O passado dói como a dureza do mundo
João Rui de Sousa
Tenho saudades da tua voz,
desse rendilhado de sílabas
a desaguar lento no alvoroço
da tarde. Tenho saudades
da tua boca, onde eu, - náufrago
de antigas visões - todas
as noites ouvia a límpida melopeia
da ilha. Tenho saudades
das tuas mãos, sem convicções
fundeadas nas mais luminosas
águas. Tenho saudades
do ritual dos peixes, do rumor
inconsolado da brisa a soar
mansa no abandono dos búzios,
do emaranhado das algas
a envolver-nos a prontidão
dos passos. Tenho saudades
de mim nesses tempos,
quando não tinha saudades.
Victor Oliveira Mateus aqui
In: A irresistível voz de Ionatos. Fafe: Labirinto, 2009
desse rendilhado de sílabas
a desaguar lento no alvoroço
da tarde. Tenho saudades
da tua boca, onde eu, - náufrago
de antigas visões - todas
as noites ouvia a límpida melopeia
da ilha. Tenho saudades
das tuas mãos, sem convicções
fundeadas nas mais luminosas
águas. Tenho saudades
do ritual dos peixes, do rumor
inconsolado da brisa a soar
mansa no abandono dos búzios,
do emaranhado das algas
a envolver-nos a prontidão
dos passos. Tenho saudades
de mim nesses tempos,
quando não tinha saudades.
Victor Oliveira Mateus aqui
In: A irresistível voz de Ionatos. Fafe: Labirinto, 2009