A pouco e pouco, aloja-se-me
no coração a cicatriz da espera.
Alheio-me da minha cronologia
Alheio-me da minha cronologia
porque o passado se tornou permanente.
Caminho tão perto do mar,
que Ulisses avalia a direcção
que Ulisses avalia a direcção
do vento pelos vestígios
do meu respirar, lento ou apressado.
do meu respirar, lento ou apressado.
De Uma certa forma de errância, 2003
28 comentários:
Uma nostálgica e delicada odisséia pela vida. Esse respirar parece mover primaveras.
Linda Amiga:
Adorei a sua genialidade poética, como sempre!
As palavras adquirem uma magia muito bela.
Poderia-se dizer: Penélope, a Fantástica!
É muito terna, quando diz, versejando lindamente:
"...Caminho tão perto do mar,
que Ulisses avalia a direcção
do vento pelos vestígios
do meu respirar, lento ou apressado..."
Profundo. Majestoso. Sensível. Belo.
Adorei imenso.
Parabéns sinceros.
Beijinhos repletos de encanto e estima que a respeita
pena
Bom, como sempre. E ainda por cima, referencial.
Bjs
porque o passado se tornou permanente...
maneira muito própria de escrever...
para ler e reflectir sem pressas...
beij
Tão belo e profundo esse respirar, como pista para os deuses, à beira-mar!
A tua linguagem poética é de diva, de mulher sublime, de estrela.
Contrdições? Sim, aparentemente: como liberta estás da cronologia, se presa ao passado estás?
Gosto do teu rimar, como do mar.
Beijo.
Eduardo
A cicatriz da espera não é fácil de atenuar.
Um poema genial.
Beijinhos
e foge no sentido contrario...
Esperar assim é terrível, essa "cicatriz", deixar o presente ser submergido por um passado que não regressará, ainda que Ulisses possa regressar. Muitas vezes pensei como teria sido a vida deles depois do regresso. As histórias terminam quando deviam começar.
Deixo duas frases da Ursula K. Le Guin, que me dizem muito e que o poema me fez lembrar: "A verdadeira viagem é o regresso"; "Podes sempre regressar a casa se entenderes que lar é um sítio onde nunca estiveste antes." Talvez Ulisses soubesse disso.
Um beijo, Graça, boa noite
intemporal. o teu poema...
Ulisses haveria de gostar. certamente. dessa espera presa na direcção do vento.
tanta beleza no teu "respirar". poético...
Bravo, Graça.
Sintética e lindamente o mito da fidelidade, da lealdade e da esperança fora aqui revelado.
E a mortalha pode ser tecida, em parte, à noite e à luz do dia, em parte, desmanchada, mantendo vivos os ideais perseguidos.
E, certamente, vestido ou não de mendigo, voltará Ulisses, na forma mais etérea e mais pura: a dos mesmos sentimentos.
Beijo grande.
Muito bonitos os poemas. Parabéns.
http://joaonorte.com
Querida Graça,
merci de votre petit mot,
on travaille fort...
Le long de la cicatrice le poème se brode seul,
il attend la nuit pour disparaître, laissant vides, la trace et ma volonté.
Ensemble, nous esperons le retour de l'épousé.
O seu poema pesa o espaço
de acolhimento dos que sofrem desse respirar, lento ou apressado...
Il est très beau votre poème.
un baiser de Paris.
LM
Não posso evitar a repetição: gostei!
Fica bem, Graça!
Íntima, sensível e inquietante é esta "cicatriz da espera"...
Beijo.
O correr do tempo, nostálgico e belo, no teu poema
um beijo
Sugiro que tente
uns passos por sobre o mar
Penélope--Ulisses e o encontro/desencontro de amores...
Uma avaliação de grande grau poético!
às vezes também me acontece, caminhar tão perto do mar...
e é delicioso, como são deliciosas as tuas palavras.
abraço Graça
Belo...Profundo...Melancólico....
Gosto de te ler...de te sentir :)
****
Poema que se faz e refaz. Na espera!
Um poema de amor sublime, pleno de intensidade e paixão!
Depois da cicatriz, um coração renovado, pronto a acolher Ulisses...que chegará por fim!
Um beijo…
O mar que tanto amamos e que tão belos poemas nos permite fazer.
Mil beijinhos
um tempo de espera, triste e apaixonado ao mesmo tempo... gostei muito dos últimos versos!
Beijo.
A cicatriz da espera......
Será que um dia desaparece?
Beijucas, querida poeta.
A espera, definitivamente, é capaz de desenhar em nós cicatrizes, marcadas a ferro e fogo.
grande beijo
Inspiradíssimo! Lindo poema... foto a condizer.
Obrigada, Graça.
Um beijo.
gosto sobretudo da espera. morrer à espera que se encham os olhos de água. talvez porque por entre olhares se rasgam algumas palavras ou porque as palavras rasgam alguns olhares. nunca percebi muito bem. às vezes deito-me a descobrir o céu, por entre as nuvens vão alguns pássaros, talbém eles rasgam com as asas o ar. é tudo tão perfeito aqui que nem parece que estou sentada ao contrário num mundo que está ao avesso.
espero na tarde um beijo a rasgar o tempo, as palavras podem ser mudas na casa que é feita da pele do meu corpo mas os silêncio alimentam-me bem.
traços de solidão que retiro de um de outro poema seu graça. confesso que venho cá às vezes de madrugada, hoje decidi-me vê-la à tarde e não pude deixar de ficar.
um beijo
deste
mar.
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