30.3.09

Em seara alheia


O passado dói como a dureza do mundo
João Rui de Sousa
Tenho saudades da tua voz,
desse rendilhado de sílabas
a desaguar lento no alvoroço
da tarde. Tenho saudades
da tua boca, onde eu, - náufrago
de antigas visões - todas
as noites ouvia a límpida melopeia
da ilha. Tenho saudades
das tuas mãos, sem convicções
fundeadas nas mais luminosas
águas. Tenho saudades
do ritual dos peixes, do rumor
inconsolado da brisa a soar
mansa no abandono dos búzios,
do emaranhado das algas
a envolver-nos a prontidão
dos passos. Tenho saudades
de mim nesses tempos,
quando não tinha saudades.

Victor Oliveira Mateus
aqui
In: A irresistível voz de Ionatos. Fafe: Labirinto, 2009

51 comentários:

Teresa Durães disse...

o tempo em que não havia saudades era o tempo de todas as descobertas

Marta Vinhais disse...

As saudades podem tornar-se pesadas...
Poema interessante...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

José Manuel Vilhena disse...

Tranquila escolha.

um beijinho

Paula Raposo disse...

Que maravilha!! Vou lá ver. Muitos beijos.

tecas disse...

Saudade, sentimento bem português.
E...quem não sente saudade...
Os meus parabéns ao autor e a si, querida Graça, por o divulgar.)
Bji amigo

Luis Eme disse...

excelente "seara alheia"...

abraços para ti e para o autor, Graça

vieira calado disse...

As saudades só vêm depois...

Boa semana para si.

Bjs

simplesmenteeu disse...

"tenho saudades"...
da voz que vinha no sopro do vento e era caricia no meu ouvido...
não tinha forma, nem corpo...
mas deixava escamas de cristal no meu cabelo
e gotas de àgua no meu olhar
que se perdia num tempo
que eu tinha medo de acordar...

É a mão departilha e o olhar de carinho sobre os outros, que distingue as pessoas.

Poema capaz de todos os sentires e inspirações.

Obrigada, por dar a conhecer.

Abraço aos dois

Mésmero disse...

Até que é bom sentir saudade, às vezes: sinal que tivemos bons momentos.

Unknown disse...

Obrigada por me permitires mais uma descoberta.

dade amorim disse...

Verdade, Graça, o passado doi porque sempre lhe falta alguma coisa que só percebemos no presente.
Beijo e ótima semana.

Pena disse...

Amiga Linda:
E, eu, humildemente, sentirei sempre imensas saudades da sua pureza e beleza dos versos extraordinários e lindos que já escreveu e vai escrever...Perpetualiazá-los-ei eternamente em mim e no que sou... pela ternura poética magistral, acredite?
Beijinhos de amizade...
Com imenso respeito

pena

OBRIGADO pela simpatia no meu blog, adorei!

Mare Liberum disse...

Tenho saudades.... de tanta coisa, amiga!

Belo poema!

Beijinhos

Bem-hajas!

Vanessa disse...

Já escrevi sobre saudade... mas ainda não postei.
Saudade é um não saber, é um vazio...Saudade é não querer saber ..

Postarei em breve, inspirada por vc.
Obrigada por sua visita, sempre gosto de suas palavras!

bjs

Unknown disse...

Espantoso, o poema, de tão lindo.
Eduardo

Anónimo disse...

o victor oliveira mateus está de parabéns pela publicação deste livro. o poema é muito bonito. a saudade é sempre uma palavra que custa escrever. um grande beijinho para o victor e outro para si, graça.

Isabel disse...

da mais límpida saudade.


da voz cantante do Vitor.


do rigor da composição.


clara.

lume luminoso.


e o meu abraço. duplo. íssimo.



.piano.

A.S. disse...

Saudade!
Espessura inerte, onde os minutos se eternizam pelas noites... minuciosamente!


Um beijo!

susana disse...

Tempos esses que não nos esquecem não é? Belos tempos.

Que um anjo te ilumine

Beijos

Victor Oliveira Mateus disse...

Graça,

sou um amigo ingrato! Tenho andado tão arredado da blogosfera,
tão a arrumar (espero que definitivamente!) algumas coisas
dentro de mim que me parecem ver o
momento de, sem regresso, se estancarem, enfim, tenho andado tão
perdido que quase deixava passar este post e, sobretudo, o teu gesto
Felizmente alguém me tirou da letargia e vim aqui dizer-te obrigado e dar-te um beijo de amizade. ..

maré disse...

a saudade que estremece
que sulca o corpo de melancolia lunar.
é uma língua possuida de desassossego
.

às vezes uma fera rugindo dentro do silêncio.


_______

e muito, muito belo Graça.

Um beijo de saudade larga
Obrigado a ti e ao Víctor

Mar Arável disse...

Apesar de tudo

todos os dias

construimos amanhãs

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

ainda nao tinha lido este poema do Vitor.

também eu por vezes tenho saudades de não ter saudades.

fica um beij

segredo disse...

Saudade tb é sinal k se viveu algo k valeu a pena...
Beijinho de lua*.*

mariab disse...

belo, belo poema. obrigada.
beijos

tempusinfinitae disse...

Saudades de as sentir.

Até da dor que me davam.

De quando sentía saudades de estar longe.
Agora tão perto não me é dado senti-las.

José Renato disse...

Houve um tempo que iniciamos uma corrida com a saudade. Ela partiu na frente e sentimos saudades do futuro ansiado que nunca chega. A alcançamos e sentimos saudades de um outro presente que não o que vivemos e a deixamos para tráz sentindo saudades do que já passou. Ai coração que nunca está presente!

São disse...

Bem hajas pela tua generosidade!
Um abraço grande.

Licínia Quitério disse...

Um Poeta a sério. Já o conhecia. Bom que o tenhas aqui trazido.

Beijinho, Amiga.

teresa p. disse...

Saudades, quem as não tem?...
Muito lindo este poema do Victor. Parabéns!
Beijo.

Hercília Fernandes disse...

Belíssima escolha, Graça!

O poema é simplesmente lindo e contém um fechamento revelador:

"Tenho saudades
de mim nesses tempos,
quando não tinha saudades".

Parabéns pela postagem, muito gostei!

Beijos,
H.F.

José Ángel García Caballero disse...

hmmm.... saudades de não ter saudades, mas isso é a memoria: saudade do que não aconteceu...
bom poema,

um beijo

Nilson Barcelli disse...

Gosto da poesia do Víctor.
Fizeste uma excelente escolha, o poema é muitíssimo bom.
Um bom resto de semana para ti.
Beijo.

Anónimo disse...

Este belo poema do Victor, traz-me à lembrança uma canção de roda, da minha infância, cujo verso dizia:
"Saudades, quem as não tem?
tenho a minha alma cheinha
Agora tenho saudades
do tempo em que as não tinha."
Lembras-te Graça? Só que, nesse tempo, não tinhamos a mínima noção do peso da palavra "saudade"...
Gostei muito do poema!
Abraço
T.P.

Fá menor disse...

Saudades que nos fazem presos do passado...

Bjs

Celina Rodrigues disse...

Também é bom ter saudades de ter saudades.

Gisela Rosa disse...

Gosto muito deste poema do Victor!
Um beijinho aos dois, Gisela

Anjo Negro disse...

Saudade,
E uma mistura de sentires que se fundem num só.
É um conjunto de memórias que guardamos cá dentro.
Saudade é difícil de vivermos com ela, mas se ela existir é porque há algo belo, que temos para recordar...

Que um anjo te proteja.

Beijo


Anjo Negro.

Adriana Riess Karnal disse...

eu estava com saudades desse pequeno grande espaço de poesia....mais um ótimo poema.

Unknown disse...

Olá,temum selo pra você no meu blog.Abraços.

Peter Pan disse...

Estimada Amiga:
A sua Gigante capacidade de versejar encanta e delicia.
Fabulosa!
Parabéns sinceros e sentidos.
Excelente!
Beijinhos de imenso respeito e enorme respeito que nutro por si.
Genial.
Cordialmente


p.p./Pena

Bem-Haja, poetisa de sonho!

maria disse...

Saudades de mim, quantas vezes...
Bela escolha, este poema do Vítor, Graça
Beijinho grande

isabel mendes ferreira disse...

Graça....Graça.....


levo comigo para o sul a sua voz.



clara e límpida.



volto.

em breve.


beijos tb para o Vitor....Sempre.


a estimar-VOS.

adouro-te disse...

Revirando do avesso a palavra "saudades"... sempre me pareceu da família de "saúde".
Deve ser por isso... que não vivemos sem elas... nem sem ela.
Bj.

Monte Cristo disse...

Maldito, este poema, que fez a saudade visitar-me. Agora, que eu começava a esquecê-la...

beijo

Benó disse...

Por muito bom que seja o presente há sempre qualquer coisa de que sentimos saudades, quanto mais não seja "desse tempo em que não tinhamos saudades"
É bom reviver certas recordações.
Um abraço Graça.

o Reverso disse...

o passado dói e prolonga-se no presente

e a saudade


por vezes suave quase doce


mil vezes bem amarga

© Maria Manuel disse...

obrigada por dares a conhecer este belo poema de um autor que eu desconhecia.

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Ao longa da vida, vamos tecendo uma colcha enorme de saudades, coloridas pela lembrança. Mas, para que a lembrança exista, é preciso que se viva primeiro, e quando vivemos sem consciência do futuro, não temos mesmo saudades.
Saudade é o retalho da vida.
Adorei o poema do Victor, uma pessoa que muito admiro.
beijo no coração

De Amor e de Terra disse...

Tal como Victor Mateus, também eu tenho muitas, muitas saudades e tantas coisas...

Beijos

Maria Mamede

Parapeito disse...

...Gostei ...Aí de quem nunca sentiu saudades...
Um abraço***