13.4.11

Todas as palavras são adequadas


Obrigada, Cátia Azenha


Todas as palavras são adequadas
para evocar os dias
para sempre agarrados
à cal da casa onde nascemos.
Quase nada sei a meu respeito
desse tempo tão claro
em que as sombras eram apenas
a antecipação da noite.
Tento imitar aquela inocência
próxima da brancura dos lírios
e do frémito do rio
abraçando o mar.
Torna-se difícil encontrar os sinais
sobreviventes da memória:
a prata do chocolate
pacientemente alisada,
as velas dos moinhos,
as cerejas carnudas,
a roupa a corar sobre a erva,
a claridade das mãos da minha mãe
carregadas de tarefas e de presságios.

 Graça Pires
 De A incidência da luz, 2011

47 comentários:

MENSAGENS AO VENTO disse...

_______________________________


Doces recordações nos embalam a alma...

Um belo apanhado dum tempo feliz!

Beijos de luz e o meu carinho...


____________________

a d´almeida nunes disse...

Fiquei pasmado! Até parecia que estava a viver esses momentos!

Tal e qual!
Como as palavras, quando aplicadas no momento e na forma adequadas, conseguem transmitir, fielmente, imagens, sons, emoções, até sabores!...

Recordações!...

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

memórias tão bem escritas como só Graça sabe.

gostei muito!

um beij

Pena disse...

Consagrada e Prodigiosa Poetiza Amiga:
"...Tento imitar aquela inocência
próxima da brancura dos lírios
e do frémito do rio
abraçando o mar..."

Uma fabulosa delícia.
Parabéns pelo seu sentir gigantesco de pureza e beleza imensas que me deixa sem palavras.
Fascina, amiga.
Abraço amigo de imenso respeito e admiração constante e sempre.
Escreve tão bem.

pena

Notável.
Bem-Haja, poetiza de sonho.
Adorei.

hfm disse...

Quando nos encontramos na poesia e nas recordações do poeta!

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Este poema fez-me voltar às raízes adormecidas no fundo de mim...lindo e cheio de passado e emoções.

Deixo um beijinho carinhoso
Sonhadora

Fernando Campanella disse...

Quase todas as palavras para evocarmos os dias que se esconderam nos labirintos da memória, e as palavras são vida reintegrada.
Li o poema desse post no livro que me enviaste, Graça, e é lindo. Do livro retiro também este trecho de abertura de um de seus segmentos:

"São de granito cinzento as cúpulas dos templos antigos: a música profana no rebordo das pedras." Que lindo!

E que as palavras nos tragam a ferrugem das chaves, mas também a alvura dos lírios.

Muito obrigado pelo envio de teu tesouro impresso, lindamente impresso, gostei muito do layout com as fotos, tua e da capa. E muito obrigado, principalmente, pelo teu enorme carinho, tão especial para mim, minha querida amiga poeta. Alegrias e reconhecimento são o que te desejo
na jornada do novo livro. Beijos.

tecas disse...

Ternas e saudosas recordações, querida Graça.
«Tento imitar aquela inocência
próxima da brancura dos lírios
e do frémito do rio
abraçando o mar.»
O tempo não volta para trás,nós andamos para a frente com as recordações.
Belíssimo o seu poema.
Bjito e uma flor

manuela baptista disse...

sei da prata do chocolate

escondida e alisada entre cada página do livro de leitura

"o Carlinhos era uma linda criança de cabelos louros e olhos azuis."

talvez fosse, nunca soube quem era o Carlinhos

e lá fora
a mãe chamava


todas as palavras são adequadas para falar de amor e da cal da casa

muito bonito, Graça!


um beijo

manuela

Anónimo disse...

Lindo poema! Palavras suaves numa narrativa que envolve. Adorei!

Beijo.

Luis Eme disse...

lindo, memorável...

Beijinho Graça

António R. disse...

A memória vive das palavras, dos gestos, dos sinais, ou da falta de tudo isso.
Todas as palavras são adequadas...para relembrar a ternura da infância e criar a claridade dos dias. A Graça vive das palavras e combina-as muito bem!

dade amorim disse...

Um desses poemas que envolve nossa sensibilidade, como aliás você sabe escrever tão bem. Um desses poemas para guardar.
Graça, estou pensando em publicá-lo no Poema Amigo desta sexta-feira. Você concorda?
Beijos e carinho.

Úrsula Avner disse...

Oi Graça,
gosto muito do aspecto intimista de seus poemas e textos literários... Sempre muito bom vir aqui. Bj.

Marta Vinhais disse...

E nas palavras mais simples evoca-se as memórias mais doces, pois quem é que nunca alisou a prata que envolvia o chocolate????
Lindo
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

José Manuel Vilhena disse...

a claridade,o aroma tranquilo da claridade...
:)

Mar Arável disse...

Memórias de barcos

que nos correm as veias

Bjs amigos

AFRICA EM POESIA disse...

GRAÇA

Obrigada pela visita.
A festa é de quem caminha comigo por aqui...
beijos

Fátima disse...

Nossa Graça...
Que graça é a palavra pela sua alma dita.
Bendita lembrança
da criança que alimenta.
Com carinho e uma flor
rosa de Fátima

Maria Clarinda disse...

Graça querida...um poema maravilhoso, com toda as recordações...magia...de um tempo sem tempo!
Lindo, este teu livro tem po«emas maravilhosos.
A foto da Cátia ficou divinal no poema!
Beijos às duas!!!

Paula Raposo disse...

Um dos muitos poemas belos do teu último livro!! Beijos.

Márcia Luz disse...

Mais que adequadas, as palavras vão se concretizando à medida que a leitura flui. Maravilhoso!

lupuscanissignatus disse...

a arqueologia

dos

afectos



[precioso]

Desnuda disse...

Querida Graça,

Belíssimo poema e ilustração. Todas as palavras seriam insuficientes para expressar-me, adequadamente, sobre este poema que só o coração consegue entender a profundidade.


Beijos com carinho.

pin gente disse...

muito bonito, graça!
e parabéns à cátia... a foto é uma memória tão próxima que pode abraçar-se.

beijos a ambas
luísa

carlos pereira disse...

Cara amiga POETISA Graça;
Belo poema nostálgico, de um tempo em que se foi criança feliz, com palavras cheias de candura poética.
Gostei muito.
Um beijo.

Unknown disse...

Recordações, afloradas na saudade que de repente nos invade... Adorei, porque todas as palavras são adequadas!

Beijinho,
Ana Martins

teresa p. disse...

"...a claridade das mãos da minha mãe / carregadas de tarefas e de presságios."

Memórias ternas e saudosamente vivas. Lindo!!!
Beijo

José Ángel García Caballero disse...

as palavras são a voz íntima do nosso horizonte, sempre nos explicam... como no teu poema, desde a beleza,

um beijo

p.d: sinto não perceberes bem o poema do meu post em catalão, acaba a dizer: sei que agora voltas ao caminho com reticência/ (não podia ser de uma outra forma)/ a deixar pegadas inexplicáveis/ nuvens de queixumes ao teu passo.

Laura Ferreira disse...

Gostei, Graça. Aliás como sempre. Um beijinho para si.

Graça Sampaio disse...

Muito lindo! Tão belo e verdadeiro que me senti transportada para 19 e cinquenta e tal...
Esse é o verdadeiro poder do poeta!
Obrigada.
Beijo

avlisjota disse...

Para evocar tão belas recordações, "todas as palvras são adequadas" até porque esta tão bela pintura, repletea de imagens, de sensações, de cores... nos clareia a alma.

Um beijo Graça e bom fim de semana!

José

AC disse...

As memórias deixam sempre raízes. As primórdias, então, são companhia permanente. Às vezes dissimuladas, outras vezes a assomar por entre o desassossego, mas estão sempre lá. São "dias para sempre agarrados...".

Beijo :)

Diamante Negro disse...

Adorei ler, fez-me viajar no tempo e recordar momentos de uma infancia em que tudo era bem mais lindo do que actualmente.
Fantástico, os meus parabéns.

beijos

Diamante Negro disse...

Caríssima Graça, obrigado por visitar a minha « Chuva de Diamantes » sou um poeta amador, que, ou talvez não chegue a poeta, mas sou alguem que gosta de dar forma ás palavras de expressar sentimentos em forma de poesia, gostaria de uma análise critica áquilo que escrevo. Voçê é divina naquilo que escreve. Muita felicidade e muito sucesso.

Maria Carvalhosa disse...

Belíssimo, Graça! Como todos os poemas deste teu livro de luz.
Abraço-te com muito carinho.

José Leite disse...

Bonito, tem mais encanto com música ao fundo...

A.S. disse...

Por mais estranho que pareça, a luz teima em incidir sempre nas raízes!


Abraços, Graça!
AL

Beta disse...

Graça, é um belo poema de memória e partida, que milagrosamente retém o tempo.

mariis capela disse...

A "minha" escritora favorita...suas palavras conseguem habitar-me

Manuel Veiga disse...

memórias habitadas. na inocência dos lírios. e na pureza alva dos presságios maternais.

belíssimo

beijos

Nilson Barcelli disse...

A Graça só pode ter nascido e sido criada na aldeia... pelo menos os primeiros anos...
Digo isto porque neste poema soube construir a atmosfera típica de uma aldeia à beira-rio. Num local parecido com o meu...
Em qualquer caso, o seu poema é excelente. Como é habitual, de resto.
Um beijo.

Wilson Torres Nanini disse...

"claridade das mãos da minha mãe
carregadas de tarefas e de presságios"

mas, antes há o redemunho das lembranças com que o teu poema me massacrou.

Abraços!

Isamar disse...

Que poema maravilhoso, amiga! As palavras e a fotografia fizeram-me remontar à infância, ao campo onde passava férias, à cidade onde cresci, às memórias que tento manter para sempre.

Beijinhos

Bem-hajas!

Parapeito disse...

recordações que nos enchem e aquecem a alma...
palavras tão sentidas que quase a consegui ver menina...
Um abraço cheio de brisas doces***

d'Angelo disse...

As mãos maternas afagam e carregam destinos (o próprio e os gerados). Belo desfecho para um caminho de palavras pontuado por lírios, moinhos e cotidianas e tênues memórias da infância.

Elizabeth F. de Oliveira disse...

Minha querida Graça!

As tuas palavras são, de fato, a incidência da tua luz sobre nós.
As palavras nunca terão suficiente significado para adjetivar a qualidade da tua poesia.
E eu sou muito feliz por estar sempre a ler-te. Minha alma não seria a mesma sem as tuas palavras.

Um grande beijo,