Seleccionar o ângulo de um rosto, sem lhe macular a luz, como se, a meia voz, pudéssemos reter os múltiplos reflexos do júbilo e das mágoas.
28.11.06
Como se fosse uma dança
Como se fosse uma dança, um movimento de valsa,
tomo de assalto a idade do fascínio e dato, com ela,
a cartografia das noites para sempre adiadas.
Sedenta de outras luas, pinto os lábios de mel
e cola-se-me na boca um manifesto poético:
com gestos indizíveis, com mutismos excêntricos,
como se tivesse entre as unhas uma perversão qualquer,
a corromper a forma imprevista das palavras.
A íntima estratégia do olhar exibe, em meus lábios,
um silencioso desafio. Tenho a luz da manhã enrolada
nos olhos, um cheiro a rosmaninho à beira dos dedos
e um pássaro desvairado por dentro do peito.
Graça Pires
De Reino da lua, 2002
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1 comentário:
Querida Graça, mas que poema hein! Belíssimo! A escolha da imagem do Rodin foi perfeita. Há somente uma poeta portuguesa que me emociona tanto quanto você. A Sophia de Melo Breyner. Você é tão grande quanto ela.
Beijo.
Alexandre Bonafim.
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