Somos agora quase tudo no desconcerto da cidade
que nos proibe de ver crescer as flores
e constrói grades sobre grades
para esconder os nossos medos em fuga.
Não podemos explicar a passagem
Não podemos explicar a passagem
do tempo no rosto dos dias porque há um túnel
sem espelhos a ocultar-nos a inocência.
Conivente com o círculo vazio
Conivente com o círculo vazio
que me esconde de mim partirei amanhã.
Em volta do teu olhar não há sinais
Em volta do teu olhar não há sinais
de surpresa ou de suspeita.
Apenas um aceno tão lento como o teu ritmo de viver
Apenas um aceno tão lento como o teu ritmo de viver
me antecipa a anunciação de um silêncio absoluto.
Sim. Partirei amanhã para aprender o idioma
das nascentes e escrever o teu nome
na água dos meus olhos.
Graça Pires
De Outono: lugar frágil, 1993
Sim. Partirei amanhã para aprender o idioma
das nascentes e escrever o teu nome
na água dos meus olhos.
Graça Pires
De Outono: lugar frágil, 1993
48 comentários:
"Apenas um aceno tão lento como o teu ritmo de viver
me antecipa a anunciação de um silêncio absoluto."
E sinto o palpitar a esmorecer.
Da cidade ao campo. Poema que percorre metrópole para depois descobrir a língua da nascente.
Das cidades interiores onde os labirintos têm grades. Bateu forte, ecoou e deixou-me a pensar.
Partirás ao encontro da inocência perdida? Ou regressarás a ela, antes que os túneis sem espelhos a sepultem para sempre no cimento anónimo dos ruídos urbanos?
Sim, parte depressa.
Ou regressa, tanto faz.
Abraço.
Eduardo
Ah, essas cidades que nos proibem de ver crescer as flores! Belíssimo, Graça. Beijos
Gostei muito de a ler.
Saio pensando no 'ùltimo momento': Partirei amanhã para aprender o idioma das nascentes.
A Cidade onde se planta o cimento que não deixa a Terra rspirar...
Estou de volta das férias que o meu pc resolveu me ofertar,e vim agradecer os votos e lhe desejar um ano repleto de amor e realizações...
Terno beijo
Um bonito mas triste poema. Para mim poema...beijos.
"Partirei amanhã para aprender o idioma
das nascentes e escrever o teu nome
na água dos meus olhos."
não te sei explicar.
leio.
no mais secreto e íntimo.
belo...........tanto........
beijo Graça!
a vitalidade da partida é um engano.
genial!!!!!!!
Lindo poema! retrata bem as nossas cidades sem alma.
Estive ausente,mas é sempre um prazer voltar.
um beijo
Li o poema e fique com água nos meus olhos. Assim é a poesia bem feita, bem construída; ela tem o poder de fincar o dedo em nossa alma.
beijo no coração
Querida Graça, escrevo o teu nome so para ficar triste...
Sim, este aceno lento como uma respiraçao unica, so poderia anunciar no seu poema, um silêncio absoluto, antecipando-a_________lindas a suas palavras.
Lindo e absoluto, profunda a sua escrita me acolhe, no tal abraço por dentro, um reconhecimento duplo.
Beijos nesta manha aberta ao sol. Lidia
LM
O medo de nossos dias, o passar do tempo inexplicado, a necessidade da partida rumo a um mar interior que os olhos transbordarão, e o lirismo que não deixa de nos acenar.
Graça, o seu poema é belíssimo, a palavra constroi pelo que
aqui a cidade somos nós
plena sem escolhos limites ou esquinas
aqui bebemos a luz pela palavra
e compomos fotogramas pulsados
pela máscara do tempo
aqui somos arquitectos do sol e do silêncio
Um grande abraço amigo
E que "o idioma das nascentes", qual "fio de Ariana", seja sempre reaprendível...
Simplesmente belo, Graça
Um beijo
Belo, profundo, sublime, este poema. Medito nas palavras nostálgicas que se entrelaçam por entre afectos e emoções na "anunciação de um silêncio absoluto".
Que seja suave a aprendizagem do "idioma das nascentes"...
Comovente.
Um beijo
Uma fuga para o princípio. Ainda adiada, mas já sabida. Assim entendi. Ou senti.
Obrigada pelo talento.
Um beijo.
Acabei de descobrir o seu blogue. Achei-o lindíssimo. Os seus poemas e as suas opções. Tudo o que poderei acrescentar me soa a superfluo. Vou agradecer ao Terrear ter colocado esta via na qual nos podemos maravilhar. Bem haja pela beleza das suas palavras e sentidos ...
Debemos deixarnos cautivar polo "Idioma das nascentes e escrever...".
Beijos Graça.
:)
Oi, querida.....
Tem indicação pra ti lá no VAN FILOSOFIA!
Passa lá pra ver o que é!
;)
Espero que goste. Foi de coração.
Beijucas
As melhores viagens
podem ser
antes da partida
e da chegada
em silêncio absoluto
inscritas no espelho da água
Belo
"aprender o idioma das nascentes"...belíssima imagem...gostaria também de aprender;)
bjos
a chuva continua.
amanhã, quando parar, será o silêncio.
absoluto.
terei que ajoelhar-me e encostar a cabeça à terra para ouvi-la parir a erva verde.
e dormirei calmamente, sonhando que a primaverá voltará sempre.
e a cidade que nos consome tanto!
Faz lembrar (apenas no tema, pois a linguagem poética da Graça é muito diferente) alguns poemas da Sophia: a denúncia da cidade concentracionária, hostil e vácua, metáfora também da cultura que construímos.
Curiosa a presença da água, nesta entrada do blogue, desde logo no quadro que acompanha o poema; depois nos espelhos que não há, nas nascentes, na água dos olhos.
Gostei muito!
Um beijo, boa semana
O ponto de fuga que trazemos em nós.
Belo. Muito.
Simpática Amiga:
Que linda nascente de sonhos puros e doces a sua pureza e beleza contêem.
Um poema lindo do seu encantador sentir.
Partir? NUNCA! Confie na imensidão de sonhos de extrema doçura porque irá cativar e impressionar o Mundo.
Delicioso. Admirável.
Com uma interioridade fabulosa.
Parabéns pelo talento e genialidade do seu sonho puro.
É linda!
Beijinhos amigos de cordialidade, estima e respeito.
Desculpe o tardio comentário, mas tive assuntos sérios de saúde familiar a tratar por serem inadiáveis.
pena
OBRIGADO pela simpatia expressa no meu "cantinho".
Bem-Haja, encantadora amiga!
matriciais as águas que lavam... ou incendeiam...
muito belo.
beijos
A cidade que nos envolve e cria esta sensação de querer partir e ficar ao mesmo tempo...
Lindo este poema, sublime a sua parte final!
Beijo.
na esperãnça dos espelhos
partimos.
na busca das nascentes
subiremos aos promontórios do silêncio onde as mãos solares da inocência, reconstroi o olhar gasto
de desencontros marcados.
______
Lindo...
abres-me à manhã Graça.
Um beijo grande.
profunda transparência
excelente...que alma poética...versos que encantam...
bjinho
véu de maya.
Que seja muito feliz nessa fuga... Não há muitas pessoas a conseguirem libertar-se das grades da cidade!
Beijo
Hoje também me apetece fugir, acredita, Dona Graça?
Profundidade!
Abraços d´ASSIMETRIA
DO PERFEITO
sim... andamos em fuga, destes tempos estranhos...
abraço Graça
sitiados quase vamos escrevendo!
beijo
__________ Jrmarto
A cidade engole-nos, enjaula-nos sobrepostos em camadas.
Felizes daqueles que conseguem fugir "para aprender os idiomas das nascentes". E, quando, por acréscimo, há um nome a escrever, ainda melhor.
Foi por isso mesmo que eu nunca me fixei em nenhuma foz.
Beijo.
os nossos medos, sempre sob a pele das cidades... Interesante e belo poema,
um beijo
escrever o teu nome na água dos meus olhos...é a frase e o desfecho que mais gosto.A imagem é belíssima,Graça.
É sempre um prazer ler-te!
Bem-hajas!
Beijinhos
Somos agora quase tudo no desconcerto da cidade que nos proibe de ver crescer as flores e constrói grades sobre grades para esconder os nossos medos em fuga.
É a selva de pedra no lugar do coração
Partirás para a prender o idioma das nascentes e escrever o teu nome na água dos meus olhos.
belíssima forma de o dizer!!
Gosto muito da tua poesia Graça.
Um beijo
Belíssimo! Parabéns Amiga.
É sempre bom aprender o idioma das nascentes, assim, quando tivermos de escrever alguns nomes (doídos) na água dos olhos, teremos a visão perfeita do caminho a seguir.
Beijos
Maria Mamede
"(...) e escrever o teu nome / na água dos meus olhos" e tantos mais Belos Versos Neste poema: apresento-me: maria toscano (conheci-a pelo Vitor Oliveira Mateus)
.
e,
Sim!, sinto afinidades com a sua escrita.
Que bom!
.
(fiz um enlace/link do seu ao meu blogue; não lhe pedi autorização; mas, se quiser que eu "desfaça o link"
:-)
o que aceito plenamente - tanto mais que não lhe pedi autorização antes para "invadir" a sua casa-blogue-
fá-lo-ei sem qualquer problema nem ressentimento.
.
(Muito Grata pelo seu comentário no "a dispersa palavra")
mt
os silêncios da urbanidade, as teias dos muros.
grande beijo para ti!
Na cidade gradeada,somos actores e marionetas, diatraindo o medo da liberdade.
Para lá do cimento, as flores crescem em rios sem margens e pintam de verde os dedos de quem se desafia ao olhar...
Beijo
Adorei "Em fuga"...
"e escrever o teu nome
na água dos meus olhos. "...lindo!!
Um abraço*
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