18.6.08

Ganho asas

Yousuf Karsh

Quase tudo é previsível.
O dilema total é escapar
do calendário dos profetas.
Solto-me. Ganho asas.
Estou no século dos abismos,
mas não quero outra idade.
Interpreto todas as parábolas
para encontrar um pormenor
que sancione a minha biografia.
Habituo-me à ideia do jardim
abandonado nas pálpebras
de fisionomias ao acaso.
Um fio de água emoldura
a sombra de Ícaro,
para que permaneça intacta
na memória do sol.
Tão súbito um estribilho de aves no meu riso.


Graça Pires
De Labirintos, 1997

25 comentários:

Anónimo disse...

certamente que no seu olhar descansam as mais belas flores, graças. para que ao escrever, as palavras sejam pétalas ou, como diz, asas em direcção ao poema :) um grande beijinho*

Teresa Durães disse...

com asas se solta sempre!

Pena disse...

Linda Amiga:
"Habituo-me à ideia do jardim abandonado nas pálpebras de fisionomia do acaso". "...para que permanece intacta na magia do Sol".
LINDO!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Um texto pleno de vida. Encanto.
Previsível.
Um perfeito "Ganho de Asas" numa perfeita pessoa.
Adorei!
Beijinhos amigos de estima e imenso respeito.
Sempre a lê-la com encanto e maravilha.
Possui uma enorme veia poética que enternece.

pena

mundo azul disse...

...muito bonito! Palavras em liberdade formam o seu belo poema...
Beijos de luz!

Luis Eme disse...

que bom, soltares-te e ganhares asas...

abraço Graça

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

jardim abandonado nas pálpebras...

que bonita passagem.

o poema como sempre está excelente.

beij

Victor Oliveira Mateus disse...

Sim, é uma escrita que, no século
dos abismos, escapa do calendário
e ganha asas! Coisa rara e excelente.

Carla Ribeiro disse...

Lindíssimo, mesmo... Quase dá vontade de voar diante destas palavras... Parabéns.

Beijinho

Regina Graça disse...

Que bom gostar da idade e viver neste século!

maré disse...

a terra é inocente
dos jardins abandonados

e há um respirar
um fio de água
onde, ainda o mundo aporta.

inauguro-me de luz.por aqui

bj

maré

Ailime disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ailime disse...

Grande poema e que inspiração meu Deus!
"Habituo-me à ideia do jardim abandonado nas pálpebras de fisionomias ao acaso".
Que belo, que profundo, intenso!
Muito obrigada por me permitir ler a sua poesia!
Beijinhos com muita amizade!

pin gente disse...

pobre ícaro... perdeu-se a voar


muito bonitas as tuas palavras

abraço

Anónimo disse...

Só as asas do sonho, da poesia, dão essa liberdade de "escapar do calendário dos profetas".
Lindíssimo poema de palavras e imagens. A fotografia tem tudo a ver...
Beijo.

Anónimo disse...

Nada melhor que nos soltarmos e ganhar-mos asas

bjs

JPD disse...

Livre, livre voando...

Licínia Quitério disse...

Um poema que nos leva dos abismos à voz alta dos pássaros. Magnífico.

Um beijinho.

Paula Raposo disse...

Está fantástico este poema!! Li-o bebendo cada palavra...beijos.

lena disse...

tanto encanto neste poema!

o teu voo é belo.

as asas imagino-as de pétalas graciosas desse jardim "abandonado nas pálpebras"

é um riso nessa liberdade sentida

excelente soltar de palavras


é um privilégio meu, ler-te querida Poeta


obrigada por tão boas e excelentes poemas que vais partilhando

um abraço com carinho

beijinhos

lena

Manuel Veiga disse...

"um pormenor
que sancione a minha biografia".

a perfeição. dos pormenores. como fio de água. no rosto de Ícaro. ao sol...

absolutamente divino!

vieira calado disse...

Diz bem: "estamos" no século dos abismos,
mas não "queremos" outra idade.
Temos de viver a vida que temos.
E para quem sabe escrever, escrever como a amiga escreve.
Bjs

Isamar disse...

Escapar do calendário dos profetas e ganhar asas. Voar, voar, voar no infinito imenso.

Beijinhos

Unknown disse...

Um fio de água emoldura
a sombra de Ícaro
Graça Pires

grava-se em pedra a queda do poema
o esboço de um sentido
para a lágrima
com que se tece
a memória de ícaro


Xavier Zarco

© Maria Manuel disse...

«Tão súbito um estribilho de aves no meu riso.»

tão belo!

um beijo, Graça.

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Perplexidade poética, são as palavras que me cabem nesse momento. Belíssimo.
grande beijo