7.10.09

Em seara alheia



Fábula da Fábula

Era uma vez
Uma fábula famosa,
Alimentícia
E moralizadora,
Que, em verso e prosa,
Toda a gente
Inteligente
Prudente
E sabedora
Repetia
Aos filhos,
Aos netos
E aos bisnetos.
À base duns insectos
De que não vale a pena fixar o nome,
A fábula garantia
Que quem cantava
Morria
De fome.
E, realmente…
Simplesmente,
Enquanto a fábula contava,
Um demónio secreto segredava
Ao ouvido secreto
De cada criatura
Que quem não cantava
Morria de fartura.

Miguel Torga
In: Diário VIII, 1956

37 comentários:

Paula Raposo disse...

Gosto muito deste poema do Torga. Beijos.

Mar Arável disse...

Miguel Torga

sabia do que falava

Boa memória

Bjs

☆Fanny☆ disse...

Adoro Miguel Torga!!!
Um poema cheio de ritmo e com muita criatividade!

Unknown disse...

Que bom trazeres o Torga. Abraço

AnaMar (pseudónimo) disse...

Miguel Torga, intemporal.
Bj
(Quantas cigarras e formigas andam por aí...)

manuela baptista disse...

Como planta de montes agrestes

de vinho generoso
de frio invernoso

compreendia a fala dos bichos e a hipocrisia dos homens

Eu por mim, sempre gostei das cigarras!

Um abraço

Manuela Baptista

Adriana Riess Karnal disse...

muito bonito o poema...é a fábula da cigarra e formiga...ela passa a vida a cantar...são pontos de vista diferentes, mas é o mesmo q dizer q "quem faz poesia morre de fome"...rsrsr

Pena disse...

Estimada Amiga Poetiza Brilhante:
Miguel Torga está sepultado aqui a 10km de minha casa. Nasceu lá.
Por isso tenho um "fraquinho" gigante por ele.
Bela escolha.
Sempre a admirá-la.
Fabuloso versejar.
Abraço amigo

pena

OBRIGADO pela escolha. Sempre de bom gosto e requinte apurado.
Bem-Haja!
"Gritos...?" Ou não leu ou imaginou, desculpe.
Conhece-mo-nos há tanto tempo.

Ignotu disse...

Torga é Torga!
Um poema com vida!

Jaime A. disse...

Excelente, a volta que se dá à fábula! Grato pela escolha.

Luis Eme disse...

uma fábula que recebeu uma lição de um poema...

Torga sabia que algures, haveriam de existir "cigarras" a viverem à grande, graças ao canto...

e também sabia que nem seria necessário muito talento, qualquer tony, sem ser Silva, poderia sonhar com o ferrari amarelo...

abraço Graça

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

uma bela escolha.

um beij

Emerson Souza disse...

Muito bom.

Fá menor disse...

Assim é muitas vezes. A avareza mata de fartura sem dar felicidade a ninguém.

Bjins

São disse...

Grande memória de um enorme poeta!

Parabéns, Graça!

Um excelente final de semana para ti.

avlisjota disse...

E as fábulas continuam...
Gosto muito de torga não fosse ele da minha terra ou melhor eu da terra dele...

beijos

maré disse...

eu desconheço tanto de Torga...

lembro de um poema que ouvi à minha mãe, eu ainda pequenina. Falava de um passarinho, de um menino e de um ninho. Isto porque a minha mãe reprendia os meus irmãos que andavam sempre com fisgas nos bolsos e a espreitar os ninhos dos melros que eram fartos no quintal.

Este é de certeza um dos seus poemas que " trazem " mais do que o que se lê à superfície.

_______

para ti, eu deixo um abraço e beijo muito sentidos , minha querida amiga

Benó disse...

Realmente ele tinha razão pois, quem não canta morre de tédio.
Um abraço, Graça.

Gisela Rosa disse...

A mestria na construção dobrada da fábula, o nosso Torga! Um beijinho Graça.

teresa pires disse...

Toda a lucidez de Miguel Torga...
Foi muito bom reler este poema!
Beijo.

o Reverso disse...

canto

mesmo sem voz.

De Amor e de Terra disse...

Ao fim de muito tempo, cá estou Amiga!
A mordacidade extraordináriamente lúcida de Torga, que me enche a alma e alarga o meu sorriso.
Obrigada por lembrar, por partilhar e pelas palavras lá em casa.
Beijos
Maria Mamede

Maria Clarinda disse...

Excelente a partilha...Torga e a foto.
Jinhos muitos

José Ángel García Caballero disse...

engraçada fabula, graça, fez-me sorrir...
um beijo

© Maria Manuel disse...

bom ler Torga; curiosa esta fábula.

obrigada, Graça.

Mofina disse...

Ouve-se a música das rimas...

Beijinhos

bonecadetrapos disse...

no en.canto de re.cantar, lembrando, Torga.

na seara, qual cigarra, a poesia que nos alimenta a alma

e


nos motiva
para que não deixemos caídos
os braços em torno de opulenta barriga. olhar em redor e ver. ver para além do visto. na raiz do verso.

belíssima, Graça, a sua "Ortografia de olhar".

Saudações com estima
*__bonecadetrapos___*

Pena disse...

Maravilhosa e Linda Poetiza Amiga:
Um Miguel Torga deslumbrante.
Sabe, admiro-a muito...pelo talento, pela magia notável de fazer versos, pelo carácter e beleza ímpares de sonho.
Haverá poesia mais bela e doce na sua escolha...?
Creio, convicto, que não.
Fabulosa.
Beijinhos amigos de imenso respeito.
Sempre a estimá-la e ao seu valor mágico e perfeito.

pena

MUITO OBRIGADO, é uma honra lê-la.
Bem-Haja, admirável amiga.

o Reverso disse...

o "meu" Torga.





um beijo

isabel mendes ferreira disse...

da terra. do que não mente. da força. que é sempre.




do talento.


que fica.e nos acresenta.


o meu beijo. sempre rendido.

Nilson Barcelli disse...

Gostei da tua escolha.
Miguel Torga não é lá muito comentável...
Obrigado pela tua partilha.
Beijos.

Manuel Veiga disse...

morrer de fartura deve ser horrível...

excelente.

beijo

Roberta disse...

A velha fábula renovada pelo olhar apurado do poeta. Adorei!

São disse...

Estás bem?

Abraços.

Fernando Campanella disse...

Muito bom, o poema de Miguel Torga. Refabulando.....

romério rômulo disse...

graça:
o miguel torga é excelente.
romério

mariabesuga disse...

Torga sempre... porque sim, porque gosto de lhe sentir os... sentidos nas palavras... da terra.

Beijinhos para ti Graça
Obrigada pela partilha nestes teus trabalhos.