15.11.06

As papoilas secam-me nos olhos


Sem qualquer pudor, deixei a marca,
do meu andar apressado,
em todos os caminhos de esperas decisivas.
Algo envelheceu nos meus pés,
manchados pelo desacerto dos dias.
De tanto percorrer o chão da infância,
as minhas pálpebras encheram-se
da lucidez dos velhos.
Não creio que os dias se revezem,
inevitavelmente, iguais.
As papoilas secam-me nos olhos.
Sinal de sede, ou de um verão antigo
inquietando a boca ?


Graça Pires
De Uma certa forma de errância, 2003

1 comentário:

Alexandre Bonafim disse...

Graça, suas papoulas são a aparição do Tempo, do grande senhor Tempo, a guardar em si os risos de uma infância feita de sabedoria secular. Beijo.