24.1.09

Em fuga

Gregory Lanq

Somos agora quase tudo no desconcerto da cidade
que nos proibe de ver crescer as flores
e constrói grades sobre grades
para esconder os nossos medos em fuga.
Não podemos explicar a passagem
do tempo no rosto dos dias porque há um túnel
sem espelhos a ocultar-nos a inocência.
Conivente com o círculo vazio
que me esconde de mim partirei amanhã.
Em volta do teu olhar não há sinais
de surpresa ou de suspeita.
Apenas um aceno tão lento como o teu ritmo de viver
me antecipa a anunciação de um silêncio absoluto.
Sim. Partirei amanhã para aprender o idioma

das nascentes e escrever o teu nome
na água dos meus olhos.

Graça Pires
De Outono: lugar frágil, 1993

48 comentários:

Pedro S. Martins disse...

"Apenas um aceno tão lento como o teu ritmo de viver
me antecipa a anunciação de um silêncio absoluto."

E sinto o palpitar a esmorecer.

Mésmero disse...

Da cidade ao campo. Poema que percorre metrópole para depois descobrir a língua da nascente.

hfm disse...

Das cidades interiores onde os labirintos têm grades. Bateu forte, ecoou e deixou-me a pensar.

Unknown disse...

Partirás ao encontro da inocência perdida? Ou regressarás a ela, antes que os túneis sem espelhos a sepultem para sempre no cimento anónimo dos ruídos urbanos?
Sim, parte depressa.
Ou regressa, tanto faz.
Abraço.
Eduardo

mariab disse...

Ah, essas cidades que nos proibem de ver crescer as flores! Belíssimo, Graça. Beijos

alexandrecastro disse...

Gostei muito de a ler.
Saio pensando no 'ùltimo momento': Partirei amanhã para aprender o idioma das nascentes.

Anónimo disse...

A Cidade onde se planta o cimento que não deixa a Terra rspirar...

Estou de volta das férias que o meu pc resolveu me ofertar,e vim agradecer os votos e lhe desejar um ano repleto de amor e realizações...

Terno beijo

Paula Raposo disse...

Um bonito mas triste poema. Para mim poema...beijos.

isabel mendes ferreira disse...

"Partirei amanhã para aprender o idioma
das nascentes e escrever o teu nome
na água dos meus olhos."



não te sei explicar.


leio.


no mais secreto e íntimo.


belo...........tanto........



beijo Graça!

Bandida disse...

a vitalidade da partida é um engano.

genial!!!!!!!

partilha de silêncios disse...

Lindo poema! retrata bem as nossas cidades sem alma.

Estive ausente,mas é sempre um prazer voltar.

um beijo

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Li o poema e fique com água nos meus olhos. Assim é a poesia bem feita, bem construída; ela tem o poder de fincar o dedo em nossa alma.
beijo no coração

LM,paris disse...

Querida Graça, escrevo o teu nome so para ficar triste...
Sim, este aceno lento como uma respiraçao unica, so poderia anunciar no seu poema, um silêncio absoluto, antecipando-a_________lindas a suas palavras.
Lindo e absoluto, profunda a sua escrita me acolhe, no tal abraço por dentro, um reconhecimento duplo.
Beijos nesta manha aberta ao sol. Lidia
LM

d'Angelo Rodrigues disse...

O medo de nossos dias, o passar do tempo inexplicado, a necessidade da partida rumo a um mar interior que os olhos transbordarão, e o lirismo que não deixa de nos acenar.

Gisela Rosa disse...

Graça, o seu poema é belíssimo, a palavra constroi pelo que


aqui a cidade somos nós
plena sem escolhos limites ou esquinas
aqui bebemos a luz pela palavra
e compomos fotogramas pulsados
pela máscara do tempo
aqui somos arquitectos do sol e do silêncio



Um grande abraço amigo

maria disse...

E que "o idioma das nascentes", qual "fio de Ariana", seja sempre reaprendível...
Simplesmente belo, Graça
Um beijo

Ailime disse...

Belo, profundo, sublime, este poema. Medito nas palavras nostálgicas que se entrelaçam por entre afectos e emoções na "anunciação de um silêncio absoluto".
Que seja suave a aprendizagem do "idioma das nascentes"...
Comovente.
Um beijo

Licínia Quitério disse...

Uma fuga para o princípio. Ainda adiada, mas já sabida. Assim entendi. Ou senti.

Obrigada pelo talento.

Um beijo.

Sara Oliveira disse...

Acabei de descobrir o seu blogue. Achei-o lindíssimo. Os seus poemas e as suas opções. Tudo o que poderei acrescentar me soa a superfluo. Vou agradecer ao Terrear ter colocado esta via na qual nos podemos maravilhar. Bem haja pela beleza das suas palavras e sentidos ...

Marinha de Allegue disse...

Debemos deixarnos cautivar polo "Idioma das nascentes e escrever...".

Beijos Graça.
:)

Van disse...

Oi, querida.....
Tem indicação pra ti lá no VAN FILOSOFIA!
Passa lá pra ver o que é!
;)
Espero que goste. Foi de coração.
Beijucas

Mar Arável disse...

As melhores viagens

podem ser

antes da partida

e da chegada

em silêncio absoluto

inscritas no espelho da água

Belo

Mara faturi disse...

"aprender o idioma das nascentes"...belíssima imagem...gostaria também de aprender;)
bjos

o Reverso disse...

a chuva continua.

amanhã, quando parar, será o silêncio.
absoluto.
terei que ajoelhar-me e encostar a cabeça à terra para ouvi-la parir a erva verde.
e dormirei calmamente, sonhando que a primaverá voltará sempre.

Teresa Durães disse...

e a cidade que nos consome tanto!

Anónimo disse...

Faz lembrar (apenas no tema, pois a linguagem poética da Graça é muito diferente) alguns poemas da Sophia: a denúncia da cidade concentracionária, hostil e vácua, metáfora também da cultura que construímos.
Curiosa a presença da água, nesta entrada do blogue, desde logo no quadro que acompanha o poema; depois nos espelhos que não há, nas nascentes, na água dos olhos.
Gostei muito!
Um beijo, boa semana

CNS disse...

O ponto de fuga que trazemos em nós.

Belo. Muito.

Pena disse...

Simpática Amiga:
Que linda nascente de sonhos puros e doces a sua pureza e beleza contêem.
Um poema lindo do seu encantador sentir.
Partir? NUNCA! Confie na imensidão de sonhos de extrema doçura porque irá cativar e impressionar o Mundo.
Delicioso. Admirável.
Com uma interioridade fabulosa.
Parabéns pelo talento e genialidade do seu sonho puro.
É linda!
Beijinhos amigos de cordialidade, estima e respeito.
Desculpe o tardio comentário, mas tive assuntos sérios de saúde familiar a tratar por serem inadiáveis.

pena

OBRIGADO pela simpatia expressa no meu "cantinho".
Bem-Haja, encantadora amiga!

Manuel Veiga disse...

matriciais as águas que lavam... ou incendeiam...

muito belo.

beijos

Anónimo disse...

A cidade que nos envolve e cria esta sensação de querer partir e ficar ao mesmo tempo...
Lindo este poema, sublime a sua parte final!
Beijo.

maré disse...

na esperãnça dos espelhos
partimos.
na busca das nascentes
subiremos aos promontórios do silêncio onde as mãos solares da inocência, reconstroi o olhar gasto
de desencontros marcados.

______
Lindo...
abres-me à manhã Graça.


Um beijo grande.

pin gente disse...

profunda transparência

luis lourenço disse...

excelente...que alma poética...versos que encantam...

bjinho

véu de maya.

Mofina disse...

Que seja muito feliz nessa fuga... Não há muitas pessoas a conseguirem libertar-se das grades da cidade!

Beijo

dona tela disse...

Hoje também me apetece fugir, acredita, Dona Graça?

Anónimo disse...

Profundidade!



Abraços d´ASSIMETRIA

DO PERFEITO

Luis Eme disse...

sim... andamos em fuga, destes tempos estranhos...

abraço Graça

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

sitiados quase vamos escrevendo!
beijo
__________ Jrmarto

Nilson Barcelli disse...

A cidade engole-nos, enjaula-nos sobrepostos em camadas.
Felizes daqueles que conseguem fugir "para aprender os idiomas das nascentes". E, quando, por acréscimo, há um nome a escrever, ainda melhor.
Foi por isso mesmo que eu nunca me fixei em nenhuma foz.
Beijo.

José Ángel García Caballero disse...

os nossos medos, sempre sob a pele das cidades... Interesante e belo poema,
um beijo

Adriana Riess Karnal disse...

escrever o teu nome na água dos meus olhos...é a frase e o desfecho que mais gosto.A imagem é belíssima,Graça.

Mare Liberum disse...

É sempre um prazer ler-te!

Bem-hajas!

Beijinhos

Mié disse...

Somos agora quase tudo no desconcerto da cidade que nos proibe de ver crescer as flores e constrói grades sobre grades para esconder os nossos medos em fuga.

É a selva de pedra no lugar do coração

Partirás para a prender o idioma das nascentes e escrever o teu nome na água dos meus olhos.

belíssima forma de o dizer!!

Gosto muito da tua poesia Graça.

Um beijo

De Amor e de Terra disse...

Belíssimo! Parabéns Amiga.
É sempre bom aprender o idioma das nascentes, assim, quando tivermos de escrever alguns nomes (doídos) na água dos olhos, teremos a visão perfeita do caminho a seguir.

Beijos

Maria Mamede

emedeamar disse...

"(...) e escrever o teu nome / na água dos meus olhos" e tantos mais Belos Versos Neste poema: apresento-me: maria toscano (conheci-a pelo Vitor Oliveira Mateus)
.
e,
Sim!, sinto afinidades com a sua escrita.
Que bom!
.
(fiz um enlace/link do seu ao meu blogue; não lhe pedi autorização; mas, se quiser que eu "desfaça o link"
:-)
o que aceito plenamente - tanto mais que não lhe pedi autorização antes para "invadir" a sua casa-blogue-
fá-lo-ei sem qualquer problema nem ressentimento.
.

(Muito Grata pelo seu comentário no "a dispersa palavra")


mt

© Maria Manuel disse...

os silêncios da urbanidade, as teias dos muros.

grande beijo para ti!

simplesmenteeu disse...

Na cidade gradeada,somos actores e marionetas, diatraindo o medo da liberdade.
Para lá do cimento, as flores crescem em rios sem margens e pintam de verde os dedos de quem se desafia ao olhar...
Beijo

Parapeito disse...

Adorei "Em fuga"...
"e escrever o teu nome
na água dos meus olhos. "...lindo!!


Um abraço*