António Carneiro
É possível que já não haja pássaros
a esvoaçar em torno das palavras
com que calei
o desespero das manhãs
quando tinha do cosmos
uma visão romântica.
Hoje nasce-me no olhar
uma luz quase cruel
com que ilumino
a linha de sombra
que me cerca as mãos.
Graça Pires
É possível que já não haja pássaros
a esvoaçar em torno das palavras
com que calei
o desespero das manhãs
quando tinha do cosmos
uma visão romântica.
Hoje nasce-me no olhar
uma luz quase cruel
com que ilumino
a linha de sombra
que me cerca as mãos.
Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008
35 comentários:
Sempre veremos a silhueta das asas em meio à eternidade da luz que pontua seus versos. Beijo suas mãos e digo: bravo, Graça Pires!!!
...E se em vez de "...com que ilumino a linha de sombra
que me cerca as mãos" fosse..."com que ilumino a linha da sombra que me cerca as mãos"?
Apenas trocar o "de" por "da".
Desculpará o atrevimento, mas, meras "poetices".
Gostei (muito) do poema.
Abraço
mas tens a luz!
oh Graça, acho este poema tão belo e tão triste.
tens tanto talento em colocar as palavras, que até arrepia....
bej
Oi, Graça, poema triste: há os pássaros, sim, que cantam eternamente a alegria da criação.
Um abraço.
EA
"...Hoje nasce-me no olhar
uma luz quase cruel..."
(eu não acredito)
É possivel ...que uma luz meia baça...mas nunca cruel :)*****
"a linha de sombra/que me cerca as mãos" é de uma eloqüência quase capaz de sintetizar todo o poema - que é muito belo, diga-se.
Beijos, querida.
o lirismo da sua poesia é um pássaro longíquo que devela a música das palvras...triste neste caso?!
este poema é tão meu que até arrepia. gosto quando os poemas me lêem. e gosto muito de te ler Graça.
(criei um blog com alguns amigos com intuito de divulgar poesia, se puderes adiciona o link: http://mal-situados.blogspot.com/).
um abraço
Todos nós calámos palavras, faz parte da nossa aprendizagem, para que hoje saibamos ver com outros olhos.
Parabens pelo poema.
De quando desacreditamos dos pássaros. Só a sombra, só...
Um beijinho, Graça.
tudo é possível, com a beleza das tuas palavras...
abraço Graça
Com o decurso dos anos, embora, como forma de compensação, ganhemos em conhecimento, vamos perdendo a inocência dos tempos da juventude.
O sonho, frequentemente, dá lugar a uma realidade de mágoa feita, sentimentos puros e belos que alimentámos são substituídos por desconfiança e uma imensa amargura por, afinal, a vida não ser como a imaginámos... antes das decepções e do sofrimento.
(Desculpa a leitura, possivelmente demasiado pessimista - fruto dos dias cinzentos que atravesso... talvez amanhã já leia (e pense) de forma diferente. quem sabe?) (risos) e beijos, querida Graça.
Poema peqenino mas muito rico no seu conteudo, gostei.
Beijinho
tens uma capacidade de criação impressionante. e demonstras ser atenta aos pormenores, como à linha da sombra que rodeia as mãos. vou olhar para a minha, a ver se a encontro. ;) um beijo, Graça.
Grande lucidez e maturidade nesse olhar...
Belo poema, embora triste.
Beijo.
Linha DE sombra ou linha DA sombra?
Só quem escreve poderá esclarecer qual o sentido que quis transmitir ao seu poema.
Com um sentido ou com outro, GOSTEI da sua linha DE pensamento.
Bonjour Graça,
merci pelas suas palavras,
do poema colorido...
" é posivel"_____________
é um poema quase terrivel,
" quase cruel"...as maos cercadas pela linha da sombra, e o olhar de onde nasce essa luz,
como é quebrante.
Fico " quase" com frio, nao é ?
Bjos Graça,
bonne journée.
O quadro é bonito, muito bonito.
LM
é possível...
as sílabas cinzentas
semeiam véus de neblina
e até o pássaros se enrolam no medo de voar.
bjs
maré
Ao ler este poema senti-o perfeito, definitivo.
É muito difícil ver alguém na blogosfera a escrever melhor que tu.
Abraço.
"Hoje nasce-me no olhar
uma luz quase cruel
com que ilumino
a linha de sombra
que me cerca as mãos."
______________cito________
porque é de uma beleza tão "possível" hoje!!!!
.
beijo Graça. Enorme.
obrigada!
os pássaros continuarão a cantar em teus dedos. sempre...
... apesar das sombras!
beijos
Triste, desesperançoso, desiludido, porém, belíssimo.
Beijo no coração.
Bárbara Carvalho.
Há dias, a évène divulgava esta citação de Heiner Müller: "La plus grande chute est celle qu'on fait du haut de l'innocence." Às vezes penso que o "ofício" das palavras mais não é, em última instância, que um reelaborar desta perda.
Um bom fim-de-semana, Graça
Bj
P.S.: Esquecia-me: nesta entrada, o olhar fica também cativo da luz do quadro.
Mas continuam a ouvir-se os pássaros do poema!
Um Caravaggio de poesia!
Todos os dias, no entanto, nasce uma nova luz!...
abraços!
As mãos mais ainda os olhos
existem para agarrar os pássaros
até os que voam
Das sombras quase nada
me consta
Belíssimo poema que arrepia e nos tira a voz!
"É possível que já não haja pássaros
a esvoaçar em torno das palavras..."
Magníficos os teus versos, poetisa MAIOR!
Um beijinho com muita admiração*
Fanny
Atravesso o céu em sonhos
Três aves do mar, três raios de sol, três punhais
Seguem-me apontados à solidão
Ah este vento que sopra nos brandais
Um feliz domingo para ti
Mágico beijo
Belo poema, embora com sombras de nostalgia!
As palavras são lindas na sua poesia e os pássaros voltarão sempre com a chegada da Primavera. Beijinhos de esperança!
Os teus poemas são óleo sobre tela. São luz contida em traço. São belos. Muito.
um beijo
Belíssimo poema, Graça.
belíssimo! belo o modo como exprimes o desencanto...
"Hoje nasce-me no olhar
uma luz quase cruel
com que ilumino
a linha de sombra
que me cerca as mãos."
_________rendo-me.
É possivel que amanhã esses pássaros voltem a iluminar as tuas mãos.
beijo grande
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