7.1.09

A guerra



A morte vem em todos os jornais.
É a razão de ser das reportagens.
Morre-se porque se ousa carregar na pele
a marca de diferentes etnias.
Morre-se em nome de um topónimo
no mapa do mundo, em nome do poder,
em nome de planos de paz.
Morre-se para baixar o stock das armas,
para testar a perícia dos beligerantes.
Morrre-se à queima roupa, como se a vida
estivesse entrincheirada num contra-senso
onde a noção de dignidade se perde.
Os refugiados só têm a voz
das cidades bombardeadas.
O pranto e o terror cativos do mesmo olhar.
As mãos doendo desalentadas.
Os rumores da guerra na respiração dos meninos
sitiados no silêncio dos abrigos.
Toda a demonstração de um equívoco, ou de um logro
na parábola que fala da fraternidade dos homens.


Graça Pires
De Ortografia do olhar, 1996

51 comentários:

Paula Raposo disse...

Sem dúvida! Beijos.

Teresa Durães disse...

os séculos e milénios têm passado sempre com relatos que falas. Mas nada aprendemos

Unknown disse...

Um belo poema, antes não fosse escrito por causa da guerra. Mas, ela existe. E a tua sensibilidade grande, também. Beijo.
Eduardo

Anónimo disse...

Graça,

é bem verdade.
Mas as escolhas residem no coração dos homens e ambos os lados não são tolerantes.

Aparentemente, para alguns homens, haverá sempre justificação para atentados suicidas e para bombardeamentos. E é nesse entendimento que coexistem.

José Manuel Vilhena disse...

A morte -a sua imagem- que deveria ser-nos insuportável,tornou-se banal à força de ser mostrada.
Qualquer dia (hipótese absurda)olhamos para a fotografia da nossa própria morte e continuams a fazer o que estávamos a fazer,ou seja,nada.
Viver é de facto "uma dura aprendizagem"
Um abraço e obrigado por ter aparecido.

Mié disse...

...toda a demonstração de um equivoco ou de um logro

na parábola.


E assim em equívocos andamos.


um beijo

enorme

Hercília Fernandes disse...

Sim, Graça... morre-se por inúmeras razões.

Os homens vestem-se de suas verdades, levantam os estandartes e gritos de guerra. E nesse circo de horrores matam-se crianças.

Crianças que nascem e crescem aprendendo a se orgulhar dos seus "heróis", para continuar escrevendo as páginas dessa narrativa da vida real...

Beijos amiga, obrigada pela leitura reflexiva.

Hercília F.

dona tela disse...

Eu não consigo compreender estas coisas. Porquê? Porquê?
Desculpe, mas não sei dizer nada de jeito.

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Morre-se , mas estamos certos de um mapa que trazemos na boca quente de aflição, quem corre indiferente aos nossos dias quem ?
Foi um arrepio ler !
Bem Haja!
Cordialmente _______ JRMARTO

Mésmero disse...

Mesmo sobre um tema tão repulsivo, o poema ficou agradável de ler, se tal adjetivo comporta a semântica do escrito.

Só haverá paz quando não existir mais a humanidade.

Beijos!

hfm disse...

Dói dizer-te que é belo.

Quanto à parábola deve ter havido um erro de tradução como tantos que há na Bíblia.

Adriana Riess Karnal disse...

Essa é uma das funções da poesia, alertar-nos para o mal...a outra alentar-nos.Teu poema cumpre as duas funções.

José Pires F. disse...

Os homens são loucos, valham-nos os poetas.

Excelente, a poesia também serve para denunciar, e quanto melhor, maior a força da denúncia, como aqui se prova.

Grande abraço, prima.

Gisela Rosa disse...

...independentemente das guerras, mortes e chacinas que na realidade existem, as imagens enquanto discurso cultural podem constituir formas subtis de objectivação do mundo!


Obrigada Graça por este seu poema que me fez ter presente as matérias que estudei...Um beijo!

Marinha de Allegue disse...

Días, semáns, anos tinxidos de dor e bágoas...

Unha aperta Graça. Feliz Ano Novo.
;)

Bandida disse...

que se rasguem as palavras na revolta.

que treta de mundo![e nós culpados somos]

um abraço Graça!

JPD disse...

Magnífica edição.

(Acrescento apenas este detalhe: podendo faltar tudo, dignidade,moral, saber, satisfação de necessidades básicas, afecto, solidariedade... Armas, nunca!)

Bjs

maría nefeli disse...

Triste é que a morte tenha os nomes do mundo...
um beijo e belo poema, como sempre, Graça...

livia soares disse...

Olá.
Apesar de tudo, este é um mundo maravilhoso, como diz a canção popular. Porque nele existem os encontros e os milagres à nossa espera, onde menos se espera.
Por exemplo: encontrar na Internet os relâmpagos da poesia que salvam a nossa vida, que fazem cada instante valer a pena, talvez porque nunca saberemos se será o último.
É sempre um prazer e um privilégio passar por aqui. Grata pelas visitas simpáticas e pelo estímulo.
Espero que em 2009 a gente se encontre mais.
Um abraço.

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Excelente crítica e desabafo, Graça. Solidarizo-me.
A poesia também tem esse papel, o de mostrar a realidade crua, mas sem perder a forma poética.
beijo no coração

De Amor e de Terra disse...

É Amiga! E dói e dói e dói!!!

Bj

Maria Mamede

Luis Eme disse...

um equivoco que é um dos maiores negócios do planeta.

a fraternidade é apenas mais uma palavra acabada em "ade", que serve para "colorir" discursos...

abraço Graça

Pena disse...

Linda Amiga:
Um poema intenso e repleto de uma poderosa escrita admirável feito em forma de balanço da sua maravilhosa interioridade justa e comovente.
Adorei!
É com um sorriso aberto que a leio. Possui uma capacidade de se dedicar aos outros extraordinária. Linda. Comovente. Digna e exemplar.
Parabéns sinceros.
Queria dizer-lhe umas "coisas" do meu "sentir":
Olho à minha volta, num ápice de encanto. As moscas, essas, nem rastos. Foram-se e foram-se com as horas inexactas.
“Sobrevoavam-me”. Como jactos de guerra, sem guerra marcada para aqui.
Descarregam “Jardins” floridos...Nunca “bombas”.
Nunca as entenderia, às bombas?
Talvez, “Bombas Floridas” de imensos “Jardins” de Flores belas. Talvez...!
Comportariam inequívoca Felicidade. As flores lindas. Puras.
Embrenho-me na pacatez do que sou, onde as "moscas" incomodativas não existem. Tudo está pré-definido. Num bem-estar duradouro. Eterno. Doce. Imensamente Mágico.
“Visto” uma melodia musical.Terna que me apraz. Sim! Em Felicidade, porque não?...


Beijinhos amigos de respeito grandioso e incrível de estima enorme. Bem-Haja!
Sempre a admirá-la e a estimá-la

pena

OBRIGADO sentido pelo seu sentir e pela sua preciosa amizade.
OBRIGADO!

d'Angelo Rodrigues disse...

Com toda a beleza do seu texto, Graça, melhor seria encontrarmos a sua verve ocupada com sutilezas de outras emoções que não a revolta ante a destruição do que existe de mais importante nesse mundo, que é a vida humana.

batista disse...

essa é a boa "batalha", Amiga. por meio de versos inspirados, onde tua indignação é um "basta!" à carnificina.

um abraço fraterno e solidário.

isabel mendes ferreira disse...

as mãos e a voz doendo....sim.

e a alma. e as tuas palavras a serem o posfácio da lucidez!!!!!



enorme o meu beijo.


sempre a admirar-te.





(sem o meu pc....vou demorar mas volto ....sempre....para te ler e re.ler)


Beijoooooooooooooo.

Anónimo disse...

A guerra, uma monstruosidade sem par, preconizada pela intolerância e egoísmo dos homens.
O teu poema descreve, de forma muito bela, todo este drama.
Destaco a frase final:
"Toda a demonstração de um equívoco, ou de um logro
na parábola que fala da fraternidade dos homens."
Beijo.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um excelente poema retratando um flagelo dos nossos dias...

sempre a poesia de grande qualidade, por aqui.

beij

O Profeta disse...

...E a estupidez dos homens não tem limites...


Doce beijo

luis lourenço disse...

memórias tocantes de dor...tão bem gravadas neste seu poema intemporal...

um abraço

Véu de Maya.

Manuel Veiga disse...

perpassa em teu poema a emoção feita revolta.um estimulo e uma consolação de(s) alma(s). dorida(s)

grato

beijos

José Ángel García Caballero disse...

terríveis os olhares sem respota das fotografias da guerra...
um beijo

Benó disse...

Não vou comentar a imagem, não digo nada sobre o poema. Os dois doiem, são actuais, reais, verdadeiros.

Um abraço forte.

Fred Matos disse...

Ah! Graça. É um ótimo poema, na forma e no conteúdo de denúncia da estupidez humana.

Lamentável é que ainda haja motivo para escrever acerca disso. Nestas ocasiões, envergonho-me de ser desta espécie e me lembro de um poema de Lord Rochester, traduzido por Augusto de Campos:

“Fosse eu (que por acaso levo o nome
Da rara e prodigiosa espécie: o Homem)
Livre para escolher meu próprio curso,
A carne certa e o sangue natural,
Queria ser Macaco, Cão ou Urso,
Tudo menos o fútil Animal,
Tão orgulhoso de ser Racional.”


Beijos

Ailime disse...

A missão do poeta é também deixar falar o coração denunciando as injustiças das guerras sem nexo, que cada vez mais parecem assolar este nosso planeta.
Grata por este poema tão verdadeiro e oportuno e tenhamos esperança de que um dia a paz será possível!(?)
Um beijo.

Pena disse...

Maravilhosa Amiga:
Um poema doce e sensível que decora com pureza e beleza a Alma Humana. A sua!
Que atrocidades se comentem sobre o Ser Humano indefeso e frágil.
A Guerra? NUNCA, apesar de que o poder do dinheiro tudo valha. Até as próprias crenças, convicções são postas em causa injustamente...
Fantástico! Genial de doçura e enternecimento, apesar da "força" das palavras poéticas que se ajustam bem. Deslumbrantemente.
Aqui lhe deixo algo:
Olho à minha volta, num ápice de encanto. As moscas, essas, nem rastos. Foram-se e foram-se com as horas inexactas.
“Sobrevoavam-me”. Como jactos de guerra, sem guerra marcada para aqui.
Descarregam “Jardins” floridos...Nunca “bombas”.
Nunca as entenderia, às bombas?
Talvez, “Bombas Floridas” de imensos “Jardins” de Flores belas... Talvez...!
Comportariam inequívoca Felicidade. As flores lindas. Puras.

É uma bonita flor que existe no fundo da sua Alma gigante.
Bem-Haja pela amizade e os mimnhos.
Perfeito versejar. Lindo...

Beijinhos amigos de respeito e muita estima.
Sensibilizado pelo seu encanto

pena

OBRIGADO sentido!

Menina Marota disse...

Realista!

O retrato dos "nossos" dias e de tantos e tantos dias, que infelizmente, aconteceram, acontecem e continuarão a acontecer, em nome de não sei quê.

Quem faz a guerra são os interesses económicos, o ódio, o germinar de conflitos no coração daqueles que nada entendem do Ser Humano.

O Planeta está em ruptura pelos erros humanos, que esquecem-se que estão a cavar a sua própria sepultura e a dos seus descendentes.

Mesmo que fala em Paz, quem apregoa o fim dos conflitos, quantas vezes não se encontra por detrás da "mola" que incentiva estes factos?

Junto a minha voz à tua, no combate a falsos sentimentos...

Bem hajas pelo alerta que aqui nos ofereces.

Um abraço carinhoso

maré disse...

"as mãos desalentadas"

e

os gemidos

perdidos

em palavras gastas
no longínquo da intenções.

quem somos?
para onde vamos?

nada mais que um equívoco?

------

Mais que um beijo,Graça...

mariab disse...

Um poema que se impõe pela qualidade. E esta guerra que se arrasta e dói tanto...

Convido-te a visitar o meu espaço. Beijo

AnaMar (pseudónimo) disse...

Morre-se tanto desnecessariamente, porque ainda não conseguimos alterar mentalidades. E vamos deixando que a História se repita. porquê?

Bj

Pedro S. Martins disse...

Complemente o mundo Gaza
como este poema
complementa a imagem. Ou vice-versa.

Mar Arável disse...

Belo

É preciso resistir de poema

em riste

Mofina disse...

Como dizia o poeta espanhol A poesia é uma arma carregada de fututo...

Em cheio, amiga Graça.

Licínia Quitério disse...

As palavras possíveis. As palavras urgentes. Em nome dos deuses, a insanidade dos homens.

Um abraço, Graça.

Assis de Mello disse...

Graça, desculpa o trocadilho, mas a guerra: que "des-graça". Cumpre-nos, também, lutar contra ela com nossas armas: lápis, caneta, papel, no máximo um teclado.
Tenho andado ausente e devendo visitas à muita gente, hoje estou aqui me atualizando.
Um beijo,
Chico

Pena disse...

Genial Amiga:
Concordo inteiramente consigo e com o que tão bem expressa de repúdio pelo terror e pela guerra abominável que não respeita povos, sentires, crenças, autonomias e os direitos humanos. Perfeita sensibilidade. Estou completamente do seu lado. A apoiar o que tão bem diz. É triste, mas visível e evidente. Feita pela sua fabulosa sensibilidade que expressa de forma apurada e sensível.
Quanto ao conteúdo da mensagem: FABULOSA! TRISTE, mas JUSTA, plena de "ALARME" que devia tocar em todos os corações das pessoas de bem.

“Visto” uma melodia musical maravilhosa e Terna que me apraz. Sim! Em Felicidade, porque não?
Existe. É real. Escutada docemente. Com imensa atenção.
“Calei” o écran televisivo. Sobrevivo assim. Penso...!!!
Eu. O “écran”silenciado. A melodia. A Felicidade. A Alegria. O Encanto. Tudo isto "mora" em mim. "Habitam-me" quando sinto e penso.
É tão bom “sentir” o pensamento. Na Alegria.
As ideias...? Tenho imensas. Sim! Fazem parte do que sou.
As ideias coabitam comigo. Sempre. Sim, amistosas. Solidárias. De bem com todos. Falam-me de “imenso”. “Imenso”. Só “imenso”, sabem? Conquistaram um lugar precioso nas coisas que vejo.
Quanto sentimento contêem? Não consigo apurar. Nem discernir.

Beijinhos de amizade, estima e respeito.
Possui uma expressão escrita feita em versos doces reais, puros e uma visão fabulosa no seu puro sentimento e pensamento.
Toda a Guerra é cruel. Violenta. E, "apodera-se" até de crianças indefesas que não respeita, nem é digna da autenticidade dos seus sonhos que matam duramente. Assiste-se todos os dias, a estas atrocidades agressivas e ingustas.
Bem-Haja, amiguinha doce.
O AMIGO SINCERO QUE NãO ESQUECE...!

BRILHANTE, como sempre, amiga linda.
Cordialmente e com simpatia
O AMIGO

pena

Adorei, com sinceridade!
Pela autenticidade e pela verdade, acredite?!

DESCULPE, incomodar, mais uma vez, mas não consegui resistir dada a sua pureza bela de sentimentos e pensamentos. DESCULPE!

mariavento disse...

Continuamos a não saber a lição.

Bj

Victor Oliveira Mateus disse...

Hoje apetece-me fugir ao discurso
erudito... apetece-me ser grosseiro
... e porque se falou aqui de Gaza
vou ser ordinariamente grosseiro:
"quem se fornica é o mexilhão!!!"
De um lado uns vivem miseravelmente
década após década, do outro se alguém se engana no autocarro fica
com a carne esparramada nos vidros... Tanto me dói uma coisa, quanto a outra! Já que desenharam África a régua e esquadro, é só um bocadinho mais acima...
Mas não!!! Quem lucra com isto?
Eu não... eu não que não vendo
armas? (Para bom entendedor...)
Um beijo, Graça.

Maria Clarinda disse...

Palavras para quê ? O meu silêncio perante tão dura realidade...de dor...e vergonha de ser um ser humano!
Jinhos

© Maria Manuel disse...

excelente poema sobre o momento que vivemos neste início de ano.

Um beijo, Graça!

Parapeito disse...

E há de chegar o diA que lutam com pedras e paus :(

malditos equivocos

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