27.10.08

Inventar nascentes

Cartier-Bresson

A minha profissão era inventar nascentes.
Eu nada sabia da ressonância das ondas,
até que fiz dos sonhos um alibi
e arrisquei qualquer fuga,
com a manhã rebentada no peito.
Indiferente à respiração dos peixes,
sigo Ícaro até às profundas águas
de um amor em fogo,
enquanto me crescem, na garganta,
as raízes do delírio.


Graça Pires
De Conjugar afectos, 1997

41 comentários:

Ricardo Silva Reis disse...

Excelente.
Poema belissimo servido por uma imagem igualmente deslumbrante.
Gostei deste visita. Vou voltar
Beijinhos

(www.manhasdeinverno.blogspot.com)

Teresa Durães disse...

o amor que nos transporta

Paula Raposo disse...

Compreendo-te perfeitamente...lindíssimo poema!! Muitos beijos.

Anónimo disse...

"nascentes, ondas, águas, fogo, delírio."
Expressões do Verbo criador.

São disse...

Além disso, também inventas poemas cada vez mais bonitos.
Um abraço, linda.

mar disse...

cartier bresson é, sem dúvida, um excelente fotógrafo. ainda um destes dias fiquei maravilhada ao ver todos os seus trabalhos. esta foto é de uma delicadeza bem ao estilo do poema, encaixam-se perfeitamente.

obrigada pela boa escolha e pelo bem-escrever.

um beijo
deste
mar.

Cöllybry disse...

Poema delicado e senssivel...

Beijitoterno


olharIndiscreto

Regina Graça disse...

Que árduo é inventar, sobretudo as coisas inventadas!

Anónimo disse...

Tantos símbolos no poema que ressoam em mim! Detenho-me no da Queda, este Ícaro que se segue "até às profundas águas". De que extremos seremos nós capazes, por uma paixão sem medida?
Um beijo, Graça

Luis Eme disse...

e arriscaste muito bem...

abraço Graça

José Pires F. disse...

Diz-me tanto este poema…

Como sempre, excelente!

Abraço, “prima” ;)

De Amor e de Terra disse...

Esta profissão de inventar nascentes é qualquer coisa de fenomenal!!! Como eu gostava de saber fazê-lo!...
E como eu gostava de ser capaz de escrever, assim, como a minha Amiga!!!
PARABÉNS, muitos parabéns mesmo e obrigada pela partilha.

Um Beijo enooooorme da
Maria Mamede

Ailime disse...

Um poema pleno de criatividade e sensualidade,
que me deixa a meditar em cada palavra, em cada frase…
Fascinante…"inventar nascentes".
Um beijo.

Anónimo disse...

"...fiz dos sonhos um alibi
e arrisquei qualquer fuga..."

Profundo e muito belo este poema...
Sebastião da Gama também escreveu, "pelo sonho é que vamos"...
A fotografia de Cartier-Bresson é lindissíma!
Beijo.

JPD disse...

Um compromisso perfeito ente o nosso melhor elemento, a água, e o ar, através da tenacidade de Ícaro.
Belo texto Graça.

Assis de Mello disse...

Eis um poema para se ler, inclusive, com a pele, onde chegam as pontas das raízes do delírio.
Derrubou-me o queixo, Graça.

Unknown disse...

Gostei muito do teu poema, Graça. Cheio de água, de peixes, de fogo, de procura, de risco, rumo às águas profundas do amor.
Um beijo.

EA

d'Angelo Rodrigues disse...

Um álibi, uma fuga... Terá direito a sursis quem cria oceanos de beleza e poesia?

Béa Pedrosa disse...

Esse poema regado ao uma fotografia de Bresson só poderia dar nesse resultado maravilhoso!

livia soares disse...

Você, com certeza, inventa muitas nascentes com sua poesia.
E com este poema em particular.
um abraço.

Menina Marota disse...

"..até que fiz dos sonhos um alibi"

Precisarão os sonhos de terem um alibi para acontecerem?

Um momente tocante, uma conjugação perfeita Poema e imagem.

Grata por esta e, tantas outras, partilhas!

Um beijo de carinho, minha querida Poeta.

hfm disse...

Quando as raízes trazem a seiva salgada das imagens/símbolos. Gostei tanto, Graça.

maré disse...

e do delírio

dos enredos da loucura

a instar as mãos
uma pressa que atravessa os dedos...

nasce o sonho e o... Belo!

________

bjs, Graça

Manuel Veiga disse...

inventar nascentes nas asas de Ícaro...

grandioso e belo. com as manhãs que rebentam no peito.

momento único de poesia.

beijos

Licínia Quitério disse...

Belíssimo mergulho na água, no fogo, na raiz de todo o delírio.
Que força tem a tua Poesia, Graça.

isabel mendes ferreira disse...

GRAÇA.....

não sei comentar.


não sei. mesmo.



esta é uma invenção MAIOR!


______________abraço. (quente)

Nilson Barcelli disse...

Será que o amor (mais a paixão) é uma doença...?
Mas muitos sonhos são de facto um alibi.
Em delírio ficou eu, ao ler-te...
Beijinhos.

Isamar disse...

" A tua profissão era inventar nascentes!" Era, é e será porque da poesia brota tudo quanto de bom a vida tem.

Mil beijinhos

Bem- hajas!

isabel mendes ferreira disse...

inventei - te hoje "manhã".




obrigada Graça.

mundo azul disse...

Quando se usa o sonho como álibi, todos os caminhos se tornam possíveis!

Bonito o seu poema!

Beijos de luz e o meu carinho...

Anónimo disse...

Belo.
Segue Ícaro ao som da Lira que encanta poetas e poetisas.

rigi disse...

sim, nascente dá com mar, com líquido com azul com


diluir

Victor Oliveira Mateus disse...

Nascentes, fogo, delírio... As três palavras que retive, por isso
li-o como um texto sobre o excesso
(do sentir?), de tal modo que o
eu-poético acompanha Ícaro (o que deveria voar "para cima") à profundeza das águas. Gosto do arrebatamento que se sabe dizer com
serena doçura...
Um beijo , Graça.

Mar Arável disse...

No mais profundo das águas

há peixes que não dormem

vêm à tona

quando acontecem no poema

vieira calado disse...

Outro.
Outro belo poema, dos muitos que já li.

Bjs

batista disse...

nascentes, tuas palavras. a correr.

Maria Carvalhosa disse...

Maravilhoso, Graça! Já está no multiply... e a fazer sucesso!
Beijos, amiga.

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Essa nascente inundou o meu coração de poesia.
Sempre muito bom te ler, querida amiga.
beijo

http://cinzasdecarvalho.zip.net disse...

Sim, bela alusão a Ícaro: por alçar vôo mais alto, derreteram-se-lhe as asas e caiu no mar Egeu. Vôos próximos ao Sol, incitantes, porém arriscados. Seria um vôo médio mais excitante? Não! Melhor que derretam-se as asas e morra-se por amores em fogo, por raízes do delírio que crescem na garganta. Mas não perca a voz, especialmente a poética! Bj gde. Bárbara Carvalho.

© Maria Manuel disse...

«fiz dos sonhos um alibi»
em busca do amor
em bisca do extase

Parapeito disse...

e que belas nascentes de águas cristalinas****