2.2.09

Nocturno

Magritte

À noite vou por aí,
ociosamente.
Percorro um ritual lilás
feito de violetas de pedra
e traço cada pausa
no retorno da lua inicial.
Aqui a memória é lenta
como as angústias.
Muitas vezes vejo árvores
com frutos azuis,
ou animais em nudez perfeita
respirando o vento.
A escuridão é o subterfúgio
inesperado do coração
quando o olhar aquece
e o orvalho é de cetim.
Há máscaras de búzios e limos
na cara de quem passa.
Nas suas vozes ouço o itinerário
das manhãs siderais
e nasce nos meus passos
o rumo da via láctea.
Ninguém me conhece.
Venho do arco-íris
e trago nos dedos
o ângulo transparente da noite.

Graça Pires
De Poemas, 1990

51 comentários:

Hercília Fernandes disse...

"Venho do arco-íris
e trago nos dedos
o ângulo transparente da noite".

Lindíssimo fechamento, Graça!

Porém, todo o poema é uma belíssima orquestração de poesia, noturna e feminina.

Abraço lunar,

H.F.

maré disse...

Vou por aí
.
.
.
pautando os passos
no compasso respirado de uma lua inicial.
A memória é lenta de retornos
mas carrego nas mãos o orvalho marítimo da última onda.

_____

BELO, BELO, BELO...

e beijo-te Graça
devotada mente

O'Sanji disse...

e as letras inscrevem-se nas cores que empresto à noite.

Beijo

hfm disse...

Há momentos em que a felicidade é possível, nas pequenas e grandes coisas. Ler este poema, por exemplo.

Paula Raposo disse...

Tão perfeito de tão belo!!! Adorei! Muitos beijos, Graça.

isabel mendes ferreira disse...

e eu venho de dia....(para disfarçar a noite) inundar-me de luz!









sempre aqui.



sempre e sempre.


Graça..............tanto a agradecer.




beijo.

isabel mendes ferreira disse...

(devota. sim!)

Luis Eme disse...

é sempre inspirador passar aqui...

abraço Graça

Pedro S. Martins disse...

"A escuridão é o subterfúgio
inesperado do coração
quando o olhar aquece
e o orvalho é de cetim."


A verdade sem adereços.

Teresa Durães disse...

e nas mãos,um universo completo

Celina Rodrigues disse...

Com tanta cor só podia mesmo ter vindo do arco-íris.
Um beijinho

Anónimo disse...

"A escuridão é o subterfúgio inesperado do coração ..."

velado pela luz lunar!

Nilson Barcelli disse...

Excelente cara amiga.
Só faltou mesmo um nocturno do Chopin para sublinhar as tuas belas palavras.
Beijo.

jorge esteves disse...

Há um sortilégio sideral a escorrer pelo poema!...

abraços!

Adriana Riess Karnal disse...

o orvalho de cetim,. a escuridão e o arco íris, que belas imagens trazes a nós!Como sempre, adorei a poesia do teu íntimo.

Mara faturi disse...

Que poema mais belo,de imagens que brindam cores e explodem no arco-íris;)
"animais em nudez perfeita respirando o vento", lindo...perfeito ( minha gata Manu adora respirarr o vento)*
*estou te linkando novamente, acabei deletando todos os meus preferidos, qdo fui deletar um, rs,rs...
bjos

mariab disse...

como uma sinfonia nocturna. plena de beleza e harmonia.
beijos

Anónimo disse...

um poema pleno de imagens cromáticas, reflexos claros da alma!

Gosto muito do seu poema Graça, obrigada pelas visitas que me tem feito, um beijinho

José Ángel García Caballero disse...

a memória é sempre lenta, lentidão de lembranças com a que se costruem as cidades,
belas palavras,
um beijo

Bandida disse...

eu sei que vais. a noite é das insónias do vento que trespassa a nudez dos poetas. no escuro o poema é um milagre do sono. sempre.


um grande abraço, Graça!

Peter Pan disse...

Talentosa Amiga:
Alguém ou algo a inspirou. Um poema "Nocturno" poderoso. Incrível de pureza e beleza. Do fantástico mundo de sonhar dos poetas. Avassalador. Poderoso.
Sentimentos à flor da pele.
Lindo.Extraordinário.

...Sofro. Mas, …sou-lhes fiel...
Prometi-me.
Prometi-lhes.
A alegria. A Felicidade.
O entendimento de “serem”. Tento auxiliar. Ajudar.
Às vezes, faço-me surdo. Faço-me mudo. Não escuto. Não falo.
Sofro.
Também me arrelio. Disparo berros. Manifesto o meu desagrado.
Mas, tudo acaba. Rapidamente. Passa.
Esvaí-se. No exacto momento em que o faço...

(Extratos do Diário de um Professor Ignorado)


Perfeito "cantinho" numa pessoa perfeita! VOCÊ e AQUI!
Beijinhos de imensa amizade, respeito e estima.
Com cordialidade e estupefacção

pena/Peter Pan

Adorei o seu deslumbrante e terno Post! Votos gigantes de alegria e felicidade.

Anónimo disse...

A noite... os seus traços no rosto que a pressente, a memória como passos que ficam, o rumo...
Belíssimo!

Beijo

CNS disse...

Trazes as cores e a luz das palavras nas mãos

Mié disse...

... pura Luz aqui. sem deturpações nos relexos.

bebo-te.sempre.

obrigada.

beijo enorne

Anónimo disse...

o ângulo perfeito do poema :) um beijo, graça.

simplesmenteeu disse...

De mãos famintas..."venho (em busca...) do arco-íris"...
respiro o vento...
No "ângulo" mais escuro da noite, esvoaçam transparencias...
Então, "o orvalho é de cetim" e o olhar aveluda-se em voo, na pele que se oferece num arrepio lilás...

Obrigada. Tocantes palavras de beleza pura.
Beijo

Anónimo disse...

À noite a solidão é mais presente, mais sentida..."Ninguém me conhece"
As imagens poéticas são perfeitas e o final é sublime.
Beijo.

Anónimo disse...

às vezes esqueço-me que existo. palavras assim fazem-me acordar. obrigado.


Abraços d´ASSIMETRIA DO PERFEITO

adouro-te disse...

É na escuridão que possuímos ou somos possuídos com todas as cores...
Esses encontros com os desconhecidos...

o Reverso disse...

não sei, não sei de onde vim, mas goatava de ter vindo do arco-íris. e de poder passear, literalmente, na paisagem construída no teu poema.

JPD disse...

Belíssimo poema, Graça

(A noite é a rainha das ilusões)

Aquilo que editas é superlativo.

Bjs

isabel mendes ferreira disse...

vim...por aqui.no desamparo de uma luz que falta.



vim.

recolher-me. aqui.



beijo. imenso.

Licínia Quitério disse...

Trazes...mesmo. Nda mais a declarar.

Um beijinho, Graça.

O Profeta disse...

Que encanto...esta tua escrita...


Doce beijo

Mofina disse...

Como podem ser libertadoras estas fugas pela calada da noite!

Adorei.

simplesmenteeu disse...

Toco o fruto azul que se abandona... ao apetite do meu olhar...
Tão suave é o orvalho que sinto em sua pele que escondo em mim...a vontade de o beijar...

Volto para re.sentir a suavidade luminosa da palavra.
Para desejar uma tarde boa
deixar um obrigado e um Beijo

© Maria Manuel disse...

a noite, «subterfúgio
inesperado do coração
quando o olhar aquece
e o orvalho é de cetim.»

belas imagens!

um beijo!

AnaMar (pseudónimo) disse...

Sem palavras. Sublime.

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Há..., retenho , a anotação do que existe na deambulação...

beijo

__________ JRMARTO

Maria Clara disse...

Boa noite, Graça.

Belíssimo poema, repleto de boas imagens e sensações.

Abraços,

Maria Maria.

jugioli disse...

Graça, que poesia encantadora.
Uma melodia de cores.

JU

Benó disse...

Belo noturno, Graça. A noite é dos poetas e quando chega a madrugada há, realmente uma "nudez perfeita respirando o vento"-

Linda mensagem.

Um abraço forte.

De Amor e de Terra disse...

Parabéns Amiga, belíssimo!

Sigo no teu encalço, nessa rota de maravilha.

Beijos

Maria Mamede

pin gente disse...

belíssimo, bravo

sem mais palavras,
abraço-te
nesta noite
violeta

LM,paris disse...

Querida Graça, sempre este lento escoar da noite entre os seus dedos e as palavras que se dao.
Merci pour vos bons mots
" chez moi"...
é simplesmente lindo...parece que nos acolhe sem que haja mais nada a fazer senao ficar aqui a reler, aceitando esta sua noite.
Bjos LM
lidia

partilha de silêncios disse...

Lindo poema,remete para o mundo onírico.

bjs

Victor Oliveira Mateus disse...

Só tu mesmo... para estas imagens:
árvores com frutos azuis, etc. Ricas, muito ricas! Eu tb gostava de conseguir ver árvores com frutos azuis... Belíssima imagética, minha amiga!
Graça, um beijo e bom fim de semana.

Unknown disse...

Linda a tua linguagem, Graça.
Beijos.
Eduardo

Manuel Veiga disse...

a escuridão é subterfúgio. para quem, como tu, vê com olhos da sensibilidade e da beleza...

momento perfeito. de poesia.

beijos

Ailime disse...

Grande momento de poesia, este!
Divina inspiração.
Muitos parabéns!
Um beijo.

Leda Lucas disse...

Lindíssimas imagens (visual e verbal).

Viva para sempre
o odor femino
de relva
surpreso na noite.
Leda