8.3.07

Apesar de tudo. Apesar de nada

Duncan Clark

No primeiro luar de outono,
alterei o penteado e risquei,
em todos os mapas do mundo,
caminhos interiores.
O mais comum dos peregrinos
cruzou comigo o olhar vadio,
como quem partilha a água e a sede,
o pão e a raiva, a fome e o sangue.

Num lugar de mágoas e cansaços
te encontrei, companheira de sonhos.
Gastaste as mãos nos ardis da entrega
e percorreste os trilhos da coragem,
resgatando a noite.
Às vezes, murmurámos, entre nós,
coisas do silêncio, denunciadas pelo olhar
e dissemos: não há mais nada a fazer senão amar.
Apesar de tudo. Apesar de nada.

Graça Pires
De Reino da lua, 2002

6 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia!...

Verdadeiramente fascinado com a sua poesia,aqui retorno.
Tem sido uma descoberta continua,navegar pelas suas palavras...Há um poema,entre tantos outros ,que não me abandona:chama-se "Nocturno" e tem sido uma presença obsediante em mim enquanto vou contemplado este mar que nos viu nascer...

Um abraço...

João

Anónimo disse...

Há sempre muitas coisas a fazer...uma delas é amar.
Christina

Unknown disse...

Conheci suas poesias através de uma amiga, Cleri Bucioli, também poetisa. Fiquei encantada! Não esperava tanta sensibilidade. Ao ler seu livro, "Uma certa forma de errância", não sei dizer qual dos poemas provocou as lágrimas que não pude conter. Depois disso, fiquei apaixonada pela sua obra e procurei adquirir seus livros aqui no Brasil, mas não os encontrei... Um abraço...

Graça Pires disse...

Obrigada João por se lembrar de poemas meus junto a esse mar lindíssimo da Figueira.
Tem razão Christina. Obrigada pelo comentário.
Maria Luiza, fiquei sensibilizada com as suas palavras. Claro que não encontra no Brasil nenhum livro meu. Eu acho que nem em Portugal. A razão deste blog é um pouco essa.
Um abraço para todos.

Anónimo disse...

Foi na internet que soube da poesia da Graça Pires. Depois encontrei um livro numa livria. Foi a única vez, é certo. Curiosamente, não nas prateleiras inferiores, aquelas que nos obrigam a ajoelhar, ou nas do topo, ou atrás de Códigos-do-não-sei-quantos e de Eu-Sei-Lás. Estava ao nível do olhar, na secção de poesia portuguesa. Folheei-o, leitura em diagonal, mas houve tempo para que um dos poemas, sobre a maternidade, me tocasse particularmente. Pensei que voltaria para levar o livro. Mas nunca mais regressei à livraria e creio que já não existe. Aborrece-me não me lembrar do nome do livro. Se o poema for publicado aqui, talvez o reconheça.
O lixo cultural ocupa demasiado espaço. Esse é o seu principal malefício. O blog é uma boa alternativa. Que tenha sucesso, muitos e bons leitores!
m.

Graça Pires disse...

Obrigada m. Espero publicar no blog o poema que lhe agradou ler.
Um abraço.