12.1.09

Memórias de Dulcineia XI

André Kertész

Com as árvores e com as águas
partilho os meus pensamentos.
Manuseio estas palavras
como se fossem minhas
para as usar como protesto,
como absolvição: a boca
devorando a própria fome.
Aguardo um sinal que decifre
o nomadismo da memória
e rompa a cumplicidade do tempo.


Graça Pires
De Uma extensa mancha de sonhos, 2008

47 comentários:

Paula Raposo disse...

Tão belo o teu poema!! Muitos beijos.

Gisela Rosa disse...

"Un jour, la poésie donnera aux hommes son visage" Edmond Jabès


Graça, as suas mãos são suaves e muito vincadas, um abraço profundo, Gisela

hfm disse...

decifrar "o nomadismo da memória"? um impossível mas, pensando bem, será que o desejaria?

Um beijo por mais outro belíssimo poema.

Victor Oliveira Mateus disse...

Graça,

tive sempre um certo fascínio por esta Dulcineia: a sua sensibilidade, a sua lucidez, a forma como está atenta "e decifra
os sinais que no nomadismo da memória" se entregam ao seu olhar sofrido. Sim, admiro-lhe a serena acutilância do olhar!
Um beijo.

Teresa Durães disse...

serão esses pensamentos nómadas que fogem ao conhecimento do tempo?

João Videira Santos disse...

"...Aguardo um sinal que decifre
o nomadismo da memória
e rompa a cumplicidade do tempo."

todos nós aguardamos por esse sinal...

felizes os que o captam.

mariab disse...

Este é, sem dúvida, um dos sítios onde mato a minha fome de poesia. Belíssimo!

Anónimo disse...

graça pires:
chego aqui pelo blog da hercília.
romério

Mésmero disse...

A natureza tá sempre juntinha com seus poemas.

De Amor e de Terra disse...

Nómada é o tempo, perdido pelas plainuras da Mancha, em horas de calor...
e teus versos, na memória das coisas em todas as estações!

Bj

Maria Mamede

Mofina disse...

Tal como a boca
devorando a própria fome
, assim a memória que, nómada, vai rompendo com o tempo para o encontrar.

Nunca saberei agradecer-lhe... por tudo...

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Absolutamente poesia ....
Talvez os pássaros ajudem a esse retorno , mas para isso aguardemos a Primavera ....
beijo

___________ JRMarto

Pena disse...

Admirável Amiga:
Mais um poema fabuloso. De encanto.
"...devorando a própria fome.
Aguardo um sinal que decifre
o nomadismo da memória
e rompa a cumplicidade do tempo."

A memória, vê-la sedentária, corrói-nos num ápice, bem como o tempo nosso cúmplice..
Extraordinário, com sinceridade.
Esta fluidez, este sentir, este estar...!

Beijinhos

pena

OBRIGADO pela simpática visita e pelas lindas palavras lá deixadas expressas.
Bem-Haja, amiga! OBRIGADO!

Adriana Riess Karnal disse...

o sinal? As palavras de protesto e absolvição, que fazem a poesia.

isabel mendes ferreira disse...

re.vim.


"incendiar o olhar"....



sempre!



!!!!

maré disse...

"a boca devorando a própria fome"

o lume onde nos imolamos

a cripa acesa nos nomadismos da memória.

______

que te dizer, Graça?!

Arrepiou-me!
Um grande beijo

Hercília Fernandes disse...

Querida Graça,

a alma é nômade, por isso vem nos acordar, através da imaginação e da memória, para o que é, como diria Cecília Meireles, "efêmero e o eterno".

Enquanto isso...

"Manuseio estas palavras
como se fossem minhas
para as usar como protesto,
como absolvição: a boca
devorando a própria fome".

Lindíssimo poema. Como tudo que brota de teus sentidos apurados em puras seivas e translúcidos espelhos.

Beijos,

Hercília F.

pront'habitar disse...

..."a cumplicidade do tempo"...

quem me dera. e não a romperia, abraça-la-ia, isso sim...






gostei.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

sempre a qualidade super que imprime nas palavras que se leem poema.

muito bom!

beij

Menina Marota disse...

"Aguardo um sinal que decifre
o nomadismo da memória
e rompa a cumplicidade do tempo."

Não aguardaremos todos?

"À espera de um momento de luz
retorno, sem hesitar, ao itenerário
secreto do silêncio e cultivo a solidão,
multiplicando as sombras.
Peregrina de outras luas, resgato a música
que me restou da infância,
como um sobressalto,
ou uma água fresca a ferir-me a boca,
de tanta sede"

(Graça Pires in "não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos " pág. 36)


Um abraço carinhoso.

d'Angelo Rodrigues disse...

É dona absoluta das palavras essa que reparte os vôos da alma com a natureza, e seu brado é redenção. Alimento-me dos seus sinais que embelezam nosso tempo.

Luis Eme disse...

sim, somos muitos os que esperamos...

abraço Graça

Bandida disse...

enquanto se veste a poesia na estrada são os momentos que se precipitam em tons de névoa e nos debruçam sobre a pele a palavra. haja memória e como tu dizes, "a cumplicidade do tempo".

gosto muito do que escreves.

um grande abraço!

Mare Liberum disse...

Gosto da tua poesia. Sempre gostei deste espaço onde posso sonhar.

Beijinhos

Bem-hajas!

Anónimo disse...

Belíssimo poema e constante o desafio de aguardar um sinal que decifre o nomadismo da memória. É a luta do homem com o tempo.

Um abraço,

Mié disse...

Eu também

protesto.

as memórias permanecem

...tudo o que vejo parece-me um reflexo, tudo o que ouço, um eco distante.

Um beijo

enorme

dona tela disse...

Já ouvi falar em NOMADISMO, mas sinceramente não sei bem o que é. Desculpe a minha ignorância.

Uma boa noite para a Senhora Poetisa.

Anónimo disse...

Mais um belíssimo poema, com imagens vivas e poderosas:

"a boca devorando a própria fome"

Gosto mesmo... muito, muito...
Beijo.

JPD disse...

Olá Graça

Amar,
Julgar,
Perdar

Esquecer, Lembrar

O quotidiano que tanto nos embala e tanto nos surpreende.
Nos aflige...

Gosto muito da tua poesia.


Bjs

José Ángel García Caballero disse...

aguardo um sinal que decifre o nomadismo da memoria... Muito belo e preciso,
um beijo

Nilson Barcelli disse...

Ah... as palavras não são tuas...?
Não acrediro...
Se calhar já nem te lembras por causa da tua memória nómada...
Excelente, como sempre.
Beijo.

Licínia Quitério disse...

Aguardamos esse sinal que nos absolva do silêncio.

Um beijo.

Unknown disse...

Belo, sim, mas que dirão as águas e as árvores sobre os teus pensamentos?
Beijinhos meus. Eduardo

São disse...

Muito bem quer a foto quer o poema.
Fica bem, Graça.

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Tão profundo e com imagens tão perfeitas.
Sempre fico emocionada quando te leio, não só pelo conteúdo, mas sobretudo pelas imagens que crias.


beijo no coração

maría nefeli disse...

Muito belo esse poema de uma extensa mancha de sonhos...como todo o livro...
um beijo

Maria Clara disse...

Lindo poema. És uma grande poetisa, Graça Pires!

Venho através do Novidades e Velharias, virei mais vezes. Tenho muito a contemplar em teu Ortografia do olhar. Parabéns!

Abraço,

Maria Clara.

http://cinzasdecarvalho.zip.net disse...

Estou atrasada nas minhas leituras... Mas você, amiga do coração, está nele sempre! Tudo em paz, são os pincéis... Espero você novamente em meu blog. Postei por você e pelo Victor, amigos de sempre! Beijo enorme. Voltarei para lê-la, pois adoro lê-la. Outro beijo.

jorge vicente disse...

e esse sinal está aqui, neste poema que rompe o tempo.

é belíssimo.

um grande abraço
jorge vicente

isabel mendes ferreira disse...

quem dera ser tua cúmplice....em todo o tempo que seja.


porque não me canso NUNCA de te ler!
nunca!


o abraço. certo. e a minha admiração.

Manuel Veiga disse...

palavras como absolvição. sem dúvida...

mas também como lâminas. que cortam. a cumplicidade do tempo (todos somos cúmplices do nosso tempo). e se erguem em protexto.

belíssimo

beijo

O Profeta disse...

Palavras mágicas...as tuas...


Doce beijo

vieira calado disse...

Temo repetir-me:

Muito bom!

Beijinhoss

© Maria Manuel disse...

momento intenso nas mas memórias de Dulcineia, fortes imagens.

Anónimo disse...

Voltando à blogoesfera e às "casas" amigas, não me calha mal que o primeiro poema da Graça que releio em 2009 me diga de bocas devorando a própria fome: em certo sentido, ou em certos todas somos ou fomos Dulcineia.
Um bom ano, Graça.

Parapeito disse...

Belo esse partilhar com as arvores e a água...
Que o sinal não demore

****

LM,paris disse...

Sim Graça, é lindo devorar a sua propria fome, que forte!
Fico sempre atonita e numa quente
espera do proximo poema.
" o nomadismo da memoria", viajante e livre a sua poesia, cumplice e sedenta na espera.
Bjos,
LM