Partida
Quando parti ninguém apareceu à beira da pista.
Quando parti as viagens eram coisa simples e banal,
e não este desejo de procurar um sentido para
a mágoa, uma clareira para a ausência, uma fonte
- minúscula que fosse – para saciar aquilo que
se mantém ininterrupta sede. Quando parti estavam
todos atarefados a viajar, mas de outro modo –
voracidade de prestamistas, esbugalhados olhos
onde o tempo é tão transacionável, quanto um futuro
hipotecado ou uma mera jante enferrujada. Quando
parti tiveram logo o cuidado de me avisar que a poesia
nunca salvara ninguém, que a procura das raízes
(bem como o entendimento de um passado não
acontecido) era coisa tão ridícula quanto obsoleta
para o riso alvar de muitos. Quando parti a buganvília
da moradia em frente estava esplendorosa e havia
um gato a furar a rede. Quando parti uma mulher
no prédio ao lado sacudia um pequeno tapete.
Acenou-me. Sorri. Quando parti imaginei
o escárnio deles, os telefonemas duns para os outros,
as conversas. Quando parti ninguém apareceu
para se despedir, havia apenas: eu, um objectivo
incerto, o teu rosto a reflectir-se ao longe
e o sol a dar de chapa nas vidraças.
Victor Oliveira Mateus
In: Regresso. Fafe: Labirinto, 2010
31 comentários:
Gostei. Muito.
Por vezes não tenho palavras quando leio algo de tão belo! Obrigada pela partilha, Graça.
Parabéns, Victor!
Beijos.
uma boa escolha de um senhor Poeta!
um beij
vamos a isso
poemar
tenho o teu feitiço
poemas vamos dar.
beijos amiga!!
bonita partida, a do Vitor...
beijo Graça
Há partidas que nos pregam a partida...
Beijos, querida amiga Graça.
Objectivos incertos, é o que todos temos, até que um dia nos decidimos a partir rumo ao nosso objectivo.
Uma partida original esta que aqui nos deixa.
Abraço.
Minha querida
Simplesmente lindo...fiquei sem palavras para comentar...apenas senti...é dificil comentar a alma.
Beijinhos com carinho
Sonhadora
Gostei desta partida solitária, onde não faltava o importante, o "eu", o "objectivo" e o ambiente tranquilo que uma patida solitária exige.
Obrigada pela partilha.
bjs
entrepartida fico
quando o poeta fala de um outro e tanto viajar!
obrigada à Graça, pela escolha
e aos dois
um abraço
manuela
A alma encontra outras verdades, outros voos...
Reencontra-se e no regresso, trazemos a nossa essência....
Lindo....
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Obrigado por seucarinho num momento especialmente difícil. Beijo!
Parabéns a ti e ao poeta que hoje generosamente divulgas.
Bem hajas!
não importa o que se adivinha na ausência dos rostos
interessa o vento na raiz da interrogação.
importa o entendimento do que ferve sob o branco
o terrível jogo na atracção dos espelhos.
__
um beijo, querida Graça e
OBRIGADA,
por este e todos os que me fizeste chegar tão imediatamente ao coração. como tudo o que me chega de ti, sempre.um abraço mais vivo a sustentar a emoção da saudade.
ao Víctor, estendo um abraço, grata
por nos proporcionar o prazer da excelência da palavra
Querida Graça, quando este livro saiu, logo 3/4 bloggers se levantaram com indirectas... eu entendi-as, apesar de indirectas! Uma delas rondava a baixaria, era algo do estilo: tenho pena de não ser intelectual e de não ver cinema europeu (ver os meus posts s/ cinema!)sobretudo francês e russo... blá-blá... e depois referia ter visto um filme russo chamado regresso... Prefiro n continuar! O q esses bloggers n sabiam é que, ao mesmo tempo, eu recebia telefonemas e mails de grandes poetas cujo teor era bastante diferente. E não só mails deste país! E não só escritos em português! Essa hostilidade, imerecida e injustificada, não foi só superada por esses mails, mas pela simpatia com que tu, a Inês Lourenço, o Carlos Vaz e o Pompeu Miguel Martins, etc. divulgaram o meu livro. Agora, ao ler estes comentários: da Paula, da Pi, da São, do Luís Eme, da Luísa, do Nilson, etc., verifico que os mails faziam mais sentido do que o palavreado gratuito... Grato a todos vocês pelas palavras e a ti também, pelo gesto...
1 bj de amizade,
V.
Olá, boa tarde!
A prova de que há muitos e bons poetas,
neste país!
Beijinho
Sempre a solidão a marcar cada partida, a marcar cada vida...
Gostei muito do poema do Victor. Parabéns!
Beijo
Graça,
Foi para mim extraordinário partilhar aqui este belo texto do Vitor Oliveira Mateus, que não conhecia. Vou tentar adquirir o livro.
Obrigado!
Abraço,
AL
fabuloso poema!
grato por me revelares um Poeta maior.
beijos
a paisagem que fica sem nós ao partir tem alma própria, estas palavras a descrevem bem...
um beijo
Muito belo este poema, muito belo este livro...um lugar onde (re)nascer...
Um beijo, querida amiga
Obrigada Graça, por este maravilhoso poema de Victor Oliveira Mateus. Uma partida em que as palavras prometem chegada...
Bjito amigo
um texto lindo e profundo
Boa semana querida amiga
Beijinho de lua*.*
Cada partida tem o seu particular, um mais sábio que o outro.
JC
gostei muito de ler este poema, porque ainda não tive oportunidade de adquirir o livro :) um beijinho, graça.
Querida amiga, como já comentei, desejo-te "apenas" boa semana.
Beijos.
Um poeta, tem o dom de acalentar corações...
Parabéns, sabes fazer isso muito bem
Amei seu blog!
Beijos iluminado
Preciosa Maria
Hoje estive a ler a tua poesia que gostei bastante e escolhi uma que publiquei no meu blogue de Noite de Tormentas.
"Por caminhos de sul..."
Traduzi o poema para español porque eu escrevo os blogues em espanhol.
Agora encontrei o teu blogue e aproveito para deixar aqui a informação e já agora um convite para visitares os meus blogues.
http://romantiquices.blogspot.com
Obrigada e parabéns
Beijinhos
Flor
Minha querida Graça, boa tarde.
Obrigada por partilhares comigo/connosco, este teu amigo e grande escritor que é Victor Oliveira Mateus. Fico deslumbrada com o modo como ele (e tu) usam as palavras e com elas conseguem fazer estremecer o meu/nosso coração.
Bjs. e parabéns aos dois.
Maria Mamede
Quando partimos levamos o "nada que é tudo"
Gosto do poema. Parabéns ao autor e à Graça pela partilha!
Um beijo
José
É um grande poema do Victor cuja obra só recentemente conheci. Obrigada, Graça.
Enviar um comentário