26.2.07

Todas as noites me despeço de ti

Salvador Dali

Todas as noites me despeço de ti,
como se existisses nos meus gestos.
Construíste, pedra a pedra,
o circuito fechado de um pretexto ausente.
Agora, já não és senão o falso alarme do meu corpo.
Ocorrem-me, até, palavras de um sossego
de pétalas e penso no amor
como se de uma fraude se tratasse.
Sou o pão e o vinho num festim de contradições.
Tenho, no sangue, um ciúme liquefeito
que transtorna os caminhos de exígua claridade
onde as palavras perdem o sentido.


Graça Pires
De Labirintos, 1997

2 comentários:

Anónimo disse...

"o falso alarme do meu corpo". a presença permanente do outro em nós. muito bem visto. um beijinho.

Graça Pires disse...

Obrigada. Temos a nossa maneira de sentir as presenças e as ausências.
Um abraço.