me tocaram as que, aqui, todos vocês deixaram ficar. Bem hajam! Beijos.