16.10.08

Sabor a romãs

Manuel Fazenda Lourenço

Fico à entrada do outono cativa de hábitos estivais.
A palidez do sol arde nos beijos dos adolescentes
e tem um acentuado sabor a romãs.
Apetece cantar até à extenuante cor
dos campos lavrados e nenhum calendário
mudará o clima que os meus olhos reclamam.
Sei hoje que o amor e a morte são a matéria
preferida dos que pernoitam debaixo
de roseiras bravas e sabem
que tanto as garças como os papagaios de papel
voam sempre mais alto no outono.
Vou no vértice desses bandos
numa migração de risos transparentes.


Graça Pires
De Outono: lugar frágil, 1993

43 comentários:

CNS disse...

Refractam-se as cores de outono na transparência das tuas palavras.

Paula Raposo disse...

Este poema é delicioso!! Não só porque fala de romãs...mas porque tem todo o sabor sensual das tuas palavras! Adorei!! Muitos beijos.

maré disse...

sabor a romãs, que as garças transportam.

o voo transparente que os olhos reclamam...


________

deliciosamente...
de esperãnça.

um beijo, Graça.

José Leite disse...

A transparência das almas e a transparência das palavras sentidas!...

Anónimo disse...

ah! o dispersar dos sentires
no embalo do fluir em estações.

sabores do tempo,
sonhos em vida.

Belo! obrigado.

Unknown disse...

É lindo, Graça.
Gostei mesmo. Muito.
Poema romã, com bagos, palavras tuas, doces.
Obrigado.
Abraço.
EA

Pedro Arunca disse...

Cada palavra é uma semente que se sente.

Bela página..sucolenta


Voltarei para me demorar.

Bj

Teresa Durães disse...

o êxtase do outono

Mésmero disse...

Já é tempo de migrar, o sol bem que podia dar uma folga!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

uma maneira sui-generis de retratar o outono.

gostei de todo o poema, especialmente desta frase:

"A palidez do sol arde nos beijos dos adolescentes
e tem um acentuado sabor a romãs"

fica um beij

d'Angelo Rodrigues disse...

Migratórios o amor, a morte e as estações, tudo se entrelaça num canto que inclui delicadezas de asas, rosas e romãs. Sua poesia alcança as alturas no outono, Graça. Linda a fotografia.

isabel mendes ferreira disse...

"Sei hoje que o amor e a morte são a matéria
preferida dos que pernoitam debaixo
de roseiras bravas"____________sabes a cor dos que sobrevivem.... sabes tão bem dizer....Graça.....a alma debaixo da pele.





obrigada.



abraço.

rui disse...

Passar pelo teu blogue é como baixar tomar un cafecinho com leite e um docinho. Um prazer.

pin gente disse...

cada palavra tua é um delicioso bago de romã.
umbeijo
luísa

JPD disse...

O verdadeiro Outono, poderia ser aquele que se revê no dourado das folhas que tombam quase perpetuamente até que os dias frios e cheios de sol acabem e, tornando-se plúmbeos, são inexoravelmente chuvosos.

Mas o Outono dos apaixonados, é aquele que vibra apenas com a queda das folhas e pretende perpetuar na memória o ouro das mesmas.

O Outono dos cultores da razão são aqueles que se lembram que amar intensamente poderá ser a partilha de um certo compeomisso com Tanatos também.

Este Outono que aqui descreves é belo e perfeitamente relatado.
Voilá!

Bjs

dona tela disse...

Tenho um prémio para lhe oferecer.

Muito bons dias.

Maria Carvalhosa disse...

"Sei hoje que o amor e a morte são a matéria
preferida dos que pernoitam debaixo
de roseiras bravas e sabem
que tanto as garças como os papagaios de papel
voam sempre mais alto no outono."
Absolutamente sublime, Graça!
A tua escrita é um dos meus alimentos (quase) diários preferidos...

Beijo-te com muito carinho e desejo-te um bom fim de semana.

Luis Eme disse...

excelente "migração" de palavras, a tua, com sabor a romãs...

abraço Graça

São disse...

Sabor a romãs é aquilo que me deixa na alma o que me toca. Como a tua poesia.
Bom fim de semana.

Licínia Quitério disse...

Voo alto. Superior.

Beijo.

LM disse...

quase dá para experimentar no ecra... beijos

Anónimo disse...

Escutamos as das palavras doces, figurando-nos um outono sem melancolia, o sol guardado nas romãs. Que assim seja :)

Bom fim-de-semana, Graça
E um beijo

isabel mendes ferreira disse...

há. um bando de palavras que sempre se adivinharam na tua voz pura.


há a serena cumplicidade.
dos silêncios reconhecíveis.


há.


o meu agradecimento.

(por tanto).



G R A ç A....!!!!

Pêndulo disse...

Obrigado pela visita ao meu cantinho :))

Usurpei-te mais um poema... devidamente identificado!

Beijinhos

hfm disse...

Da migração dos risos!

Sandro Rozzo disse...

Adorei tuas palavras.
Elas me motivam a esculpir melhor as minhas...

maría nefeli disse...

É um poema muito sensitivo...muito bom...
Gostava de te apresentar um blogue de um amigo meu que cada dia olha para Portugal. É muito interessante e lindo:
http://lunaenelsur.blogspot.com/
Um beijo.

LM,paris disse...

Querida Graça,
comi uma roma hà três dias...
é tao bom, tem para mim,
o sabor de um tempo da infância.
Aqui chama-se grenade.
A perséphone roubou a roma
e foi seis meses viver
para debaixo da terra,
raptada por vulcan,
n'est-ce pas?
O outono poe a natureza adormecida...
o seu poema tem imagens
tao lindas!
é sublime a sua escrita
e parece tocar ao de leve
sobre os làbios e o assopro
faz-se mais doce,
guloso da nova roma.
Acordar com a natureza, rendre Perséphone à sa mère Démeter...
bjos Garça,
Paris vous embrasse,
LM

Paula Martins disse...

Lindo o teu poema que recebe a estação que se avizinha com risos transparentes. Gostei.

Beijinho

mariavento disse...

Hábitos estivais, também sofro deles e por isso a entrada no Outono torna-se difícil.
Sempre bonitas as tuas palavras.
Bj

maria disse...

"migração" maravilhosa é aquela a que nos levam palavras assim...
Beijo

Manuel Veiga disse...

no vértice desses bandos. até o olhar doer. num vertigem de outono.

belíssimo.

beijo

Marinha de Allegue disse...

"A-dorada" estación de cautivadora luz...

Beijosss Graça
;)

Unknown disse...

Olá, Graça
Vá ao meu blogue que tem lá um prémio para si.
Abraço.
Eduardo

Peter Pan disse...

Linda Amiga:
Toda a minha gratidão.
Um belo e sensível Post de encantar.
"...Sei hoje que o amor e a morte são a matéria
preferida dos que pernoitam debaixo
de roseiras bravas e sabem
que tanto as garças como os papagaios de papel
voam sempre mais alto no outono.
Vou no vértice desses bandos
numa migração de risos transparentes..."

Admirável. Lindo.
Hoje venho "vestido" de PENA.
(MEMÓRIAS VIVAS E REAIS)
Beijinhos de respeito, sensacional amiga.
OBRIGADO.


PENA

Menina Marota disse...

O sol raiou hoje brilhante e depois dos meus afazeres matinais apeteceu-me, no silêncio da manhã, saborear estas palavras como quem saboreia uma romã madura e doce...

Momentos que acalentam a alma e fazem perfeita uma manhã de sol de Outono.

Grata por este momento.

Um abraço carinhoso e mil felicidades!

Anónimo disse...

Um sabor a romãs nas belas palavras deste poema. A fotografia é, também, muito linda.
Beijo.

luis lourenço disse...

o elemento lírico-telúrico da tua poesia que sempre me encanta e dá prazer ler...

abraços

Alexandre Bonafim disse...

Belíssimo, como sempre. Abraço.

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Um belo poema de outono, que deixou-me o coração com um sabor metafórico de romãs.
Ler-te é o maior dos presentes outonais.
saudades, querida
beijo no coração

http://cinzasdecarvalho.zip.net disse...

Ciclo, amiga? acho que não era um ciclo duradouro, mas girava em torno da própria redundância que sou! (rs) Obrigada pela visita! A romã! ligada à fertilidade feminina. Que loucura, Graça! Depois de postar em meu blog (com uma ilustração de Dalí que gira em torno de uma romã!), deparo-me aqui com outra. A de Dalí (pintada) e a sua (cantada em versos) são da mesma magnitude!
Bj no seu coração.
Bárbara Carvalho.

Parapeito disse...

que bonito este outono com sabor a romãs...
e daqui se vai nas asas das garças...

nana disse...

acima de tudo,
saudade de tuas palavras.


..




x