Andy Warhol
Aprendi a dizer os números
quando era criança.
Como toda a gente.
Contava tudo: as pedras, os barcos,
os frutos, os degraus,
os pássaros, as pessoas.
Contava pelos dedos.
Do princípio ao fim.
Do fim para o princípio.
Mas, desde sempre, preferi
os números ímpares:
únicos, solitários, caprichosos.
Não, não é superstição.
Fascina-me aquela exactidão assimétrica
a corromper a ordem dupla.
Como se ficasse assim anulado
o intuito de atingir uma forma definitiva.
“Os números ímpares agradam
aos deuses”, terá dito virgílio.
Tão oculto, o valor simbólico da razão!
Graça Pires
De Uma claridade que cega, 2015
Graça Pires
De Uma claridade que cega, 2015