5.11.07

Improviso uma ilha

John Miler


Na periferia da manhã, levemente adiada,
improviso uma ilha.
Tão nua como páginas em branco.
E concedo-me o direito de esperar Ulisses.
A minha fronte marcada com palavras sem destino.
O teu rosto, longamente procurado,
não tem búzios, nem conchas, nem corais.
Na praia, até então intacta,
sinto a luz de teus passos.
Ou será uma onda fugitiva,
a tornar transparente a tua ausência ?


Graça Pires
De Uma certa forma de errância, 2003

15 comentários:

hora tardia disse...

fico. na periferia da tua ilha. especial.




fico.



por dentro.





obrigada Graça.


mt.

sOl disse...

Lindo demais...
Quero essa ilha para mim...




sOl*

© Maria Manuel disse...

"sinto" um abraço de Sophia ;)

sinto uma busca de nudez, pureza,...

bjo.

Memória transparente disse...

"O teu rosto, longamente procurado,
não tem búzios, nem conchas, nem corais."

Lindo.

Monte Cristo disse...

Ainda há ilhas destas (mesmo inventadas)?

Não se perdeu já tudo o que havia para sonhar?

Desculpa a provocação. A resposta é NÃO.

Anónimo disse...

Nem sei se destaque o despojamento, a pureza intacta (mas desolada) da fotografia, se a ficção da espera que o poema me conta. Haverá ausências transparentes? Valerá a pena esperar por Ulisses? A que Ítaca queria Ulisses de facto tornar? Interrogo-me acerca desta *condição* de se ser Penélope.
Um beijo

hfm disse...

A transparência da ausência - belo; é que às vezes sinto-a tão opaca!

São disse...

Mais uma vez, belo poema!
Quando quiseres aparecer, serás bem recebida!

alexandrecastro disse...

parabéns pela deliciosa escolha! beijinho

Luis Eme disse...

O teu rosto, longamente procurado,

Na praia, até então intacta...

(Não ousei pisar a areia, fiquei a olhar, de longe...)

Manuel Veiga disse...

belo o marulhar da onda fugitiva...
como o terno regaço Penelope. por abrir...

Monte Cristo disse...

É forçoso que clarifique o meu post anterior, onde dizia:

«Ainda há ilhas destas (mesmo inventadas)?
Não se perdeu já tudo o que havia para sonhar?
Desculpa a provocação. A resposta é NÃO».

A última frase deveria ter saído assim: «Desculpa a provocação das perguntas. A nossa resposta é: NÃO PAREMOS DE SONHAR!»

Um beijo

Guilherme F. disse...

Gostei das palavras.
bj
Gui
coisasdagaveta.blogs.sapo.pt

Graça Pires disse...

Isabel, gosto que fiques na periferia ou por dendro da minha ilha improvisada.

Podes ficar com a ilha sOl.

Sim Maria, a Sophia é uma grande inspiradora.

Bem hajas Mïr.

Soledade, achei que a fotografia ia bem com o poema: uma ilha tão nua como páginas em branco.Ser Penélope: fazer e desfazer a manta de retalhos da vida no tear da coragem.

Helena, todas somos Penélope. Todas sabemos que Ulisses chegará.

São, obrigada pela visita e pelas palavras.

Alexandre, obrigada e volte sempre.

Luís e Herético obrigada pelas vossas sensíveis e poéticas palavras.

Bem me parecia João Carlos que tu ainda sabias improvisar a esperança. Afinal todos esperamos, a vida inteira se necessário for, por um sonho, ou por um grande amor,ou por um poema,ou por qualquer coisa que nos desoculte as sombras do olhar.

Obrigada Gui.

Beijos para todos.

solfirmino disse...

Eu também improvisaria uma ilha, enquanto estivesse tecendo um manto...
Magnífico, amiga. Só catando assim, para ler esses poemas antigos. Lerei aos poucos, encaixando no meu tempo. Obrigada pela beleza.
Beijinho