25.2.07

A noite

Ansel Adams

À altura de todas as estrelas
coloco as mãos para tocar o vento.
A lua é um fascínio que deixa atónito
o meu corpo, e lhe dá um cheiro
de fêmea fecundada ; um fogo posto
a deixar um luar, pleno, detido nos meus olhos.
Passeio-me, longamente,
pelo lado mais insensato das palavras
e digo o nome do último pássaro nocturno,
como se nele repetisse um primeiro adeus,
tão súplice, tão magoado.
Um tango exausto sobe-me pelas pernas.
Há, na minha boca, uma rua silenciosa,
por onde se chega à fragilidade dos lábios.


Graça Pires
De Ortografia do olhar, 1996

2 comentários:

Menina Marota disse...

Uma musicalidade tão sensível, neste poema...como se num beijo pudessemos alcançar as estrelas...

Grata pela partilha.

Um abraço e boa semana poética ;)

Graça Pires disse...

Bem haja! É assim, que transformamos o acto solitário de fazer o poema no acto solidário de partilhar a poesia.
Um abraço e boa semana para si também