28.11.09

As flores tardias de maio


Obrigada, Maria Clarinda


Aqui, olhando as pessoas ao acaso,
vêm-me à lembrança aqueles dias
em que os nossos olhos se ajustavam
e tu lias, em voz alta, os autores
da nossa preferência.
Recordo isto, como um tempo
em que os pássaros vinham,
em grandes círculos, sobrevoar
a imprevisível alegria,
tecida por nossas mãos,
para iluminar, sobre a mesa,
as flores tardias de maio.


Graça Pires
De O silêncio: lugar habitado, 2009

22.11.09

Nada sei

Claude Simon
Nada sei da sedução da morte nos olhos
dos pássaros atingidos pelo trilho dos incêndios
no interior das searas.
Não sei que nome dar ao momento
exacto em que a luz pode ferir
a obscuridade da lua nova
dispersando as aves nocturnas.
Ignoro quais as palavras propícias
à vertigem das nuvens, em novembro,
quando as águas dos temporais
alagam os meus olhos.



Graça Pires
De O silêncio: lugar habitado, 2009


Agradeço, sensibilizada, a todas as amigas e amigos que estiveram na apresentação do meu livro e a todos os que desejaram estar e não puderam. Bem hajam!

7.11.09

Dois Convites

Para os que moram na Figueira da Foz, ou por perto:

Dia 12 de Novembro de 2009, às 18 horas, na Biblioteca Pública Municipal




Para os que moram em Lisboa, ou por perto:


Dia 21 de Novembro de 2009 pelas 17.30 na Livraria Trama
Rua São Filipe Nery, 25 B, Lisboa




Teria imenso gosto em que estivessem presentes no lançamento do meu novo livro de poesia:
O silêncio: lugar habitado.

1.11.09

Em sinal de luto

Ansel Adams

Conto, pelos dedos, o tempo de entardecer
cansaços. Um negativo de lembranças,
compulsivamente recortadas no coração,
transforma a brisa em rostos familiares.
Crava-se-me, na pele, um sangue-frio
de mortes solitárias e estremece-me
o corpo em sinal de luto. A noite cheira
a despojos de velhos monólogos.


Graça Pires
De Uma certa forma de errância, 2003