28.10.19

Marie

Amedeo Modigliani


Oculto no olhar um débil tumulto.
As veredas da infância golpeiam-me
nas pálpebras a tua morte, pai.

Como aves em queda no ensaio do voo.
Como passos sublevados correndo pela noite.
Como os dias em que enrolo
no pescoço o meu cachecol mais negro,
a exprimir a dor vertida sobre o rosto.

O laço branco que uso no cabelo é um aceno
em minhas mãos tão desamparadas das tuas.

Graça Pires
De Fui quase todas as Mulheres de Modigliani, 2017, p. 39

65 comentários:

Luis Eme disse...

Que bela Marie...

abraço Graça

Marta Vinhais disse...

Há dias em que não podemos esconder a dor...
Lindo...
Beijos e abraços
Marta

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia. Um deleite de poema e imagem. Simplesmente uma conjugação maravilhosa
.
Votos de uma semana feliz

chica disse...

Sempre um encanto,Graça!Adorei mais essa! Linda seja tua semana! bjs,chica

teresa dias disse...

"O laço branco que uso no cabelo é um aceno
em minhas mãos tão desamparadas das tuas."
Graça, a dor que sentiste na escrita deste poema senti-a eu ao lê-lo, sem laço branco no cabelo mas com mãos desamparadas.
Magnífico, minha querida amiga.
Beijo, boa semana.

Sandi disse...

Captura incrível da emoção em seu rosto.

A Paixão da Isa disse...

marie um bonito nome frances adorei o teu poema mt bonito bjs

Ana Bailune disse...

A beleza pura, derramada em dor.

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

Graça, Graça! Rendamos graças... Este teu poema é um acinte até a Camões! Maravilhoso, minha querida amiga! Parabéns! Pega na veia! Pelo menos na minha, pegou em cheio! Mas não creio que haja tantas almas diferentes da minha. Estou exultante e orgulhoso por ti, prezada Graça! Deus seja louvado! Laerte.

OBS: Ponha teus livros na plataforma digital Amazon. Poderão ser comprados e traduzidos em qualquer lugar do mundo.

Cidália Ferreira disse...

Perfeito, este poema!! Amei!

Beijos e uma excelente tarde!

carlos perrotti disse...

Você delineou com extrema e natural sensibilidade a bagagem e a essência de Marie, sua memória e esperança, sua dor e ilusão... Até Modigliani ficaria encantado com a sua versão, Graça.

Muito obrigado por esta leitura e um grande abraço, amiga.

Teresa Durães disse...

Um poema de saudade e tão belo! Peço desculpa a minha ausência, nada tem sido fácil

Anónimo disse...

Tão belo! Tão sentido! Graça, obrigada por nos oferecer tão maravilhosa poesia.
Beijo
Carmo Baião

bea disse...

Tão bonito imaginar assim a tristeza num quadro, dizê-la em nós através dele. E talvez haja laços brancos que se não vêem em tanta gente que não teve um pai ou tendo-o nunca teve o prazer da mão na mão. Talvez haja gente de laço triste e duplo e triplo, em florida tristeza, imaginários laços tristes que no mais dos dias se sacodem e caem ao de leve no chão, um montinho de brancura no pardo da terra. E alguém o vê e apanha, olha é um laço de garota, por certo o perdeu em corrida feliz. E não.
Boa semana, Graça.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Excelente e belo poema minha amiga, gostei e aproveito para desejar uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Vanessa Casais disse...

Que lindo e comovente.

Obrigada pela partilha.

Como gosta de poesia convido a ler https://primeirolimao.blogspot.com/2019/10/10-ideias-para-quem-gosta-de-poesia.html

Bjs,
Vanessa Casais

Mar Arável disse...

...quando as palavras desenham a dor que sentimos

Bj

Ailime disse...

Boa noite Graça,
Um poema muito belo, que me comoveu, em que a dor e a saudade se misturam em sentimentos que perdurarão no tempo.
Gestos e afetos ausentes que só as lembranças gravadas no coração ajudarão a mitigar.
(Como a compreendo, minha Amiga e enorme Poeta).
Um beijinho e continuação de uma boa semana.
Ailime

JUAN FUENTES disse...

Los poemas y tu amor a la literatura,junto a las artes,te hacen mejor persona

Larissa Santos disse...

Depois de uma breve ausência (doente), estou de volta. O Gil com muito trabalho, incumbiu-me de vos visitar... Hoje numa passagem rápida. Espero que entendam...

Hoje, do Gil António :-O amor e a sua ausência

Bjos
Votos de uma óptima Noite.

manuela barroso disse...

Em cada mulher "escrita" num texto icónico, neste caso a pintura de A.M., tu a vestes com o cetim das tuas palavras , a sabedoria do teu olhar. E nascem outros traços em nova vida. Outro retrato.
Mas tal só pode acontecer com quem tem a Arte na ponta dos dedos. E tu tens, Graça! E quanto!
Dir-te-ei sempre , parabéns, querida amiga pelo tanto que és!
Abração!

Lucinalva disse...

Olá Graça
Bonito poema, desejo uma bela noite. Bjs

Maria Emilia B. Teixeira disse...

A dor da perda fica estampada no rosto, quando recente, depois ela fica no coração.
Boa noite Graça Pires.

Teresa Almeida disse...

Subleva-me a leitura deste tocante e belo poema
"como débil tumulto*
e tão eloquente o aceno do laço!

Quanta arte na tela e na palavra!

Beijos, querida amiga Graça.

Tais Luso de Carvalho disse...

Que lindo, mas que triste, Graça! Lendo e lembrando de meus pais, triste é a saudade!
Os mais belos poemas são esses, que vão fundo na alma, e lá encontramos novamente tudo aquilo que perdemos...e que sabemos que nunca mais!
Beijinho, querida, uma ótima semana.

Toninho disse...

Sentimentos que povoam e perduram.
Emoções em cada suspiro que se eleva.
Lindo sempre amiga numa bela arte neste belo livro.
Boa semana maravilhosa.
Beijo de paz.

Roselia Bezerra disse...

Bom dia de paz outonal, querida amiga Graça!
"O laço branco que uso no cabelo é um aceno
em minhas mãos tão desamparadas das tuas."
Que encanto!
Assim ficamos corpo todo ao desamparo na ausencia do amado do nosso 💓.
Muito lindo seu poema!
Tenha nova semana abencoada!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

My Article disse...

i like your article, so happy and nice to meet you. i am from Indonesia

Ives disse...

Que beleza de poesia. Aprecio muito a história de Modigliani. Um idealista que não vendia seus quadros, um gênio preso pelos valores, entre ecos da loucura! beijos

Isa Sá disse...

Bonito poema.

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Agostinho disse...

Porque o foi é
na nossa eternidade mortal
o regresso do tumulto é
mais do que um regresso
Nunca nos abandona

Um belo poema ali à mão
não pelo receio de esquecimento
Há coisas que se conservam
enquanto for o tempo

Beijo, Amiga Graça Pires.

José Carlos Sant Anna disse...

Que belíssimo poema, minha amiga Graça. Que articulação primorosa você conseguiu ao longo do poema, sobretudo nos três versos iniciais. Não haveria palavra mais adequada para traduzir o conflito vivido pelo eu poético em momento tão crucial. Há três expressões muito fortes no poema que servem para indicar a inadequação para o instante, "débil tumulto", "veredas da infância" "nas pálpebras a tua morte". E as imagens se sucedem com uma justeza; "como aves em queda no ensaio do voo" "passos sublevados correndo pela noite"; "a dor vertida no meu rosto". Que bela captura. Não há como não imaginar este rosto, essa dor. E o desenlace do verso final: "... em minhas mãos tão desamparadas das tuas". Excelente poema!
Um beijo, minha amiga Graça!

Daniela Silva disse...

Simplesmente lindo!

José Ramón disse...

Me encanta, este poema Saludos

Baim disse...

tão poético que dá tanto sentido, até essas lágrimas quase fluem quando você a lê devagarBaim

Pedro Luso de Carvalho disse...


Olá, Graça!
Um lindo poema, querida amiga. Um triste poema! A dor da filha pela perda do pai. Dor que com o tempo faz-se lembrança. Parabéns, poeta!
Uma excelente semana Graça.
Um beijo.
Pedro

Micaela Santos disse...

Senti este poema!


Lindas palavras, delicadas expressões!

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

a morte é certa, mas, a morte do meu pai é uma sensação que me acompanha desde os meus vinte anos.
é dura, é amarga, é definitiva.
este poema doeu-me.
afinal a morte existe, embora eu me custe muito.
beijo
:)

Maria Alice Cerqueira disse...

Bom dia Graça
Está lindo teu blog.
hoje vim para te desejar tudo do melhor para ti, uma santa semana para ti. abraço amigo
Maria Alice

Daniel Costa disse...

Graça Pires, sou já fã do teu modo de tratar as palavras, transformado-as em belos poemas, como o presente.
Bjs

Ana Tapadas disse...

Toca fundo este poema.

Um beijo amigo.

Sinval Santos da Silveira disse...

Querida Mestra, Graça Pires !
Que bela e sutil descrição de uma dor,
simbolizada por dois detalhes tão bem
figurados.
Parabéns !
Um carinhoso abraço, aqui do Brasil !
Sinval.

solfirmino disse...

Graça, minha amiga, que sublime esse verso, como só você sabe escrever:
"O laço branco que uso no cabelo é um aceno..."

Um beijo

fatimawines disse...

Que sublimação , que clarividência as tuas palavras me transmitem.
o indumentária vestida no teu ser é o reflexo acabado de uma saudade tão expressiva e sentida que se cola ao que sentimos.
bj.

ManuelFL disse...

Procuro sem jeito palavras para exprimir as emoções que este poema da Graça provocou em mim. Como escreve a poeta:"a dor vertida sobre o rosto... minhas mãos tão desamparada das tuas". Beijo.

Jaime Portela disse...

Mais um poema brilhante.
Os meus aplausos para a excelência das palavras que aqui vão surgindo.
Graça, bom feriado e bom fim de semana.
Beijo.

teresa p. disse...

Um emocionante poema que trás à memória a morte do pai. Ele partiu tão cedo que não deu para tomar consciência do seu amor. Ficou um enorme vazio e "a dor vertida sobre o rosto... "as minhas mãos tão desamparadas das tuas."
Gostei muito desta homenagem ao pai.
Beijo

Zilani Célia disse...

OI GRAÇA!
UM POEMA EMOCIONANTE E BELO NOS BRINDAS AMIGA.
ABRÇS

http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Majo Dutra disse...

Tocante, expressivo e muito belo.
Beijinhos
~~~~

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

Tenho que confessar que repassei para curtir teu belíssimo poema! Bom fim de semana, amiga Graça! Abraço cordial! Laerte.

Emília Pinto disse...

Hoje, um dia especial para todos os que já perderam alguém muito querido, há muitas pessoas sentindo-se uma " Marie" e eu, sou uma delas. Hoje, mais que nos outrs dias, recordo o meu pai que encarava a morte com tanta naturalidade que, era eu ainda criança, já conhecia a " casinha " por ele adquirida para nos acolher nessa altura certa para todos. A dada altura a vida nos empurrou para o Brasil e, chegando lá, logo ele preparou a ultima morada para todos nós; escolheu a vida que a morte o levasse há quase dois anos, na sua segunda pátria e assim fosse o primeiro a ocupar essa casinha. Há quem me pergunte o motivo dele ter ficado lá e eu respondo: Portugal viu-o nascer, viu-o crescer, fazer a sua própria vida e viu também nascerem e crescerem os seus filhos; o Brasil, completou-lhe a existência, dando-lhe uma vida mais confortável e dando-lhe também os netos e bisnetos; deram-lhe muito os dois países e se a vida escolheu que o seu caminho terminasse lá, lá tinham que ficar o seu corpo. Graça, amiga, sei que tudo isto nada interesa para o teu cantinho, mas a tua Marie me levou até ao meu querido pai, fazendo-me recordar com muito reconhecimento, o tanto que se esforçou para criar os dois filhos, sempre com muito carinho e, principalmente com valores que me têm servido de orientação na minha vida e na dos meus filhos. Desculpa, mas, tenho a certeza que entendes. A distância não permitiu que, hoje, o homenageasse com um ramo de flores, mas sei que para ele isso pouco importa; sempre dizia que queria carinho em vida, porque depois não precisava dele. Creio que o teve . Um beijinho, querida Graça
Emilia.

Fá menor disse...

Mais um belíssimo poema-retrato de vida!

Bom fim-de-semana, amiga Graça!

Beijos.

Duarte disse...

A ausência causa dor e nem todos os recursos possíveis são afagos que conseguem mitigar o seu fim.
Nem a firmeza do verbo, nem a riqueza da palavra, mas sim a beleza dos teus versos que expressam amor.
Abraços de vida, querida amiga.

neyborba disse...

Gostei muito do teu blog, a tua poesia concentra o sentir em muitas nuances pra que todos entendam. Eu, ainda que de pouco conhecimento sobre arte na pintura,admiro Van Gogh.

Abraço e bom fim-de-semana.

silvioafonso disse...

Triste, tão triste quanto belo
o seu poema, minha doce Graça.
O dia é de lembranças, mas de
saudosas lembranças.
Beijos, amiga. Beijos.

LuísM Castanheira disse...


como pode em teu "oculto olhar"
a transparência da dor
ser tão intensa, que transborda em
sublime poesia?

toda a morte é sofrimento.
toda vida não chega a uma lágrima sentida.

e, em cada verso, o amor patente
no interior do nosso universo.

laço as minhas mãos a
‘as tuas...

um bom domingo, minha querida amiga Graça
um beijo.

Manuel Veiga disse...

a finíssima dor da ausência
num poema muito belo.

gostei muito, querida Poeta.

beijo

PROFESSORA LOURDES DUARTE disse...

Olá! Matando saudade do seu cantinho lindo!
Poesia perfeita! parabéns querida!

A amizade se enriquece com sentimentos bons quando o coração descobre a grandeza fraternal da vida. Hoje domingo, dia de descanso, mas também de visitar amigas e amigos queridos.

Que seu dia de hoje seja marcado por coisas felizes e que em seus lábios esteja o sorriso da felicidade! Um ótimo Domingo.
Abraços

Mirtes Stolze. disse...

Boa noite querida amiga Graça.
Mas um poema perfeita que temos prazer ao ler. Uma abençoada semana amiga. Grande abraço.

Carlos Augusto Pereyra Martínez disse...

Es una retazo de nostalgias, donde puede emerger la memoria del padre o el más nimio objeto, pero bello: el cordón blanco del pelo. Un abrazo. carlos

baili disse...


touching and deeply sensitive dear Grace !

memories related to such most strong relationships are blend of salty ocean and stromy gusts of pain
blessings!

Olinda Melo disse...


Minha querida Graça

Quanta saudade e mágoa neste seu poema,
sentimentos aos quais vou buscar a
minha parte, irmanada consigo na perda de
entes queridos. Do aceno do laço branco,
também uma lágrima, as recordações e
momentos de doce encanto, inesquecíveis.

Beijinhos

Olinda

manuela barroso disse...

Tão intensamente magoado e saudoso que as palavras, elas próprias se vestem de luto, até o branco do lenço num acenar tão teu!
Retiro-me sempre a olhar para trás ainda
abraço, querida amiga!

Reflexos Espelhando Espalhando Amig disse...

Graça querida,
Eu gosto de ler e
ver a imagem, me
trás uma paz ler poesia.
Bjins
CatiahoAlc.

Ana Freire disse...

Um poema que me tocou particularmente, Graça!... Especialmente por ter perdido o meu pai tão cedo também!...
Adorei cada palavra! Beijinho
Ana