Henri Cartier-Bresson
Como por aqui se afirma os rouxinóis saltitam
de árvore em árvore com medo da morte
dissimulada nos ramos das figueiras mais estéreis.
Persigno-me ajoelhada no restolho entretecido
pela meia-luz do poente.
A fonte que me atravessa a boca
confina, agora, com a mágoa das mulheres
que, à míngua de um abraço, envelheceram.
Graça Pires
de árvore em árvore com medo da morte
dissimulada nos ramos das figueiras mais estéreis.
Persigno-me ajoelhada no restolho entretecido
pela meia-luz do poente.
A fonte que me atravessa a boca
confina, agora, com a mágoa das mulheres
que, à míngua de um abraço, envelheceram.
Graça Pires
De Quando as estevas entaram no poema, 2005
36 comentários:
Os simulacros da morte, o ocaso, nós diante da vida e do tempo. Resta-nos somente a genuflexão ante este canto de rouxinol que é a sua poesia, Graça.
A identificação da figueira com uma espécie de maldição é signo presente na tradição. Os rouxinóis, esses, como sabem cantar, cantam, exorcizando a morte. Uma mulher reza ajoelhada nos restolhos. Os próprios restolhos, que são o que fica, após a colheita, significam aqui a solidão, o desamparo, o que restou...O sol, no poente, está a condizer. É um poema triste e direi de pinceçladas trágicas.Trágicas as mulheres confrontadas com a sua condição de verem o tempo ter passado sobre a idade fértil. A paisagem podia ser no Alentejo. Ou na Grécia do Zorba.Belo. Muito belo. Um beijo
EA
o tempo da solidão
Tu és escritora...e das boas...
Doce beijo
é sempre com grande prazer que te leio.
acho que aprendo sempre algo contigo.
fica um beijo
Dizes tanto em tão poucas (e lindas) palavras, Graça.
Absolutamente belo e comovente!
Associei este teu poema a certas pinturas da Graça Morais, de quem também gosto muito.
Beijos, amiga-
solidão, solitário, só.
Tens magia nas palavras. Isso é ser poeta. Gosto de te ler.
Beijinhos
O inexorável "voo" do tempo que, não alterando as contigências do quotidiano, sublinha a evolução das mesmas.
Escreves muito boa poesia.
Bj
Num lado os rouxinóis, no outro o
medo da morte e a esterilidade das
ávores... entre os dois pontos
as mulheres que envelhecem, ou seja, que passam do canto (como o rouxinol)para a mais absoluta esterilidade (a morte). Excelente poema! Muito bem conseguido, como é hábito!
Um beijo, Graça.
Bom dia Graça....por um abraço dava um salto....
________________. por este abraço salto os dias.
ressalvo.Os.
sempre a admirar a sua ESCRITA!
é verdade...
envelhece-se assim, com e sem poesia...
abraço Graça
(luis eme)
Como um rouxinol saltitão desejo um óptimo fim de semana vendo as árvores se despirem.
Um abraço.
"À míngua de um abraço".
Os rouxinóis e a luz do poente, sabem do longo tempo da espera, da mágoa e da solidão...
Poema muito belo!
Não é um poema macio, tudo nele se inclina ao fim e à amargura do que se deixou por fazer e em balanço final se revela demasiado central na vida para ter sido adiado.
A fotografia ilustra o poema com mão de mestre, o rosto das mulheres desfigurado pela maquilhagem e por uma espécie de avidez, o enquadramento, o preto e branco de Cartier-Bresson... Uma entrada excelente, Graça. E também gostei muito de ler alguns dos comentários aqui publicados.
UM beijo e um bom fim-de-semana
É um prazer ter acesso às suas belas palavras, dona Graça, e um orgulho saber que lê as minhas.
Obrigada pelo apoio, e pelos agradáveis dois dedos de conversa que tivemos oportunidade de trocar (experiência que espero repetir).
Beijinhos, e parabéns pelo dom da escrita.
envelhecem as mulheres
à mingua no restolho que ficou.
cinzas/ tempo
toda a velhice futura
um beijo.
maré
Graça,obrigada pelas tuas palavras. É verdade que o José é uma grande pessoa e um grande poeta. Eu agora estou mais perto de Portugal e da sua poesia do que antes. Vou ler o teu blog, acho vou encontrar um lugar muito habitável...
um beijo
Graça...tão bom re.encontrá-la....
mas tão bom mesmo!!!!!
________________dois beijos. o outro é para uma Pessoa que tb gostei muito de conhecer.
Obrigada Graça.
As imaxes do mestre, tenhen a capacidade de conmoverme e as túas palabras complementan...
Unha aperta.
:)
Querida Graça,
é lindo até às làgrimas.
Beijos carinhosos,
merci,
LM, Paris
Um estado de alma pesado numa poesia leve....com a pureza que a fortalece.
BFS
abraço
há dias Querida G. em que as suas palavras me "afundam" na generosa e doce compreensão dos afectos que se estabelecem para lá da "estrada".
abraço muito muito especial.
Vim deixar-te um beijinho e um abraço.
Bem hajas, amiga!
Grande poema onde ressalta a evidência do nosso entardecer...
Um beijo grande.
Como sempre, um poema muito tocante.
Boa semana, linda.
Não foram só mulheres que envelheceram assim, foram também muitos homens que, pela estúpida educação que nos deram, têm vergonha de o confessar.
Deixo um abraço, para que não envelheça.
E porque as suas palavras são demasiado valiosas e marcam quem as lê. Sentidas.
São mimos
os sonhos
dos jovens experientes
Belo
Eis aqui um baú de jade repleto de ouro poético. Belíssimo blog. Arte de primeira. Estou te linkando ao meu.
Beijo, Graça !!
..."a mágoa das mulheres... à mingua de um abraço". doem-(me) as "Mulheres de Atenas". assim tão sofridas.
... e no entanto tão "esperançosas"! por isso rezam.
muito belo
é. as mínguas dos abraços envelhecem_nos. e de que maneira.
Graça, tu entendes tão bem a alma feminina e a consagra divinamente em metáforas. Sempre perplexa com a tua poesia, sempre.
Sou muito feliz que tu existas para dar-me o prazer de te ler.
beijo grande
imagens de medo, solidão e proximidade de morte, neste teu belo poema.
um beijo, Graça.
Lindíssimas as tuas palavras! Um abraço que nos faz tanta falta!! Beijos.
Ninguem devia nunca de envelhecer...com falta de abraços.
Gostei muito Graça****
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