21.1.08

Chove perto dos olhos

Whilhelm Leisten


Chove perto dos olhos manchados de errância.
Um dilúvio começa ao largo do desespero.
Pensámos que, de noite, a mendicidade
das mãos passava despercebida.
Partilhámos enigmas e abismos,
procurando uma margem, um horizonte,
ou apenas uma sede
tão imediata como as lágrimas.
Porém, a cidade não consente vadios
à porta do futuro.
Por isso nos abrigámos nos indícios
da casa ou do caos.
Hoje não lamentamos a brevidade dos desejos
porque somos personagens
de uma parábola em sangue.

Graça Pires
De Labirintos, 1997

23 comentários:

hfm disse...

Lamentos os abrigos onde a errância pode ter um refúgio. Belíssimo!

Anónimo disse...

chove.


toda uma beleza.


absoluta.


_____________.

!!!
_____________.
(mas tão belo...)










piano.

Anónimo disse...

chove.


toda uma beleza.


absoluta.


_____________.

!!!
_____________.
(mas tão belo...)










piano.

Anónimo disse...

chove.


toda uma beleza.


absoluta.


_____________.

!!!
_____________.
(mas tão belo...)










piano.

Manuel Veiga disse...

... à flor do sangue! como são belos os indícios abrindo-se em caos. de emoções mendigas!!!...

poema absolutamente belo.

Flor de Tília disse...

Chove perto dos olhos? Serão lágrimas da lua?

Abracinho para ti.

Monte Cristo disse...

São sempre cruéis e venais, as cidades. São o espelho das nossas almas, os frutos das nossas mãos. O sótãos dos nossos sonhos e as caves dos nossos vícios.

Nelas, tudo é intenso e trágico. Mas têm um perfume que escorre do passado e inspira poemas tão belos como este.

À margem: respondi-te, explicando-me. Mas tenho mais para dizer. Queres passar pelo blog e ler?

Um beijo.

Paula Raposo disse...

Toda a sensibilidade possível nesta chuva perto dos olhos...gostei muito. Beijinhos.

Anónimo disse...

As errâncias, os desalentos, a partilha das vivências, os desencontros... sempre "procurando uma margem, um horizonte..."
Graça, é um magnífico poema de emoções.
Um beijo.

Luis Eme disse...

Errâncias, dilúvios, parábolas...

e abraço para ti, Graça

Bloga Comigo disse...

Talvez tenha vindo para ficar se quiseres blogar comigo. Eu quero blogar contigo.
Bjos

São disse...

Á porta do futuro nos encontramos entre receosos e inquietos...
Que a tua se abra largamente!

© Maria Manuel disse...

as cidades constroem o seu futuro ignorando realidades do seu presente, os mendigos, os sem-abrigo, os que buscam apenas «uma sede», breves desejos amargados em lágrimas.

belo poema, forte e actual.

Anónimo disse...

três vezes subscrevo a isabel do piano :) querida graça, que bom poder tê-la aqui perto de nós :)

Anónimo disse...

Muito bonito.

São disse...

Vim só saber como estavas.
Abraços.

livia soares disse...

Muito bonito, Graça.
Um abraço.

Lia Noronha &Silvio Spersivo disse...

Graça: somos mesmo personagens...dessa história imprevisível que é a vida...
Abraços diretamente d meu Cotidiano que agradece a sua presença.

Pena disse...

Simpática Amiga:
De noite ou de dia a sua chuva de lágrimas encanta.
Que deslumbre de palavras versejadas e que vivem de um momentâneo doce sentimento.
Palavras que expressam um sentir, um ser, um instante seguido de instantes de desejo, carinho e delícia.
Excelente. Adorei!
Um Bem-Haja gigantesco de amizade e estima.
Beijinhos amigos de ternura.
Escreve majestosamente ao deslizar terno da pena. Com talento! Encanto tanto que enternece.

pena

Teresa Durães disse...

A noite engana muito. Os gestos nocturnos parecem reais mas o sol aparece e confunde-se tudo

Marinha de Allegue disse...

Fermoso título para un post tan sutíl!!!.

Apertas linda.
:)

Licínia Quitério disse...

Um choro belíssimo. Comovente.

Um beijo.

Graça Pires disse...

Gostei imenso das palavras de cada um de vocês. Bem-hajam. Um beijo a todos.