23.10.08

Memórias de Dulcineia VIII

Balthus
Repito as palavras.
Lentamente as pronuncio.
Tão límpidas que me dói dizê-las:
Ela batalha em mim
e vence em mim
e eu vivo e respiro nela.

Guardo as palavras,
secretamente,
como quem esconde,
com pudor, o lado
mais sensual do corpo.
Guardo as palavras.
Assombro-me com elas.
E choro a meio da noite
com os olhos carregados
de inocência.
Como se fora uma criança.


Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008

35 comentários:

Paula Raposo disse...

Muito bonito, Graça!! Adorei! Beijos.

isabel mendes ferreira disse...

as tuas palavras Graça estão comigo. na sombra dos dias mais puros.


guardo-As .

todas.


e são-me também os dias.



obrigada!!!!



!beijo!

Celina Rodrigues disse...

Eu também guardo todas as palavras que leio no seu espaço.
Um beijo

hfm disse...

A criança que nos ajuda a construir.Um beijo.

Unknown disse...

É um poema harmonioso que dá gosto ler em voz alta.
Beijo.
EA

luis lourenço disse...

belíssima imagem e poema tocante...o elemento lírico da sua escrita é sublime...gosto muito de ler a sua poesia e prosa poética...

abraços

maré disse...

elas, que conhecem a noite

e o seu corpo de assombro

elas, que se guardam e amanhecem

amanhecem

das sombras

redondas
e cheias...


um beijo, Graça, cheio!

maré

Alexandre Bonafim disse...

A palavra: nosso verdadeiro existir. Belo, como sempre. Abraço.

São disse...

Como se fora uma criança, encanto-me sempre com a tua escrita.
Um beijo.

Mésmero disse...

Imagem bonita, é um quadro(interrogação)

pin gente disse...

repete as palavras... a sua beleza merece que sejam repetidas!

beijo
luísa

Assis de Mello disse...

Graça,
Mande-me seu endereço eletrônico, quero te mandar uma mensagem:
gryllus57@gmail.com
Beijooo,
Chico

irneh disse...

Muito bonitas as palavras que nos ofereces. Gostei.
Um beijo

JPD disse...

Não há que temer a Babel; mesmo que para isso -- Será desnecessário -- se apele à inocência para evitar más interpretações e poder dizer, escrever e ler o que se desenhar coma as letras: ideias/palavras/afectos/O que for.
Bjs

ivone disse...

"Guardo as palavras.
Assombro-me com elas"


também eu.
também eu.

d'Angelo Rodrigues disse...

Palavras tão límpidas que nos assombramos com elas. E não passo a vontade de seu leitor Eduardo Aleixo, pois frequentemente leio em voz alta os seus versos, repletos de musicalidade e ainda guardando a beleza de silêncios.

Teresa Durães disse...

a pureza das crianças!

Lia Noronha disse...

Na linguagem infantil...a imensidão do amor!!
Td lindo por aqui...como sempre!
Abraços mil!!!

Lia Noronha disse...

Obrigada pelo carinho de sempre no meu Cotidiano.

Cadinho RoCo disse...

Liberta as palavras para que elas possam cunmprir missão dos seus vôos.
Cadinho RoCo

José Ángel García Caballero disse...

muito obrigado pela tua visita, Graça, acho que o teu blog é muito giro e o poema também com muitas semelhanças com a idea do poema de Cinaty que eu pus... parabens!
(e viva, sempre, o Zeca!)

Anónimo disse...

É ternura ser corpo adulto, com coração de criança, que o sejas sempre...

Beijito

Victor Oliveira Mateus disse...

a cisão

o esconder o lado sensual do corpo

tão sensual que é quase inocência...
Lindo!!!
Um beijo, Graça.

Anónimo disse...

"Guardo as palavras,
secretamente,
como quem esconde,
com pudor, o lado
mais sensual do corpo"

Memórias de um tempo de inocência guardadas com emoção...
Beijo.

jorge esteves disse...

Uma dualidade em (poema)conflito...

abraços!

Luis Eme disse...

guardas as palavras de Dulcineia, para as libertar na bonita janela de Balthus...

abraço Graça

De Amor e de Terra disse...

Quantas as palavras que se guardam, Amiga, quantas! Por pudor, por medo, por timidez, por desinteresse...quantas!
Mas bendigo aquelas que se dizem e cumprem o seu destino

Beijos e bom fim de semana!

Maria Mamede

Ailime disse...

Há palavras que, por vezes, depois de proferidas já não voltam mais para nós!
O melhor será guardá-las "secretamente" mesmo que para isso "chore a meio da noite com os olhos carregados de inocência, como se fora uma criança".
Um dia elas soltar-se-ão e com elas virá a felicidade!
Belo poema para dissecar...
Beijinhos,

http://cinzasdecarvalho.zip.net disse...

Seria Dom Quixote dizendo a Dulcinéia que:
"Ela batalha em mim e vence em mim e eu vivo e respiro nela"?
Cada vez mais instigantes e belas essas memórias!
Bj enorme e muito obrigada pelas visitas e opiniões em meu blog, sempre de grande valia e importância para mim.
Bárbara Carvalho.

O Profeta disse...

O sonho de hoje voa no amanhã
Esta terra prende-me os pés
Um fruto maduro é repasto de pássaro
Um caminho feito de lés a lés

Taça de finos aromas
Uma súplica presa na brisa da tarde
Na morada dos teus maiores desejos
Há um coração que por ti arde



Bom domingo



Mágico beijo

maría nefeli disse...

Há palavras que não podem ser ditas, palavras que não nomeam...palavras que são só presenças de neve que quando se tocam já não existem, como uma ausência eterna...
um beijo

Anónimo disse...

Este poema interpela-nos. E não menos a ilustração de Balthus, quase sempre inquietante e aqui aparentemente "silencioso". Também esta Dulcineia silencia, a seu modo...
Um beijo, Graça, bom fim-de-semana. E parabéns pelos dardos :)

Menina Marota disse...

"...Guardo as palavras,
secretamente,
como quem esconde,
com pudor, o lado
mais sensual do corpo."

Não as guarde, Graça!

Deixe romper desse corpo as palavras guardadas, como a água cristalina e pura que rompe a montanha inacessível; deixe-as brotar, qual nascente que dá de beber à nossa sede...

Um abraço carinhoso

Elizabeth F. de Oliveira disse...

A palavra é a vida do poeta. E a tua vida, Graça, é tão rica, tão profunda, tão inigualável.
beijo no coração

Parapeito disse...

...belo e puro...como se fosse uma criança :))