ARCANO
As altíssimas torres
foram trespassadas por pássaros
alucinados. Um deus ofendido
pelos povos terem inventado
os dicionários, para fugir
ao castigo de Babel,
fez explodir essas formas
de arranhar o céu, sacrificando
milhares de vítimas. Algumas lançaram-se
das alturas, na fuga às chamas
para a enganosa respiração
da manhã. Consta que deus,
disfarçado de mortal
se escondeu nas montanhas.
Inês Lourenço
In: A Enganosa Respiração da Manhã. Porto: Asa, 2002
29 comentários:
Lindo e triste ao mesmo tempo. O poema remeteu-me para um espaço e um tempo que jamais esquecerei. As lágrimas rolaram.
Beijinhos
deus vingativo...
Da enganosa simetria dos deuses. Poema muito belo.
Memória profunda...tão poética da densidade trágica que nos contrange...de modo tão imprevisível...a força da palavra poética...bem haja pelo magnífico poema da Inês Lourenço...
abraços
pelas palavras, que “à míngua de um abraço”, abraçam, mesmo de longe;
pela lembrança do riso, teu riso:
“... que vai do espanto
à original pureza do olhar.”
... por todas as searas, tuas ou alheias, por cá encontradas, motivos de retornar.
deixo um abraço fraterno.
Consta que deus disfarçado de urze invadiu há muito tempo Toda a Poética de Ines Lourenço.
sempre reconhecível.
e amada. (por mim) :)
na textura quase árduo de um dizer que se levanta.
_____________________.
beijo Graço. sim. sem fugas____________.
e amor te caminha fra goso entre nosco
Não conhecia a poesia da Inês.
Este poema é uma delícia...
Pronto. Lá irei eu à FNAC à prcura da «Enganosa Respiração da Manhã»
Bjs e muito obrigado pela sugestão, Graça
obrigada pela tua presença, Graça! gostei imenso!
beijo
"...Um deus ofendido
pelos povos terem inventado
os dicionários, para fugir
ao castigo de Babel,
fez explodir essa formas
de arranhar o céu, sacrificando
milhares de vítimas."
... mas acredito que um dia o Amor triunfará sobre as Trevas...
Grata pela partilha.
Um abraço carinhoso ;)
Este poema não é uma terrível metáfora do 11 de Setembro?
Gostei muito.
Beijo.
Belo poema de lavra alheia. Que os deuses nos perdoem pelo culto da palavra.
obrigada por nos trazeres uma autora que, de outra forma, talvez, não chegasse a conhecer.
Tenho um novo projecto.
Dê-me a sua opinião, se faz favor.
e foi uma foice muito bem metida, graça
bonito!
abraço
Belo e original entre outras coisas...
Graça, por e-mail enviei-lhe um convite, certo?
Beijo
Sabe, Doce e Terna Amiga:
Admiro-a imenso.
A sensibilidade poética que a "habita" fascina.
Fascina, nas poesias que faz maravilhosamente decoradas com um gosto excelente.
Preocupa-me um pouco neste poema a sua tristeza esperançada de perfeição, delícia e fascínio.
Escolheu um poema para reflectir, pensar, divagar perante uma significação poderosamente "imensa" que "preenche" por completo.
"...Consta que deus,
disfarçado de mortal
se escondeu nas montanhas..."
Tem genialidade, talento e atitude criativa adoráveis e extraordinárias.
Parabéns sinceros.
Já tinha saudades do seu encanto.
Beijinhos amigos de respeito, estima e imensa consideração perante o que deliciosa e magicamente "constrói" com as suas palavras maravilhosas.
Fascinado...!!!
p.pan
A propósito deste excelente poema, gostava de citar o poeta árabe Mahmoud Darwish, recentemente falecido. São de Darwish,que nasceu numa aldeia da Galileia arrasada na guerra israelo-árabe de 1948, estas palavras tão simples:"Every beautiful poem is an act of resistance".
"A enganosa respiração da manhã" está mais afeta a que forma foram passadas as notícias quando do vultoso desastre nas torres gêmeas, pentágono etc. Sim, de uma maneira nada misteriosa tais fatos ocorreram. Em verdade, o genocídio milenar que o império norte-americano-judaico opera no mundo árabe é, sim, pouco noticiado. Não vimos crianças quase mortas sendo devoradas por urubús no Afeganistão? Isso seria menos deplorável que um ataque aéreo às duas torres, pentágono etc.? Há deuses disfarçados de mortais não somente escondido nas montanhas árabes, mas de colarinho bem branquinho e por toda a parte... também habitam casas bem alvas. Óbvio que uns erros não justificam outros, mas não vejo licitude nenhuma em brigar por petróleo (poder econômico) e forjar a todo um povo que, na verdade, estariam brigando por convicção religiosa ou por uma maldita Faixa de Gaza. Acho que a enganosa respiração da manhã expiramos nós quando nos deixamos convencer de que nossos atos ocidentais pseudocorretos não trariam conseqüências.
Denso o poema, mais densa a história que ele retrata e, mais densa ainda, a história que ele deixou de estampar.
Beijo grande.
Obrigada pela reflexão.
De acordo com Darwich!
lindo este poema Graça, a Inês Lourenço, aprendi a conhece-la
a partir do blog,me leva bem longe , até às montanhas miticas e às vozes mùltiplas dos homens sempre na procura de subirem mais alto e nem sempre procupados com os meios e com os intuitos...
Babel et sa tour et la chute...
merci de nous faire partager ce moment fort poétiquement, a sua Dulcineia continua a encantar-me, à me toucher le coeur!
beijos, até jà,
LM
Paris com SOL!!!
Julgo, como a Teresa, que o poema da Inês Lourenço é uma metáfora do 11 de Setembro nos EUA, mas, lido hoje, descola da moldura temporal e caracteriza os tempos escatológicos que ciclicamente afligem a humanidade, sempre que (cito de memória Mandelstam) a "terra se aproxima da verdade e do pavor".
Mas se o poeta Mahmoud Darwish afirma a esperança em circunstâncias tão adversas, que justificação encontraremos para nos entregarmos ao pessimismo?
Portanto, desejo um alegre e tranquilo fim-de-semana! :)
é verdade
Olá, um momento unico que me deixou calado.
Um abraço
sim, porque só um deus envergonhado
se pode redimir
do caos
mergulhando a terra.
_______
e tantos pássaros alucinados
nos cruzam os céus...
um beijo, Graça
maré
Uma boa pergunta: Quem terá inventado o dicionário, Deus ou o diabo? É que os homens continuam a não se entederem!.
Obrigada pela partilha! Não conhecia a Poeta. Beijos.
Interrompo as minhas "férias-trabalho" apenas para te felicitar
pela escolha. A poesia da Inês Lourenço é, para mim, uma escrita
que, debruçada sobre o real concreto, não perde nunca de vista os processos emotivos subjacentes
à observação, assim penso que consegue um justo equilíbrio entre três factores: a palavra que nos reenvia para aquilo que é; uma frontalidade do discurso onde, por vezes, assoma uma sensibilidade que a autora não consegue (ou não quer?) conter; uma ironia (lembro-me sempre dos automóveis que nidifi
cam nas valetas) que nos impede a
passividade. Gosto das escritas que
falam e que nos fazem interrogar o
que nos cerca! Se calhar só disse
asneiras, mas disse o que penso...
Um abraço para Inês
e um beijo para ti, Graça...
(Agora vou voltar para o meu casulo!)
Gostei muito desse poema. Não conheço o trabalho de Inês Lourenço, mas certamente irei pesquisar.
beijo no coração
Gostei de ler ...
Dorido este poema.
****
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